tag:blogger.com,1999:blog-75243312024-03-07T14:00:34.597+00:00CineArte"Film has the magic quality of being able to photograph thought"
- Nicholas Ray, in "I Was Interrupted"Unknownnoreply@blogger.comBlogger82125tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-84126228159715619312022-08-08T14:28:00.005+01:002022-08-08T14:33:06.489+01:00"A Mulher do Espião" (スパイの妻 - Supai no Tsuma, 2020) de Kiyoshi Kurosawa<p style="text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEghO6S0xQRA_w20_tdQ6uU8H3nsDkaqE5bqPSUI5d2_RyEULnmHp6yo5a_0FLqwx_BySpzgWEyrlTE9C2aaMqvn2GO4oD5W6po5BQVphoEGqB_605ao9_matkky5_xlPQrNuQaMDPwH9nADKXdunmkurX60-Q1lV8QZ6e4kw9qnuAEDBbpuLQ" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="1705" data-original-width="2560" height="361" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEghO6S0xQRA_w20_tdQ6uU8H3nsDkaqE5bqPSUI5d2_RyEULnmHp6yo5a_0FLqwx_BySpzgWEyrlTE9C2aaMqvn2GO4oD5W6po5BQVphoEGqB_605ao9_matkky5_xlPQrNuQaMDPwH9nADKXdunmkurX60-Q1lV8QZ6e4kw9qnuAEDBbpuLQ=w542-h361" width="542" /></a> </p><p style="text-align: justify;"><span> </span><span> </span>Por uma coincidência assaz oportuna, calhou que 77 anos após o hediondo atentado contra a humanidade que foi o lançamento da bomba atómica na cidade de Hiroshima estivesse em exibição em algumas salas de cinema portuguesas a longa-metragem “A Mulher do Espião” de Kiyoshi Kurosawa, autor de obras marcantes do cinema japonês contemporâneo como “Kairo”, “Cure” ou “Tokyo Sonata”. Trata-se de um telefilme de 2020 posteriormente ‘convertido’ ao grande ecrã que arrecadou o Leão de Prata para Melhor Realização no 77º Festival de Veneza e que conta com um argumento original escrito pelo próprio realizador em colaboração com Tadashi Nohara e Ryusuke Hamaguchi - sendo este último ex-aluno de Kurosawa e um nome que os cinéfilos certamente reconhecerão pela sua mui aplaudida adaptação e realização do filme “Drive My Car”.</p><div style="text-align: justify;"><div class="ecm0bbzt hv4rvrfc ihqw7lf3 dati1w0a" data-ad-comet-preview="message" data-ad-preview="message" id="jsc_c_9p"><div class="j83agx80 cbu4d94t ew0dbk1b irj2b8pg"><div class="qzhwtbm6 knvmm38d"><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql oi732d6d ik7dh3pa ht8s03o8 a8c37x1j fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em iv3no6db jq4qci2q a3bd9o3v b1v8xokw oo9gr5id hzawbc8m" dir="auto"></span><div style="text-align: justify;"><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql oi732d6d ik7dh3pa ht8s03o8 a8c37x1j fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em iv3no6db jq4qci2q a3bd9o3v b1v8xokw oo9gr5id hzawbc8m" dir="auto"><div class="cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql o9v6fnle ii04i59q"><div style="text-align: justify;"><span> <span> </span></span>Dizia que se trata de uma coincidência oportuna porque, não sendo um filme que aborde directamente o bombardeamento de Hiroshima (embora lhe faça uma referência nos momentos finais), mostra-nos uma faceta da história da Segunda Guerra Mundial que não é muito comum surgir retratada na ficção japonesa que de vez em quando chega aos nossos grandes e pequenos ecrãs: a da oposição interna ao governo nipónico durante os anos de ‘expansionismo’ do Império e da sua consequente aliança com o Eixo Italo-Alemão. Numa altura em que assistimos atónitos a uma guerra que nos convida a dividir o mundo em “bons” e “maus”, reduzindo populações inteiras de países ao estatuto único de “vítimas” ou “opressores” acríticos, a obra de Kiyoshi Kurosawa tem o grande mérito de nos mostrar que mesmo no seio de uma sociedade dirigida por uma ditadura nacionalista aparentemente consensual, há quem não consiga virar a cara à barbárie ou assistir passivamente à degradação do(s) outro(s); quem esteja disposto a arriscar a sua vida e a segurança daqueles que ama em nome de uma causa maior - e que, mesmo assim, não deixe de ser humano e, portanto, igualmente capaz de cometer actos tristemente deploráveis. As personagens desta história são tridimensionais: nem os seguidores do imperador Hirohito são todos monstros abomináveis, nem os cidadãos que resistem à deriva belicista um exemplo inatacável de bondade e altruísmo; todos têm os seus sonhos, desejos íntimos e frustrações pessoais, e é do choque desses elementos antagónicos que nasce o conflito que alimenta a história.</div><div style="text-align: justify;"> <span> </span></div><div style="text-align: justify;"><span><span> <span> </span></span></span>Cada twist narrativo (e há vários) é exemplarmente executado com uma credibilidade à prova de bala e uma eficácia ímpar. E se falta algum impacto dramático ao final da narrativa, tudo o que lhe precede é tão esplendorosamente dirigido e escrito que facilmente perdoamos esse pequeno passo menos bem dado. Atente-se, por exemplo, à magnífica interpretação de Yu Aoi ao longo de todo o filme, um prodigioso trabalho de construção de personagem que comove e surpreende a cada nova cena. Ou admire-se a falsa simplicidade da realização de Kurosawa, sempre atenta ao sub-texto de cada cena e ao pulsar íntimo das pessoas que filma.</div></div></span><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql oi732d6d ik7dh3pa ht8s03o8 a8c37x1j fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em iv3no6db jq4qci2q a3bd9o3v b1v8xokw oo9gr5id hzawbc8m" dir="auto"><div class="cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql o9v6fnle ii04i59q"><div style="text-align: left;"> </div></div></span><div style="text-align: justify;"><span class="d2edcug0 hpfvmrgz qv66sw1b c1et5uql oi732d6d ik7dh3pa ht8s03o8 a8c37x1j fe6kdd0r mau55g9w c8b282yb keod5gw0 nxhoafnm aigsh9s9 d3f4x2em iv3no6db jq4qci2q a3bd9o3v b1v8xokw oo9gr5id hzawbc8m" dir="auto"><div class="cxmmr5t8 oygrvhab hcukyx3x c1et5uql o9v6fnle ii04i59q"><div style="text-align: left;"><span> </span><span> </span><span> </span>Ver agora uma obra destas, ‘pintada’ em tons de cinza, poderá ser uma modesta mas sincera homenagem à memória das vítimas reais de um massacre causado por líderes de nações incapazes de ver além de uma doentia fantasia de domínio mundial. Até porque uma desgraça desta dimensão, ao contrário do que refere a célebre frase de Marx, ao repetir-se, nunca assumirá uma forma de farsa - mas apenas a de uma tragédia ainda maior.</div></div></span></div></div></div></div></div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-10531468953571907192017-05-21T18:41:00.001+01:002022-10-09T16:30:27.624+01:00Laura Palmer (não) morreu por nós, pecadores - crónica de um regresso a Twin Peaks.<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXN22ahGAWWUVLHpxs8jfF7fhnUSJDRcILLSXJPz0bEpxSjjaSVgaSaKiDNxPtyQQv5uoCDciOXM6SlP2P1yfu4uZ0W8JnCkVmyGSnJ2CqxAtUp5p5WCKCu4iFNqqiFefcTGKL/s1600/opening-montage-welcometotwinpeaks-com_.jpg"><img border="0" height="215" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXN22ahGAWWUVLHpxs8jfF7fhnUSJDRcILLSXJPz0bEpxSjjaSVgaSaKiDNxPtyQQv5uoCDciOXM6SlP2P1yfu4uZ0W8JnCkVmyGSnJ2CqxAtUp5p5WCKCu4iFNqqiFefcTGKL/s400/opening-montage-welcometotwinpeaks-com_.jpg" width="400" /></a> </span></div>
<br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">(aviso à navegação: o artigo que se segue contém alguns spoilers relativos às primeiras duas temporadas de “Twin Peaks”. Caso ainda não tenha assistido à série, há que proceder na leitura com algum cuidado…)</span><br />
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">É já hoje, dia 21 de Maio, que chega ao fim aquele que deve ser o </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">cliffhanger</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> mais longo da história da televisão: vinte e seis anos depois, finalmente teremos uma ideia do que aconteceu ao agente Dale Cooper após, aparentemente, ter sido possuído pelo demónio Bob numa passagem trepidante pela misteriosa Black Lodge quando o canal Showtime emitir o primeiro episódio da muito esperada terceira temporada de “Twin Peaks”, uma das séries de ficção mais míticas dos anos 90. Escrita pela duo David Lynch/Mark Frost, demiurgos e mentores do projecto original desde o primeiro dia, este novíssimo capítulo marcará não só o regresso das personagens e histórias que intrigaram gerações de espectadores como também o retorno ao pequeno ecrã de um dos realizadores de cinema mais emblemáticos das últimas três décadas, pouco depois deste ter declarado que não tenciona voltar a filmar para a tela grande. Por isso mesmo, vale a pena revisitarmos esta cidade ficcional onde já fomos muito felizes enquanto provamos uma incrível fatia de tarte de cereja, acompanhada de uma chávena de café escuro como o breu, ao som de uma banda-sonora etérea e inesquecível.</span></div>
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Génese de uma cidade onde ninguém é inocente.</span></span><br />
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Um pequeno preâmbulo impõe-se. Na segunda metade dos anos 80, David Lynch, realizador reputado por explorar os confins mais obscuros da psique humana em filmes narrativos pouco convencionais como “Eraserhead - No Céu Tudo é Perfeito” ou “O Homem Elefante”, encontrava-se em estado de graça devido ao recente êxito de público e crítica que foi “Veludo Azul”, filme que o reabilitou após o gigantesco flop comercial da sua adaptação cinematográfica do romance “Duna” de Frank Herbert. É então convidado pelo seu agente, Tony Krantz, a conhecer um curioso argumentista que também era seu agenciado. Tratava-se de Mark Frost, um dos guionistas que estivera na equipa de escrita da série “Hill Street Blues - A Balada de Hill Street” de Steven Bochco, um dos maiores e mais revolucionários marcos da ficção televisiva da década de 80. A empatia entre os dois foi clara e não demoraram muito a encontrar-se a trabalhar juntos na escrita de um guião para cinema. Nascia, assim, a empresa “Lynch/Frost Productions”.</span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
