sexta-feira, outubro 31, 2008

Duas breves sugestões para uma Noite das Bruxas cinéfila


Primeiro, uma das maiores obras-primas de John Carpenter, incontornável neste dia do ano, para ver e rever pela enésima vez e continuar a ficar fascinado pelo modo como resiste ao tempo e permanece uma pura lição de cinema.

Depois, atrevo-me a dizê-lo, um dos melhores remakes do género, assinado por um dos nomes mais estimulantes do cinema de terror norte-americano contemporâneo que, correndo o maior dos riscos, não teve medo de dar a sua visão muito pessoal do original. Não o seguindo à risca, prestou-lhe a melhor das homenagens e, acima de tudo, ganhou essa autonomia que todo o remake deve ter em relação ao original.

Happy trick or treating!


quinta-feira, outubro 30, 2008

Revista da Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos online

Só há uns dias é que descobri que a Associação Portuguesa de Argumentistas e Dramaturgos, desde o início de Outubro, colocou online uma "e-magazine" com diversos artigos redigidos pelos seus sócios.

Neste conjunto de textos dedicados ao sempre intrigante e polémico tema "Ser Guionista em Portugal", há que destacar um perspicaz olhar sobre a situação do cinema português da autoria de Jorge Vaz Nande (com o sugestivo título "Devemos sempre olhar para a Nigéria"); uma divertida (e nem por isso pouco amarga) crónica da profissão escrita por Tiago Santos ("Call Girl"),  e, também, uma muito interessante entrevista a António Ferreira, o cineasta que escreveu e realizou esse delicioso retrato de uma família portuguesa em colapso chamado "Esquece Tudo o Que Te Disse". Há outros textos bem interessantes, mas deixo os links dos artigos citados para aguçar o apetite para o resto.

Num país onde a profissão de argumentista, para além de ser injustamente desvalorizada, parece dar novo sentido à expressão "trabalho intermitente" (a não ser, claro, que se esteja a escrever para telenovelas), é de louvar que a sua maior associação dê provas de dinamismo ao pedir aos seus sócios para reflectirem sobre o estado e a arte do seu ofício. A seguir atentamente.

segunda-feira, outubro 27, 2008

Elogio de "Mal Nascida"


Tenho estado para escrever aqui sobre "Mal Nascida", a mais recente longa-metragem de João Canijo estreada entre nós no início de Outubro num número bastante reduzido de salas e com menos "burburinho" crítico que a sua "prequela", "Noite Escura". Já passou uma semana desde que tive a oportunidade de o ver, mas tem sido difícil ordenar as ideias que o filme suscitou e colocá-las por escrito. Aqui vai uma tentativa...

Antes de começar, porém, devo avisar que este texto não é uma crítica nem uma análise da obra em questão. É, antes, um elogio ao que se fez neste filme: adaptando a história de Electra à nossa realidade contemporânea, Canijo transpôs a acção de uma tragédia grega para um cenário no interior de Portugal (esse país "de brandos costumes" onde "não se passa nada" e, por isso mesmo, todos são poetas...) arrebatando, no processo, uma história de um enorme folgo dramático com uma naturalidade que impressiona.

Ao contrário de outros cineastas portugueses, Canijo não filma as suas personagens "feias, porcas e más" como se estivesse do lado de fora de uma jaula do jardim zoológico a ver uma qualquer atracção exótica. Sabe que, no meio daquela rudeza, daquela má educação, estão seres humanos, pessoas colocadas numa situação extrema e cujas (re)acções têm tanto de revoltante como de triste e, não raras vezes, de comovente. Consequentemente, consegue mostrar que aquelas almas perdidas que habitam aquela aldeia aparentemente tão remota têm muito mais a ver connosco, espectadores sentados confortavelmente nas cadeiras da sala de cinema, do que poderíamos pensar. O fabuloso trabalho dos actores (do qual não apetece destacar ninguém, de tal forma Anabela Moreira, Fernando Luís, Márcia Breia e Gonçalo Waddington estão maravilhosamente à altura uns dos outros), o cuidado notório na caracterização do ambiente tanto a nível visual como sonoro e, claro, uma realização segura, tornam esta obra obrigatória no início deste Outono cinematográfico.

Não é um filme "bonito" - é um filme justo. Só por isso, merece toda a nossa atenção...

Reboot

Nada de justificações, nada de promessas. Refresque-se a máquina e venham os textos que vierem...