</div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWI4tNtIg64CNGv-EJZ81CalKNOPzj7yg5mQ0jFsQt8oYy99VgXwYs1e9-Mf4AWUyybBjbpVdSAzgeDBdqsLUeGGqSuwBGt8P8dtTL4CGOEN78yH1oNVARYY2BLddY4AJ4GJp4/s1600/TWIN-PEAKS-61-e1484068428895.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWI4tNtIg64CNGv-EJZ81CalKNOPzj7yg5mQ0jFsQt8oYy99VgXwYs1e9-Mf4AWUyybBjbpVdSAzgeDBdqsLUeGGqSuwBGt8P8dtTL4CGOEN78yH1oNVARYY2BLddY4AJ4GJp4/s400/TWIN-PEAKS-61-e1484068428895.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">David Lynch e Mark Frost.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Contudo, as suas primeiras tentativas de colaboração saíram largamente frustradas: “Venus Descending”, uma adaptação do livro “Godess” de Anthony Summers que contava os últimos meses da vida de Marilyn Monroe, foi rejeitado pelo estúdio que a iria produzir; “The Lemurians”, uma série de televisão sobre um par de detectives à caça de extraterrestres, não passou da sessão de </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">pitching</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> em que foi proposta à NBC, enquanto que a longa-metragem de comédia “One Saliva Bubble” com Steve Martin ficou por filmar pelo simples facto da produtora de Dino de Laurentiis, que estava encarregue do filme, ter tido o triste infortúnio de entrar em falência.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">O quadro não era propriamente animador mas Krantz insistiu que Frost e Lynch tentassem desenvolver um projecto para televisão. Nas conversas que iam tendo, os dois autores descobriram que tinham ambos passado a sua infância em cidades pequenas, e daí terá surgido a ideia de criar uma série desenrolada na </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">small town America</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> superficialmente pacata (mas interiormente repleta de tensões reprimidas) que ambos conheciam tão bem e que Lynch já começara a dissecar em “Blue Velvet”. O visionamento que os dois homens fizeram do filme “Peyton Place” de Mark Robson, outra obra sobre os segredos escondidos por debaixo de uma cidadezinha aparentemente pacata, revelou-se uma influência muito subtil, mas o momento Eureka deu-se durante uma conversa num café quando lhes apareceu a imagem do corpo de uma mulher embrulhado em plástico na margem de um rio. Estava lançada a semente que iria germinar na complexa teia de enredos e tramas passada na cidade fictícia de Twin Peaks.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">O plano, então, passou a ser o de escrever e produzir a meias um telefilme de 120 minutos que seria realizado com uma liberdade narrativa e formal muito maior do que a que era habitualmente concedida para uma produção de TV, criando um ambiente bem mais negro e bizarro do que era usual e filmando a história como se fosse uma obra para ser exibida no ecrã grande de uma sala de cinema. Tudo isto sem nunca responder à pergunta basilar de quem matou a rapariga. Assim, este telefilme serviria de episódio piloto de uma série de vários capítulos caso a sua continuidade fosse assegurada.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">A equipa Lynch-Frost teve a feliz pontaria de apresentar o projecto no local certo à hora certa e às pessoas certas: nessa altura, o canal de televisão hertziana ABC encontrava-se em último lugar das audiências das chamadas “Big 3” (designação informal do conjunto das três maiores emissoras de televisão em sinal aberto nos EUA, sendo as outras duas a NBC e a CBS) e os seus gestores estavam desesperados por encontrar um programa que invertesse a sua sorte. Robert Iger, um desses executivos, mostrou-se muito receptivo à proposta de Lynch e Frost e decidiu apostar todas as suas fichas no projecto, concedendo à dupla de autores um controlo criativo inédito: não só tiveram carta-branca para a escrita do argumento como também garantiram o direito de supervisionar todo o processo de produção e pós-produção. Estavam criadas as condições para dar vida à cidade de Twin Peaks. Após nove dias de escrita e vinte e um dias de rodagem, o piloto foi montado e posteriormente mostrado aos executivos da ABC, que prontamente deram a luz verde à encomenda de 7 episódios adicionais. É então reunida uma equipa de argumentistas e de realizadores que, sob a supervisão dos criadores da série, irão dar forma a cada episódio.</span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSVofk-vYBDPuISRMwxgyOXvkNlwhzJI_rfpMSLE_wNtllhvHsLc9GgZKMAiKybRnlgB9RZwVwprRIjAjtJaJh7IHqhX4pNsxWyzJ6biOAttL2jv_o8YUYlbN3UVQYVmRBLwWL/s1600/DallasLogo.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSVofk-vYBDPuISRMwxgyOXvkNlwhzJI_rfpMSLE_wNtllhvHsLc9GgZKMAiKybRnlgB9RZwVwprRIjAjtJaJh7IHqhX4pNsxWyzJ6biOAttL2jv_o8YUYlbN3UVQYVmRBLwWL/s400/DallasLogo.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Imagem do genérico da série "Dallas".</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Convém ter uma noção de o que era o panorama televisivo em que surgiu “Twin Peaks” para melhor se perceber as razões porque teve um enorme impacto na paisagem audiovisual dos Estados Unidos (e do mundo) digno do avistamento de um OVNI. No final dos anos 80/início dos anos 90, a série de ficção média estava muito longe da sofisticação estética que o formato adquiriu ao longo das décadas seguintes. Basta constatar que o maior fenómeno popular da época era uma </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">soap opera</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> disfarçada de série semanal de longa duração que dava pelo nome de “Dallas”, e nela podíamos assistir às tricas e intrigas entre duas famílias texanas ligadas à exploração de petróleo. Cheia de reviravoltas mirabolantes com amor, sexo (implícito) e traição à mistura, a série atingiu o seu apogeu de popularidade quando uma das suas personagens principais foi misteriosamente assassinada e milhões de espectadores ficaram durante semanas a questionar-se “quem alvejou o JR?”. É, portanto, no meio de grelhas de programação alimentadas à base de seriados melodramáticos, séries policiais competentes mas pouco imaginativas, uma ou outra antologia de histórias de terror ou ficção-científica, muitas sitcoms de riso enlatado gravadas em suporte multi-câmara </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">live-on-tape</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> e várias novelas do horário da manhã/tarde que acabavam ou se eternizavam ao gosto de executivos reféns dos níveis de audiência registados pelos audímetros da Nielsen, que surge o meteoro criado por Lynch e Frost.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Ainda antes de ter estreado, esta aventura de David Lynch no reino da caixa que mudou o mundo foi considerada uma pequena ousadia: por regra não escrita, nos Estados Unidos os mundos do cinema e da televisão nunca ou raramente se misturavam, sendo o segundo visto como uma espécie de segunda divisão do primeiro, apesar de cineastas como Alfred Hitchcock ou (a nível internacional) Roberto Rossellini e Krzysztof Kieślowski já terem explorado as possibilidades artísticas do pequeno ecrã com resultados francamente estimulantes. Lynch era um outsider que confessava só ter visto uns poucos episódios de “Perry Mason” e, além do mais, era conhecido pelo seu gosto experimentalista, algo considerado pouco passível de ser adaptado aos constrangimentos comerciais da televisão. Nesse sentido, Mark Frost terá sido decisivo para habituar o autor de “Eraserhead” às regras de formatação de uma série, criando um equilíbrio notável entre uma narração escorreita e o pendor para o (sur)realismo mágico.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt;">
<span style="font-size: large;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Um sítio maravilhoso e estranho.</span></span><br />
<span style="font-size: large;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> </span></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiU8Y0bQLBB0xSkybutc2LookzGsRG1qXRc8zzNlRJ4m-15pgZfNVNcUU2YAPhdUhvtVVfeQtmEhg8l6q7C4c-FGzd3onslr_aFBMJ8yGUkuQhpTf3g5eKys_UluWg4Rbcao9oa/s1600/latest.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiU8Y0bQLBB0xSkybutc2LookzGsRG1qXRc8zzNlRJ4m-15pgZfNVNcUU2YAPhdUhvtVVfeQtmEhg8l6q7C4c-FGzd3onslr_aFBMJ8yGUkuQhpTf3g5eKys_UluWg4Rbcao9oa/s400/latest.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Laura Palmer (Sheryl Lee) aparece assassinada logo no primeiro episódio.</td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Como o título anuncia, esta história tem lugar em Twin Peaks, cidade situada no Noroeste dos Estados Unidos. Laura Palmer, uma adolescente bela, extremamente popular e muito reputada, é encontrada morta ‘embrulhada em plástico’ à beira-rio. O assassinato manda ondas de choque por toda a comunidade e ninguém parece conseguir entender o motivo do crime.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Dale Cooper, um agente do FBI deliciosamente excêntrico, é encarregado de investigar o crime juntamente com o xerife local, Harry S. Truman. No decorrer da investigação ficamos a perceber que a vítima não era o modelo de virtude que toda a gente julgava, levando uma vida dupla numa cidade onde se escondem muitos segredos que são uma espécie de altar ao lado mais negro da alma humana: há abuso doméstico e adultério, assassinos em série, passagens secretas, incesto, prostituição juvenil, tráfico de droga internacional, sociedades secretas, triângulos amorosos, amores frustrados, conspirações, misticismo, espionagem industrial, pessoas supostamente mortas que regressam para exercer vingança, complôs governamentais, vilões </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">over-the-top</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">, etc. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Se isto tudo faz lembrar a típica narrativa de uma telenovela levada ao seu máximo exagero, não é por acaso: “Twin Peaks” usa desavergonhadamente a estrutura e as convenções da </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">soap opera</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> americana, subvertendo-as constantemente e usando cada clichê a seu favor. Isto porque, na aparente banalidade da história, irrompem elementos absolutamente absurdos que a tornam única: o agente Cooper inspira-se no conteúdo dos seus sonhos para desvendar o mistério e tem visões de um gigante que lhe fornece pistas fundamentais, há uma senhora que carrega um tronco de madeira que lhe conta segredos, um anão críptico que fala em </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">reverse</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> e dança num local para além do tempo e do espaço onde convivem misteriosas forças possivelmente sobrenaturais, etc. A justaposição improvável de momentos de melodrama de faca e alguidar com comédia </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">nonsense</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> e cenas de terror genuinamente assustadoras é executada com uma mestria orgânica e muito cativante. E, no meio da intriga policial, surge um comovente retrato do quotidiano da pequena cidade americana: Lynch e Frost têm um genuíno amor pelas suas personagens, cada uma com direito ao seu próprio arco narrativo, e o carismático elenco de actores reunidos para a ocasião confere-lhes uma existência singular. Há também uma bela ode aos pequenos prazeres do dia-a-dia - veja-se o quase fetichismo no aparecimento recorrente de donuts, tartes de cereja e café. É difícil ver um episódio sem ficar com vontade de provar alguma destas coisas… </span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidB_KJnUdwAJ_Vg-25yUEDEu76ei8mqZsTX0Fp40jfi1EYaSBbHzmXgYOQlMDJXx3LysNun5CTc9eOOf9aQUGGQ4wYdQmuJEsk8SoFQRq_M0Twy858kGx-YpGYHnXrh1sZcxvB/s1600/f970c6d55bcef4f18ab95165c6037a6b.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidB_KJnUdwAJ_Vg-25yUEDEu76ei8mqZsTX0Fp40jfi1EYaSBbHzmXgYOQlMDJXx3LysNun5CTc9eOOf9aQUGGQ4wYdQmuJEsk8SoFQRq_M0Twy858kGx-YpGYHnXrh1sZcxvB/s400/f970c6d55bcef4f18ab95165c6037a6b.jpg" width="347" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Audrey Horne (Sherilyn Fenn) observa o agente Dale Cooper (Kyle MacLachlan)</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Apesar de ser escrito e realizado a várias mãos, há um cuidado de </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">mise-en-scéne</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> e fotografia que percorre toda a primeira temporada (e boa parte da segunda) e lhe assegura uma média de qualidade bastante elevada, embora não haja dúvida de que são os episódios realizados por David Lynch que mais chamam a atenção: algumas das melhores sequências, como </span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=5TkHDAygVbs" style="text-decoration: none;"><span style="background-color: transparent; color: #1155cc; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: underline; vertical-align: baseline;">o assassinato de Maddy</span></a><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">, são uma autêntica </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">masterclass</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> de como realizar uma cena de terror. E, claro, não poderíamos esquecer a incrível música de Angelo Badalamenti, com </span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=pXrjMaVoTy0" style="text-decoration: none;"><span style="background-color: transparent; color: #1155cc; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: underline; vertical-align: baseline;">aquele mítico tema de abertura</span></a><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> tão ou até mais emblemático que a série em si a abrir cada episódio e a estabelecer o ambiente desde o primeiro fotograma.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Dizer que o êxito do episódio piloto excedeu largamente as expectativas mais optimistas é pecar por defeito. Frente a frente com a sitcom “Cheers, Aquele Bar” na NBC, o primeiro capítulo de “Twin Peaks” registou níveis de audiência dignos da emissão do Super Bowl e no dia seguinte a pergunta “quem matou Laura Palmer?” foi o tópico de conversa em todas as pausas para café nos EUA. Isto sem referir a entusiasta aclamação da crítica especializada. Nascia assim um fenómeno cultural que não tardou a difundir-se pelo globo, alcançando níveis de popularidade espantosos na Europa e no Japão (onde, aliás, o agente Dale Cooper protagonizou </span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=X2j2-1V3Vw8" style="text-decoration: none;"><span style="background-color: transparent; color: #1155cc; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: underline; vertical-align: baseline;">uma divertida série de anúncios publicitários</span></a><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> realizados pelo próprio David Lynch para a marca de café Georgia) e ganhando o direito a </span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=gTjJcrDoxzw" style="text-decoration: none;"><span style="background-color: transparent; color: #1155cc; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: underline; vertical-align: baseline;">uma paródia no programa Saturday Night Live</span></a><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Em Portugal, “Twin Peaks” foi primeiramente exibido no início da década de 90 no Canal 1 da RTP em pleno horário nobre de quinta-feira, tal como no seu país de origem. Pouco tempo depois, a versão europeia do episódio piloto (com um final alternativo feito especialmente para que a narrativa do telefilme fosse auto-conclusiva) foi lançado em VHS no mercado de vídeo português pela Warner Home Video com o título “Calma Assassina”. A obra ganhou um segundo fôlego quando foi reposta enquanto série de culto na SIC Radical na segunda metade de 2003, permitindo que toda uma nova geração conhecesse a cidade onde as corujas não são o que parecem. Alguns anos mais tarde, a primeira temporada foi editada em DVD pela Lusomundo Audiovisuais, mas a segunda nunca chegou a solo luso.*</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Graças ao êxito da primeira temporada, “Twin Peaks” acabou por ganhar as dimensões de um verdadeiro projecto transmedia, com a narrativa a expandir-se para outros suportes além da televisão. Exemplos disso são o audiobook “Diane… The Twin Peaks Tapes of Agent Cooper”, uma compilação narrada pelo actor Kyle MacLachlan das várias gravações de áudio feitas pelo agente Cooper ao longo das suas investigações e, também, o livro “O Diário Secreto de Laura Palmer”, publicado com vista a relatar vários episódios da vida da personagem que nos aparece assassinada logo no primeiro episódio. Escrito pela filha do realizador da série, Jennifer Lynch, então com 22 anos, o romance não se limita a ser um </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">‘spin-off’</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> descartável, dando-nos a conhecer muito melhor a personagem de Laura Palmer e diversos pormenores da história a que nunca tivemos acesso durante os 29 episódios que foram para o ar. Mais recentemente, Mark Frost publicou “A História Secreta de Twin Peaks”, um romance epistolar que explora de forma aprofundada o passado da cidade e as origens dos seus habitantes. Ou seja, estes objectos derivados não se limitam a complementar a narrativa do original: completam-na.</span></div>
<br />
<span style="font-size: large;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Do sonho ao pesadelo na Black Lodge.</span></span><br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> </span><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuZSoQEXAl3QwMZO-oSFEjajvoLfd5X4qkzTZRDVnZkjWCvBe6PZORZ31qTC-WeUJJM_8c21mGYCFGXfe6PVozGSC_Ga0fQqzFgXMBj7HXoAswnQZBRxiiFOTmrKoGEWc_vDtN/s1600/4b31d750e87f3f54e94b695d5d2285dfc4a1e0910abb965d422c28fcdfe45eb6.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuZSoQEXAl3QwMZO-oSFEjajvoLfd5X4qkzTZRDVnZkjWCvBe6PZORZ31qTC-WeUJJM_8c21mGYCFGXfe6PVozGSC_Ga0fQqzFgXMBj7HXoAswnQZBRxiiFOTmrKoGEWc_vDtN/s400/4b31d750e87f3f54e94b695d5d2285dfc4a1e0910abb965d422c28fcdfe45eb6.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">A última imagem da série: Cooper vê a imagem de Bob (Frank Silva) no espelho e ri loucamente.</td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><span id="docs-internal-guid-e43cfde3-2c05-f07e-e609-0e3be06ec8a9" style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Se a primeira temporada foi um sucesso inegável a todos os níveis, o mesmo não se pode dizer da segunda fornada de episódios. Após um arranque muito forte que culmina na revelação da identidade do assassino de Laura Palmer (num conjunto de episódios que é um </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">tour-de-force</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> de realização executado por Lynch), a equipa de guionistas deparou-se com o problema de ter de dar continuação a uma história cujo principal mistério fora efectivamente resolvido. Apesar de continuarem a supervisionar a direcção da série, Lynch e Frost partiram para outros projectos (um dos quais, o filme “Wild at Heart - Coração Selvagem”, valeu a Lynch a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes de 1990) e pareceram desinteressar-se da sua criação. Entregues à sua sorte, os argumentistas de serviço optaram por concluir a trama do tráfico de droga na fronteira com o Canadá e introduzir uma nova </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">storyline</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> envolvendo o macabro William Erle, um antagonista extravagante saído do passado do agente Cooper. Contudo, à falta de um gancho narrativo empolgante ao nível do da primeira temporada, os guionistas depositaram demasiada confiança no charme das suas personagens enquanto pólo de atracção, criando situações rocambolescas cada vez mais forçadas e menos originais, novos </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">subplots</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> que foram aparecendo e desaparecendo sem deixar grande marca e introduzindo duas novas personagens unicamente para servir de </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">love interest</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> a dois membros do elenco regular por motivos de bastidores que nada tinham a ver com a lógica da série.</span></span><br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"></span>Sem um mistério forte que as segurasse, as audiências foram caindo a cada nova semana. Mas o verdadeiro golpe de morte terá sido dado quando a ABC, desiludida com os números decrescentes de Twin Peaks, decidiu trocar o dia e o horário de exibição da série de quinta-feira para sábado à noite, o que só fez com que os espectadores que ainda se mantinham fidelizados se perdessem definitivamente. Nem </span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=zN0x9OEdBXA" style="text-decoration: none;"><span style="background-color: transparent; color: #1155cc; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: underline; vertical-align: baseline;">uma hilariante campanha publicitária auto-irónica</span></a><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> conseguiu impôr o novo horário que, ainda por cima, resultou no ocasional adiamento da transmissão dos episódios graças aos boletins noticiosos de última hora resultantes dos acontecimentos imprevisíveis da Guerra do Golfo. Quando a série </span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=imeELH-SUp8" style="text-decoration: none;"><span style="background-color: transparent; color: #1155cc; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: underline; vertical-align: baseline;">voltou ao seu lugar original na programação nocturna de quinta-feira</span></a><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">, era já tarde demais para impedir o seu inevitável cancelamento.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Percebendo a gravidade da situação, Lynch e Frost regressaram em força ao leme dos últimos capítulos da segunda temporada. O derradeiro episódio, em particular, é um caleidoscópio Lynchiano onde qualquer convenção narrativa é mandada às urtigas em nome de uma montanha russa emocional que fecha com o tal </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">cliffhanger</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> a que aludimos no início deste texto. Uma derradeira tentativa que se revelou infrutífera, pois a série foi primeiramente colocada em ‘pausa por tempo indeterminado’ pela ABC e, posteriormente, cancelada sem pompa nem circunstância.</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Reviver o passado em Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer.</span></span></div>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTrumlgr6RA8k2OJy-HFlQJeRLFOKePuUPx26vDiH3-hVNo9qpPsfBz0qDXY0oQv5esZYtaUUQYGMSqGy8Zpgw8JQ_b5C9blro2K0DaaJQSWfO5eEbNFvjDO_YWDkMhwKWym8R/s1600/Twin+Peaks+-+3.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTrumlgr6RA8k2OJy-HFlQJeRLFOKePuUPx26vDiH3-hVNo9qpPsfBz0qDXY0oQv5esZYtaUUQYGMSqGy8Zpgw8JQ_b5C9blro2K0DaaJQSWfO5eEbNFvjDO_YWDkMhwKWym8R/s400/Twin+Peaks+-+3.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Imagem promocional do filme "Twin Peaks - Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer"</td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<br />
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Terminada esta aventura televisiva, David Lynch e Mark Frost trabalharam (sem grande sucesso) noutros projectos para o pequeno ecrã, mas o fantasma de Laura Palmer continuava a pairar nas suas mentes. Lynch, especificamente, sentia que ainda havia muito para contar, e pouco depois do último episódio da série ir para o ar foi feito o anúncio de que a cidade seria revisitada numa prequela feita especialmente para o cinema. </span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Esta longa-metragem viria a chamar-se “Twin Peaks - Fire Walk With Me”, sendo o seu título em Portugal “Twin Peaks - Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer”. Escrito a quatro mãos por David Lynch e Robert Engels (um dos membros da equipa de argumentistas da série), o filme relata os acontecimentos da última semana da vida de Laura, dando-nos a conhecer uma jovem mulher submergida numa existência esmagada pela dependência de cocaína e pelo abuso sexual recorrente perpetrado pelo misterioso Bob, cuja verdadeira identidade é a mais trágica das revelações. O filme abre com a imagem de uma televisão repleta de estática a ser destruída por um machado, o que muitos interpretaram como sendo um grito de libertação das restrições televisivas pela parte do realizador. De facto, o filme vai bem mais longe do que a série no que toca não só à exibição de nudez e violência como na sua construção formal, muito mais elíptica, onírica e surreal. A imagética é frequentemente perturbadora, com a banda-sonora (desenhada pelo próprio David Lynch) a gerar um sentimento geral de desconforto que se mantém quase constante ao longo das duas horas de duração da película, clima de angústia que é ampliado pela cuidadosa composição musical do sempre brilhante Badalamenti. É neste palco bizarro que brilham dois grandes desempenhos - o de Sheryl Lee, finalmente livre para encarnar uma Laura Palmer que até aí primava pela sua ausência, e o de Ray Wise no complicadíssimo papel de Leland Palmer, pai da protagonista.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Apesar do esforço artístico demonstrado, a estreia do filme no Festival de Cannes de 1992 foi uma amarga desilusão, com a generalidade de crítica a mostrar-se bastante adversa quando apenas dois anos antes aplaudira entusiasticamente “Wild at Heart”. Aquando do seu lançamento comercial nas salas, o filme também não conquistou a simpatia do público, que lhe virou as costas. Esta reacção tépida à fita não impediu que, com o passar do tempo, ganhasse uma aura de filme de culto e viesse a ser reavaliada de forma muito positiva no contexto da obra de Lynch. Mas parecia ser o fim definitivo da história. Até que...</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 700; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Para além da nostalgia.</span></span></div>
<br />
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL4FhUQ2X3GElVERrSTzzdulVwEPlJ6rnXzn2O9_ZJYmOch9abgB36I_FuGbBlG-rH98BffkqtUbyO8VtbIN3D3Klp2Tl__HoCY0d8e2jcwzSKdhW7XlP4Zlbg4VqZls7Bz-cK/s1600/Twin_Peaks_2017_Poster.jpg" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgL4FhUQ2X3GElVERrSTzzdulVwEPlJ6rnXzn2O9_ZJYmOch9abgB36I_FuGbBlG-rH98BffkqtUbyO8VtbIN3D3Klp2Tl__HoCY0d8e2jcwzSKdhW7XlP4Zlbg4VqZls7Bz-cK/s400/Twin_Peaks_2017_Poster.jpg" width="293" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Poster da nova temporada de Twin Peaks.</td></tr>
</tbody></table>
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">… em Outubro de 2014, o canal de televisão por subscrição Showtime anunciou que chegara a acordo com David Lynch e Mark Frost para a produção de uma terceira temporada de “Twin Peaks”, com os dois criadores da série de novo aos comandos dos destinos dos habitantes daquela cidade. Apesar de alguns percalços pelo caminho que quase resultaram na saída de Lynch do projecto devido a restrições orçamentais, a produção avançou e totalizou 18 episódios. Pouco se conhece do enredo da nova temporada, sabendo-se apenas que terá lugar 25 anos após os acontecimentos do último capítulo; que boa parte do elenco original regressará ao lado de um conjunto de novos actores, e que o insubstituível Angelo Badalamenti continuará a preencher-nos os sonhos (e pesadelos) com as suas composições musicais.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">E aqui começam as interrogações. Nunca é demais sublinhar a importância de “Twin Peaks” na evolução da ficção televisiva: é muito pouco provável que séries como “Ficheiros Secretos”, “Sete Palmos de Terra” ou “Breaking Bad” tivessem existido nos moldes em que foram transmitidas sem que Lynch e Frost tivessem aberto caminho primeiro. Porém, se ninguém questiona o seu lugar na história, a verdade é que a televisão mudou muito desde a noite em que o episódio 30 foi para o ar pela primeira vez. A imposição da TV por cabo/internet paga por subscrição veio conferir toda uma nova liberdade criativa que seria impossível na tradicional televisão de sinal aberto dos anos 90, não só no que toca à exibição de conteúdos mais violentos ou sexuais como, também, na própria construção narrativa, visto que, no universo da </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">pay-tv</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">, não existe o constrangimento de escrever as cenas do guião de modo a que haja um intervalo para publicidade a cada dez minutos. A proliferação de enredos cada vez mais complexos, personagens muito menos estereotipadas e a predominância de um um ponto de vista autoral ancorado não no realizador mas no argumentista-chefe que é o </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">showrunner</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> são apenas algumas das características de uma série típica produzida em 2017. Se as </span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">soap operas</span><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> continuam por aí, são muito menos relevantes nestes dias em que o mundo anseia por saber o que irá acontecer no novo capítulo de “Game of Thrones”. E há razões legítimas para preocupação quando sabemos que algumas séries de culto do século passado que ressuscitaram nos últimos anos tiveram uma recepção bastante dividida - atente-se aos casos dos regressos de “Ficheiros Secretos” e “Dragon Ball Super” para ver que não é tarefa simples voltar a universos que em tempos nos deram muitas alegrias.</span></div>
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">Ainda assim, é impossível conter o entusiasmo que esta nova temporada desperta, e fazemos figas para que seja um puro prazer revisitar personagens que nos são tão familiares como velhos amigos. Sublinhe-se um derradeiro elemento de esperança: ao contrário das temporadas anteriores, David Lynch irá realizar todos os 18 episódios desta nova fornada. E Lynch, como sabemos, tem um talento inato para nos surpreender…</span></div>
<br />
<div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;">
<span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">O primeiro episódio de “Twin Peaks” vai para o ar em Portugal no dia 28 de Maio às 22h 00m no canal TVSéries, uma semana depois de estrear nos EUA.</span></div><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;"> </span></div><div dir="ltr" style="line-height: 1.38; margin-bottom: 0pt; margin-top: 0pt; text-align: justify; text-indent: 36pt;"><span style="background-color: transparent; color: black; font-family: "arial"; font-size: 11pt; font-style: italic; font-variant: normal; font-weight: 400; text-decoration: none; vertical-align: baseline;">* - Adenda acrescentada a 09/10/22: a segunda série chegou a ser efectivamente editada em DVD em Portugal pela Paramount <a href="https://www.fnac.pt/Twin-Peaks-2%C2%AA-Temporada-DVD-Kyle-MacLachlan-DVD-Zona-2/a1397854">como se pode comprovar neste link</a>, porém, tal só sucedeu após a redacção deste artigo, provavelmente durante a exibição da terceira temporada. Em todo o caso, e infelizmente, esta box encontra-se actualmente fora de circulação. Porém, à data da escrita desta adenda, as três temporadas da série podem ser visionadas na íntegra em streaming na <a href="https://play.hbomax.com/">HBOMax</a>.<br /></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-68199364755887222272012-08-10T03:04:00.000+01:002012-08-10T03:04:12.895+01:00Descoberto nos saldos: "Uma Mulher Para Dois" de Ernst Lubitsch<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"><a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Ernst_Lubitsch">Ernst Lubitsch</a> é um daqueles cineastas geniais cuja obra merecia muito mais
destaque - "<a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Design_for_Living_%28film%29">Design for Living</a>", uma magnífica pérola intitulada "<a href="http://www.imdb.com/title/tt0023940/">Uma Mulher Para Dois</a>" no
mercado luso, está à venda na <a href="http://www.fnac.pt/">FNAC</a> pela módica quantia de 5 euros. E se não acreditam que
vale bem esses antigos mil escudos, vejam a abertura do filme: parece uma lição de como construir uma cena reduzindo o diálogo ao mínimo - neste caso, a um conjunto de escassos diálogos em francês manhoso que é dificilmente perceptível pelo espectador sem o auxílio de umas esclarecedoras legendas.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/MOoBn7XagSg?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-19128060139339444922012-03-09T21:07:00.002+00:002012-03-09T21:10:43.113+00:00O Último dos Projeccionistas<div style="text-align: justify;">Numa altura em que a <a href="http://www.tobis.pt/">Tobis</a> anuncia o fim do seu serviço de revelação de película, o <a href="http://www.facebook.com/inferno.canalq">Inferno</a> foi entrevistar "O Último dos Projeccionistas". Uma reportagem de Helder Gomes com imagem de David Neto, montagem de Ricardo Gonçalves e pós-produção áudio de Pedro Torres.</div><br /><embed src="http://rd3.videos.sapo.pt/play?file=http://rd3.videos.sapo.pt/PnBzL2sf6ALZTtzZPJ3o/mov/1" type="application/x-shockwave-flash" width="410" height="281" allowfullscreen="true"></embed>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-72555214709436141492010-03-08T21:27:00.006+00:002010-03-09T00:30:17.905+00:00Tarde e a más horas - The 2010 Oscars in a nutshell:<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif;color:#333333;">Vitória completamente merecida de "The Hurt Locker" (estava à espera que ganhasse o Avatar por ter trazido muitos espectadores de volta às salas de cinema, mas a Academia conseguiu ver para além dos números), Kathryn Bigelow a receber um prémio justíssimo (há dúvidas de que é uma excelente realizadora? Vejam "Near Dark"...) e a fazer história no processo. "Up In the Air" merecia prémios e não os teve, Tarantino ficou mal de mãos a abanar mas viu "o seu" genial Christoph Waltz confirmar as expectativas. De resto, foi uma cerimónia algo aborrecida, com uns bons números de Steve Martin & Alec Baldwin mas sem a mais pequena centésima de "inovação" que tanto se prometeu - a não ser que o ritmo cada vez mais alucinante a que eram entregues estatuetas fosse o tal aspecto revolucionário que era prometido! Pela minha parte, e pela 1ª vez na minha história de espectador dos Oscars, acabei por adormecer a meio...</span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif;color:#333333;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family:'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif;color:#333333;">P.S. - Era indecente esquecer isto: a homenagem a John Hughes foi um dos pontos altos da cerimónia, e foi espantoso ver tanta gente "lançada" pelo autor do "Breakfast Club" junta no palco a prestar o seu tributo ao realizador. É a prova de que a Academia não precisa de grandes números de music-hall para oferecer-nos um momento simples e bonito.</span></div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-85494607158585540902010-02-08T21:27:00.004+00:002010-02-08T21:29:59.311+00:00Para 2010...<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-QgmRowyg6VJcNztsdS05zw-drrawKUvPTa75qIjiks3i0ySVZ52bOKBMIkN6tG15YSHGmXMi_eQhbxABdCPwQYWlSku88-9J3d3myoy_JPy7Ax0g3nQEcZzuv28op4-6jl6z/s1600-h/500days.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 170px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-QgmRowyg6VJcNztsdS05zw-drrawKUvPTa75qIjiks3i0ySVZ52bOKBMIkN6tG15YSHGmXMi_eQhbxABdCPwQYWlSku88-9J3d3myoy_JPy7Ax0g3nQEcZzuv28op4-6jl6z/s320/500days.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5435987504346925986" /></a>... 500 dias de Verão. E, já agora, o filme "500 Dias com Summer" nas salas de cinema nacionais. Porque é mesmo tão bom quanto a <i>hype</i> o pinta...Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-30234704164824481382010-02-08T20:38:00.006+00:002010-02-08T20:46:52.878+00:00(off-topic) Motivação é o que é preciso!Ora eis a melhor razão para nunca, mas mesmo NUNCA!, fazer uma pausa na escrita do blog: 13 menagens de Spam na caixa de comentários de um único post!<div><br /></div><div>Com esta bela experiência, fiquei a aprender que carregar no botão "apagar" tantas vezes cansa muito mais do que escrever um ensaio de 20 páginas sobre a montagem na obra de Elia Kazan ou as maravilhas da construção Multi-Plot nos filmes de Robert Altman. E, apesar de tudo, não é tão recompensador. Enfim, adiante...</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-62254175192272045712009-10-04T00:50:00.006+01:002009-10-04T01:12:40.531+01:00Geração perdida ou esquecida?<div style="text-align: justify;">Numa altura em que parece haver uma pequena euforia em torno de <a href="http://www.imdb.com/name/nm0182276/">Pedro Costa</a> graças à retrospectiva da sua obra no Tate Modern e ao lançamento em DVD de "<a href="http://www.imdb.com/title/tt0098252/">O Sangue</a>", vale a pena chamar a atenção para <a href="http://ipsilon.publico.pt/cinema/entrevista.aspx?id=241285">o excelente artigo de Jorge Mourinha no Ipsilon, "Geração Perdida"</a>, sobre os seus antigos colegas da Escola de Cinema que trabalharam no filme e cujos contributos para a obra em questão e para o cinema português, em muitos casos, foram injustamente esquecidos ou menosprezados. Faltou falar da montadora do filme, <a href="http://www.estc.ipl.pt/cinema/paginas_profs/manuela_viegas.html">Manuela Viegas</a>, mas não deixa de ser um dos textos mais elucidativos sobre toda uma geração de cineastas cuja história ainda está por contar.</div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-3011260330115141672009-09-26T16:02:00.002+01:002009-09-26T16:50:11.742+01:00(Off-topic) Período de reflexãoSobre o dia de amanhã, deixo dois pensamentos que esses génios da comédia que são Trey Parker e Matt Stone tão bem conseguiram cristalizar:<br /><br /><embed src="http://media.mtvnservices.com/mgid:cms:item:southparkstudios.com:104400" width="480" height="400" type="application/x-shockwave-flash" wmode="window" flashVars="autoPlay=false&dist=www.southparkstudios.com&orig=" allowFullScreen="true" allowScriptAccess="always" allownetworking="all" bgcolor="#000000"></embed><br /><br /><embed src="http://media.mtvnservices.com/mgid:cms:item:southparkstudios.com:154584" width="480" height="400" type="application/x-shockwave-flash" wmode="window" flashVars="autoPlay=false&dist=www.southparkstudios.com&orig=" allowFullScreen="true" allowScriptAccess="always" allownetworking="all" bgcolor="#000000"></embed><br /><br />Para bom entendedor...Unknownnoreply@blogger.com16tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-89471195349548797612009-08-19T02:03:00.001+01:002009-08-19T02:05:07.940+01:00Há listas e listas, mas quando temos Tarantino envolvido...<object width="560" height="340"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/Wz4K-Rxx2Bk&hl=en&fs=1&"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/Wz4K-Rxx2Bk&hl=en&fs=1&" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="560" height="340"></embed></object>Unknownnoreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-62352520083818152942009-06-28T23:56:00.030+01:002009-06-29T03:51:40.035+01:00THE AUTEURS – Uma outra forma de lidar com a net<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjz9LwZYAyxEFi-RpKY1-MKAoLD2LxGLnn-qtuKzcn7dHXamSXaqipyFcexVOttQsFCcAb3M4nQBIcuyPvQkcNGfYfDjNnC_ywMGBOsiFLxYvBMHOfNzDu19s5i-ArhFKq-2G_g/s1600-h/dogville_grace.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 210px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjz9LwZYAyxEFi-RpKY1-MKAoLD2LxGLnn-qtuKzcn7dHXamSXaqipyFcexVOttQsFCcAb3M4nQBIcuyPvQkcNGfYfDjNnC_ywMGBOsiFLxYvBMHOfNzDu19s5i-ArhFKq-2G_g/s320/dogville_grace.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5352517246480253586" /></a><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Com tanta agitação actualmente em torno do tema da pirataria (cujo ponto mais fascinante será, certamente, a recente eleição, na Suécia, <a href="http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5ibr-ao4NgG8fOxsXiyjTJBNDdpnw">de um deputado do Partido Pirata para o Parlamento Europeu</a>), vale a pena chamar a atenção para um novo serviço baseado na Internet que procura alterar as regras do jogo e oferecer uma alternativa viável e legal às pessoas que descarregam filmes através dos programas peer-to-peer.<br /><br /><a href="http://www.theauteurs.com/">The Auteurs</a> é um site norte-americano que fornece acesso a uma imensa selecção de filmes de qualidade para visionamento em streaming de óptima definição – nele podemos encontrar títulos tão distintos como “Dogville” de Lars Von Trier, “O Despertar da Mente” de Michel Gondry, “Mulholland Drive” de David Lynch, “A Aventura” de Michelangelo Antonioni e inclusive algumas obras portuguesas como “O Fatalista” de João Botelho.<br /><br />Cinema de autor, cinema independente, alternativo/experimental, clássico e mainstream sem ser “desprovido de visão pessoal” constituem o núcleo duro do catálogo do site. Os filmes estão disponíveis online através de protocolos assinados com entidades tão reputadas como a editora norte-americana <a href="http://www.criterion.com/">The Criterion Collection</a> e a <a href="http://worldcinemafoundation.net/">World Cinema Foundation</a> de Martin Scorsese – estando os títulos restaurados por esta última, aliás, a ser disponibilizados gratuitamente (e para todo o mundo) no site num gesto de verdadeiro serviço público que só se pode aplaudir de pé.<br /><br />O preço médio de cada visionamento (para Portugal) é de cinco euros, sendo que o utilizador tem direito a ver o filme escolhido por um número de vezes limitado. Para além do serviço de video-on-demand através da consulta do catálogo, a apresentação dos filmes também é feita através de ciclos temáticos organizados pela equipa do site, e estes são complementados com artigos e dossiers criados especificamente para as suas páginas. Também funciona como uma espécie de rede social baseada nos modelos do FaceBook, MySpace ou Hi-5, tendo como enfoque principal os gostos cinematográficos definidos no perfil de cada um dos utilizadores. Existe igualmente <a href="http://www.theauteurs.com/topics">um fórum</a> onde se discutem os mais diversos temas (<a href="http://www.theauteurs.com/topics/1151/comments?page=2">até o cinema português!</a>) e onde a conversa geralmente mantém um nível argumentativo sólido. No fundo, procura-se criar um espírito de comunidade cinéfila num espaço virtual onde se pode alugar filmes.<br /><br />Apesar das várias virtudes deste projecto há, no entanto, alguns defeitos que não o tornam tão apetecível quanto poderia ser e que merecem ser mencionados:<br /><br />1 – O preço dos downloads é, sobretudo para um mercado não propriamente rico como o português, manifestamente elevado. Cobrar cinco euros (aquele que era, até há pouco tempo, o preço normal de um bilhete de cinema por estas partes) pelo visionamento em streaming de um filme de catálogo que o utilizador não pode guardar é um exagero que irá afastar muitos espectadores que prefiram gastar um pouco mais (ou, em vários casos, o mesmo ou menos!) para comprar a obra em DVD numa loja física ou online. Se o objectivo do serviço é ser uma espécie de evolução dos alugueres clássicos feitos num vídeoclube, os preços praticados deveriam ser semelhantes, ou seja, nunca superiores a qualquer coisa como 2,5 euros. E quando ficamos a saber que os nossos congéneres norte-americanos pagam cinco dólares (cerca de 3.55 euros, à hora a que escrevo isto) pelo mesmo serviço...<br /><br />2 – A tecnologia streaming <a href="http://www.theauteurs.com/about/watch">é impecável</a>, não tendo absolutamente nada a ver com a qualidade dos vídeos do YouTube, mas deveria haver a possibilidade de se guardar o filme visionado, nem que seja por um preço adicional. Percebe-se que o streaming tenha sido adoptado de modo a evitar uma subsequente pirataria dos filmes descarregados do site, mas seria preferível utilizar uma tecnologia que permita o armazenamento legal dos filmes. Um dos aspectos mais característicos da cinéfilia é, precisamente, o coleccionismo, uma vertente completamente impossibilitada pelo streaming.<br /><br />3 – Apesar do notável esforço de se demarcar dos restantes sites de video-on-demand que só disponibilizam os seus filmes para download em territórios específicos, <a href="http://www.theauteurs.com/films?view_format=expanded&viewable=1&sort=popularity">o catálogo à disposição dos internautas portugueses</a> está ainda bastante limitado aos títulos da distribuidora <a href="http://www.atalantafilmes.pt/">Atalanta Filmes</a> – existem algumas honrosas excepções como o “After Life” de Hirokazu Koreeda ou o “Akarui Mirai - Bright Future” de Kiyoshi Kurosawa, mas o grosso dos filmes são os mesmos que podemos encontrar numa <a href="http://www.fnac.pt/pt/Catalog/Lists.aspx?cIndex=2&catalog=dvdVhs&category=dvdAutor&categoryN=Filmes">FNAC na secção de Cinema de Autor</a> a um preço um pouquinho mais caro do que aqueles praticados no site (com a diferença significativa do cliente poder guardar os DVDs e vê-los as vezes que desejar durante o tempo que quiser). Note-se que as razões para estas limitações apontadas pelos responsáveis pelo site são completamente válidas: como cada filme tem os seus direitos comprados para cada país por editoras distintas, é certo que é difícil negociar com todas estas e conseguir acordos razoáveis, sobretudo quando, nalguns casos, só se quer comprar os direitos de um filme específico; e sim, é óbvio que é mais fácil negociar um catálogo inteiro do que um título em particular. Mas falta ainda dar alguns passos para tornar a selecção verdadeiramente “completa”, e acredito plenamente que sejam dados com a evolução do serviço.<br /><br />4 – Por último, quem não conseguir ler inglês fluentemente vai passar alguns maus bocados, já que nem todos filmes disponíveis são apresentados com legendas em português (muitas vezes, a única opção disponível é a de legendas em inglês para filmes cuja versão original não é falada na língua de Shakespeare). Seria igualmente salutar que o site pudesse oferecer o download das legendas de cada filme à parte consoante as preferências do cliente. Pode parecer uma piquinhice numa época em que o inglês assume o papel de “novo latim”, mas é mais um aspecto que pode ser melhorado e que ajudará a aliciar novos espectadores.<br /><br />Não se pretende, com estas observações, denegrir os objectivos do site – pelo contrário, creio que “The Auteurs” é um passo em frente significativo e inteligente no combate à pirataria e à consolidação do video-on-demand como nova janela de exibição, simplesmente precisa de ser aperfeiçoado aqui e ali. Para um projecto que ainda está na fase BETA, só se pode elogiar aquilo que já se conseguiu.<br /><br />Acima de tudo, nota-se que The Auteurs é feito e mantido por pessoas que nitidamente amam o cinema, que têm uma visão verdadeiramente cinéfila do relacionamento de um espectador com um filme – e este é um aspecto nada negligenciável nestes tempos que correm.</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-87612507052416986212009-06-10T23:44:00.004+01:002009-06-11T00:21:13.661+01:00O espólio de um mestre<div style="text-align: justify;">Descobri recentemente <a href="http://ipsilon.publico.pt/Cinema/texto.aspx?id=232578">nas páginas do Ípsilon</a> que, para grande alegria de qualquer cinéfilo que se preze, está a ser colocado online grande parte do espólio do mestre <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Akira_Kurosawa">Akira Kurosawa</a> no site <a href="http://www.afc.ryukoku.ac.jp/Komon/kurosawa/index.html">Kurosawa Digital Archive</a>. Estão incluídos, entre outras preciosidades, story-boards, notas de produção e fotografias de rodagem bem como alguns itens mais peculiares - como um artigo escrito pelo cineasta japonês <a href="http://www.ss.i.ryukoku.ac.jp/pearl/#xid=03LqBy3">a elogiar a obra de John Cassavetes</a>!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Para já, o site só está disponível em japonês, mas uma versão em inglês está prometida para breve - e o facto da navegação ser bastante simples e intuitiva só deve encorajar qualquer apreciador da obra do autor de "Os Sete Samurais" a passar algum tempo a explorar estes fabulosos arquivos.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-516647225451854522009-06-10T23:32:00.004+01:002009-06-10T23:40:47.622+01:00Bill got killed...<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZoXU5Mnl2-sCYEq9GwbejcfsGJi7lr24xVgmoBUgXNE9bd7miOZ4JwoBOZEbzVQ3sLEU_9zTv9tFpnatTyawc8hCxkRrMKSyFeSFZ1AdpKqWASfKKkIPEP1wXig8-A3MzFBLX/s1600-h/davidcarradine.png"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 244px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZoXU5Mnl2-sCYEq9GwbejcfsGJi7lr24xVgmoBUgXNE9bd7miOZ4JwoBOZEbzVQ3sLEU_9zTv9tFpnatTyawc8hCxkRrMKSyFeSFZ1AdpKqWASfKKkIPEP1wXig8-A3MzFBLX/s320/davidcarradine.png" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5345831613097435554" /></a><br /><div style="text-align: center;"><a href="http://en.wikipedia.org/wiki/David_Carradine">David Carradine</a> (08/12/36 - 03/06/09)</div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><i>(Já vem com uma semana de atraso, mas não queria de modo nenhum deixar passar ao lado...)</i></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-72536695917350422762009-05-24T20:51:00.003+01:002009-05-24T21:09:28.903+01:00João Salaviza ganha a Palma de Ouro para Melhor Curta-Metragem em Cannes!<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfKm-jOrow1-CVThylulnw5N08e2X54RH-mv0HMcL0PLWQdNWqpa9Y8UaBQO6jBWA-OLmezzv0MyhtmFXydv21Doj-BuFvAYb_Cm0ye0qCgcJl8WUl9s-r_PlAwomAWCtCCDm5/s1600-h/poster-arena.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 242px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfKm-jOrow1-CVThylulnw5N08e2X54RH-mv0HMcL0PLWQdNWqpa9Y8UaBQO6jBWA-OLmezzv0MyhtmFXydv21Doj-BuFvAYb_Cm0ye0qCgcJl8WUl9s-r_PlAwomAWCtCCDm5/s320/poster-arena.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5339481117300373346" /></a><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Foi com uma grande alegria que soube que o meu antigo colega João Salaviza recebeu, há pouco, a Palma de Ouro em Cannes para Melhor Curta-Metragem pelo seu filme "Arena". Já o tinha visto no Indie Lisboa, onde tive a hipótese de congratular o realizador pelo sucesso desta obra. Agora, só me resta bater as palmas: este é <span class="Apple-style-span" style="font-style: italic;">só</span> o maior prémio que um cineasta português recebeu em Cannes em toda a história do festival - não exactamente um feito pequeno! Saber que foi atribuído a alguém da minha geração cujo talento genuinamente admiro só torna as coisas ainda mais doces. Como depois da projecção no Indie, deixo aqui os meus mais sinceros parabéns ao João, de quem espero muitos e bons filmes nos próximos tempos!</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="http://www.ionline.pt/conteudo/5811-joao-salaviza-vence-palma-ouro-em-cannes---best-short-film">Notícia no I-Online</a></div><div><br /></div>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-17581865394595382992009-05-21T16:07:00.004+01:002009-05-21T16:14:36.726+01:00João Bénard da Costa (1935 - 2009)<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXNK9h4zCErzKrMKog2QnEfuXNuRg-qoNtDYodzZqe3zzzVQQxYMHOvAYYgLYMCzH_9Ad0kGwbf2T7YtSjdcW5pHK8XfXlI6LWsEd7pHYLqZQwIe0BITumkuAs8oP51NSM_90O/s1600-h/benard+da+costa.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 237px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXNK9h4zCErzKrMKog2QnEfuXNuRg-qoNtDYodzZqe3zzzVQQxYMHOvAYYgLYMCzH_9Ad0kGwbf2T7YtSjdcW5pHK8XfXlI6LWsEd7pHYLqZQwIe0BITumkuAs8oP51NSM_90O/s320/benard+da+costa.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5338294665555189938" /></a><div><br /></div><div style="text-align: center;"><a href="http://ipsilon.publico.pt/cinema/texto.aspx?id=231908">Texto sobre a morte de João Bénard da Costa publicado no Ípsilon.</a></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-60527031583628973102009-05-19T14:33:00.004+01:002009-05-19T15:11:06.704+01:00Globos de Ouro SIC (2009)<div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A cerimónia dos Globos de Ouro da SIC do passado domingo teve um único momento realmente memorável - aquele em que Nuno Lopes, ao receber o globo para melhor actor de cinema pela sua prestação em "Goodnight Irene" de Paolo Marinou-Blanco, convidou os restantes actores nomeados (Gonçalo Waddington, Ivo Canelas e o ausente Filipe Duarte) a subirem ao palco para serem igualmente aplaudidos e, de seguida, ofereceu o prémio a um dos seus mentores, António Feio, sublinhando que esta decisão não era motivada pela conhecida doença de Feio mas pelo facto de este ter sido sido seu professor e largamente responsável pela sua entrada no mundo da interpretação. Num discurso marcado pela simplicidade, aquele que é um (o?) dos maiores actores da sua geração teve um gesto de humildade e pura humanidade como há raros nestas cerimónias ao aproveitar os seus minutos no palco para reconhecer os seus pares e o seu mestre. Mereceu todos as palmas que recebeu - e a nossa admiração também.</div><div style="text-align: justify;"><br /><br /><object width="540" height="450"><param name="movie" value="http://sic.aeiou.pt/online/flash/consola_video_sap.swf?urlvideo=http://videos.sic.pt/CONTEUDOS/sicweb/feio_18520094350_web.flv"><param name="allowFullScreen" value="true"><embed src="http://sic.aeiou.pt/online/flash/consola_video_sap.swf?urlvideo=http://videos.sic.pt/CONTEUDOS/sicweb/feio_18520094350_web.flv" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true" width="540" height="450"></embed></object><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em complemento, veja-se o fantástico sketch alusivo à nomeação de Nuno Lopes d'os Contemporâneos que foi para o ar quase à mesma hora:</div><br /><object width="425" height="349"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/LlbQZOFS4Xs&border=1&color1=0xb1b1b1&color2=0xcfcfcf&hl=pt-br&feature=player_embedded&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><embed src="http://www.youtube.com/v/LlbQZOFS4Xs&border=1&color1=0xb1b1b1&color2=0xcfcfcf&hl=pt-br&feature=player_embedded&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowfullscreen="true" width="425" height="349"></embed></object>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-34233426235273019162009-05-13T23:49:00.011+01:002009-05-14T01:51:12.858+01:00Os universos (televisivos) da crítica<div style="text-align: justify;">Temos, semanalmente, nos nossos pequenos ecrãs (pelo menos) três programas distintos sobre cinema que são incrivelmente parecidos. O formato é essencialmente composto pela seguinte receita: trailers das estreias recentes, previews de filmes que aí vêm, apresentação do box-office português e norte-americano, entrevistas com as estrelas dos filmes (e, uma vez por outra, com o realizador), uma ou outra featurette dos bastidores de uma grande-produção... e pouco mais.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div><div style="text-align: justify;">O que falta a estes programas? Numa palavra: crítica. Não parece haver espaço para uma análise dos filmes que estreiam nas nossas salas e nas prateleiras de DVDs das lojas. A excepção à regra é o espaço de João Lopes no Cartaz da SIC Notícias, que peca sobretudo pela brevidade que advém de ser um segmento num programa mais generalista.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Poderíamos tentar explicar a ausência da crítica dos pequenos ecrãs com uma justificação de que qualquer discussão ou análise de um filme afugentaria as audiências por ser "demasiado aborrecida". Mas um exemplo emblemático de como se pode fazer um programa de televisão sobre cinema que é ao mesmo tempo inteligente, popular e, acima de tudo, portador de uma perspectiva crítica, é o célebre "<a href="http://en.wikipedia.org/wiki/At_the_Movies_(U.S._TV_series)">At the Movies</a>", um talk-show semanal de 30 minutos apresentado durante anos pelo duo de críticos <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Roger_Ebert">Roger Ebert</a>-<a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Gene_Siskel">Gene Siskel</a>, tendo este último sido substituído por Richard Roeper após a sua morte.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O conceito do programa é de uma simplicidade invejável: junta-se dois críticos num cenário básico (duas cadeiras e uma parede onde são "projectadas" imagens), um deles faz uma breve sinopse do filme em questão enquanto imagens deste vão passando e, feita a descrição sumária da narrativa, inicia-se um diálogo entre os dois onde se alterna a análise inteligente e o confronto de pontos de vista não raramente antagónicos, sem nunca cair numa conversa de surdos. O resultado é um belo momento de televisão, <span class="Apple-style-span" style="font-style: italic; ">entertaining</span> e didáctico no melhor sentido das duas palavras.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Veja-se, por exemplo, o modo como Siskel e Ebert fazem a crítica de "O Padrinho III" de Francis Ford Coppola e discutem o tópico polémico da interpretação de Sofia Coppola como Mary Corleone:</div><div><div style="text-align: justify;"><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/BiVk6Mgaeck&hl=en&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/BiVk6Mgaeck&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ou o modo como divergem sobre "Veludo Azul" de David Lynch:</div><div><div style="text-align: justify;"><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/Jga_yqTiqhI&hl=en&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/Jga_yqTiqhI&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E como analisam uma cena de "Halloween" de John Carpenter:</div><div><div style="text-align: justify;"><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/-c3nXYo-51M&hl=en&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/-c3nXYo-51M&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div></div><div style="text-align: justify;">Resta-nos só questionar qual a razão para não termos nada parecido com este programa na nossa televisão. Nuno Markl e Rui Pedro Tendinha, há uns anos, fizeram uma espécie de "adaptação" deste formato no Curto-Circuito com o segmento Cine-Bolso e o mínimo que se pode dizer é que deixou saudades.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-style: italic;">É indispensável consultar <a href="http://bventertainment.go.com/tv/buenavista/atm/">o site oficial do programa</a>, que dispõe de um precioso arquivo de vídeo onde estão guardadas todas as críticas gravadas desde a sua primeira emissão em 1986.</span></div></div></div></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-85197180501936185802009-03-30T13:49:00.002+01:002009-03-30T13:56:57.347+01:00Pequenas Alegrias - Love Letter to Japan<div><br /></div><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/J6rxbgAm-Do&hl=en&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/J6rxbgAm-Do&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><div><br /></div><div style="text-align: justify;">Vídeo original do tema "Love Letter to Japan" dos The Bird and the Bee. Uma boa descoberta destes últimos tempos.</div>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-40636038273173228372009-03-29T20:33:00.004+01:002009-03-29T20:38:50.528+01:00"Espectadores de Elite" e "Espectadores Irrequietos"<!--StartFragment--> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><i>“Na apresentação, em Lisboa, Serra, talvez com alguma ironia, apelidou-se o melhor realizador espanhol desde Buñuel, e queixou-se de uma incompreensão geral do público. Claro que os seus filmes estão reservados a uma elite. Uma elite esteticamente sofisticada, capaz de apreciar a beleza de uma boa fotografia, conhecedora da história do cinema e da sua cumplicidade com as outras artes, e sem sono. Os planos fixos, a montagem minimal, a reduzida acção, repudiam os espectadores mais irrequietos</i><span style="font-weight:normal"><i>.”</i></span></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" align="right" style="text-align:right">Manuel Halpern, crítica a “O Canto dos Pássaros” de Albert Serra, in JL – Jornal de Letras e Ideias, nº 1004</p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Não sei o que é pior nesta citação. Não sei se é a típica vitimização do realizador (porque a culpa da má recepção de uma obra é sempre dos espectadores, esses malandros!, nunca do criador, que está sempre à frente do seu tempo...) misturada com uma auto-glorificação que não funciona nem como <i>blague</i><span style="font-style:normal"> ou, antes, a curiosa descrição da “elite esteticamente sofisticada” que o crítico Manuel Halpern faz.</span></p><p class="MsoNormal"><o:p></o:p></p> <p class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Acabei por me encontrar mais perturbado com esta assustadora ideia de uma espécie de “espectador de elite”, como se quem for “conhecedor da história de cinema, da sua cumplicidade com as outras artes” e não tiver sono não possa, de maneira alguma,<span style="mso-spacerun: yes"> </span>não gostar deste filme. Como se quem aprecie fotografia e não tenha problemas com filmes mais “lentos” não posso achar esta obra oca e superficial porque, se o fizer, passa à categoria de “espectador irrequieto”, uma espécie de mentecapto que não pertence “à elite sofisticada” que sabe como se deve, verdadeiramente, apreciar o cinema. Esta é, simultaneamente, uma visão redutora das pessoas que participam nesse fabuloso ritual que é ver um filme e uma visão “clubista” da arte cinematográfica que só se pode lamentar.</p> <!--EndFragment-->Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-15453274512204298642009-03-09T22:19:00.005+00:002009-03-10T03:17:33.587+00:00Vicky Cristina Barcelona - Cómica Angústia<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxhq5ar1dvFkfroqr-Wmw1VqKzaFIafLDn2w8E-9k5qLCx3WXI4yYxskzdT4c9iK5ZmTgJOXZrrPUfur5eV4mXgnMSlZAJbBDDq_1lL0QJun0-9TN5hNan3nX1m1bHzY2Qgo5v/s1600-h/vicky-cristina.jpg" style="text-decoration: none;"><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 0);"><br /></span><img style="text-decoration: underline;display: block; margin-top: 0px; margin-right: auto; margin-bottom: 10px; margin-left: auto; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 207px; " src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxhq5ar1dvFkfroqr-Wmw1VqKzaFIafLDn2w8E-9k5qLCx3WXI4yYxskzdT4c9iK5ZmTgJOXZrrPUfur5eV4mXgnMSlZAJbBDDq_1lL0QJun0-9TN5hNan3nX1m1bHzY2Qgo5v/s320/vicky-cristina.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5311317710509997266" /></a><p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><br /></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify">Não consigo deixar de ficar impressionado com o modo desinteressado como algumas pessoas acolheram a mais recente obra de Woody Allen. Falou-se aqui e ali de uma obra menor, de um filme feito quase “de encomenda”, “a despachar”, com actores atraentes a fazerem bons números e o realizador a entreter-se filmando belas imagens de “bilhete postal” de Barcelona e de Espanha, faunas bem diferentes da sua mui familiar Nova Iorque, palco quase natural do seu universo cinematográfico. Em suma, uma comédia light agradável, estival, bem construída, mas esquecível e, sobretudo, irrelevante no contexto da obra de Allen.<br /></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT">Ora, não sendo “Vicky Cristina Barcelona” um “Annie Hall” (nem tendo obrigação de o ser), o que temos neste filme enganadoramente descontraído é um discurso incrivelmente angustiante sobre as relações amorosas, com um ponto de vista pessimista que faz lembrar algumas obras de Ingmar Bergman. Há comedia, sim, há vários momentos em que nos rimos alegremente do que se está a passar no ecrã – mas o modo como o realizador desconstrói dois pontos de vista absolutamente antagónicos sobre o amor (uma visão, mais “conservadora”, de Vicky e outra, mais “liberal” de Cristina) e nos mostra o imenso vazio das personagens após todos os acontecimentos atribulados por que passam no Verão que o filme relata relembra-nos de que estamos perante uma análise das relações humanas (e das nossas noções do amor) que não é nada superficial.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT">Como praticamente todos os filmes de Woody Allen, esta é uma obra que realça o trabalho dos actores, e é quase óbvio destacar a prestação premiada de Penélope Cruz como um exemplo de como é possível dar vida a uma cena só pelo modo como uma personagem se mexe. Mas gostaria de referir especialmente o trabalho de Rebecca Hall, cujo nome tem sido, por vezes, injustamente ofuscado pelos do restante elenco principal. Hall tem aqui uma personagem muito mais difícil do que parece - o de uma mulher intelectual, conservadora, repleta de conflitos internos e várias contradições. Seria muito fácil cair no cliché da mulher tradicionalista frustrada, mas Hall consegue conferir à personagem uma dimensão bem mais profunda com o seu desempenho. Nesse sentido, embora Scarlett Johansson não esteja mal, a sua performance não é tão rica em nuances e na exposição de um mundo interior mais perturbado do que parece como a de Hall – é um trabalho conseguido, mas bem longe dos resultados fabulosos obtidos em obras como “Lost in Translation” ou “Match Point”. Javier Bardem, por sua vez, desempenha o seu papel com charme e inteligência e consegue que o seu artista-macho-cool seja mais complexo e interessante do que se poderia pensar à primeira vista.</span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT">O argumento de que esta é uma visão turística de Barcelona também me parece algo bizarro – se a narrativa parte do ponto de vista de duas turistas norte-americanas que vêm ou desenvolver uma tese (Vicky) ou passar férias (Cristina) no coração da Catalunha, é natural que a imagem, adequadamente, siga um ponto de vista turístico, isto é, a de alguém exterior àquele mundo, que só o consegue conhecer parcialmente. O objectivo não é fazer um filme sobre a realidade de Barcelona, mas sim o de acompanhar aquelas duas mulheres na sua viagem exterior e interior. Está coerente com a história que se pretende contar e apetece dizer que estranho seria se fosse de outra forma. </span></p> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify"><span lang="PT">Esperemos, pois, que o Óscar atribuído a Penélope Cruz permita alguma reavaliação do filme – ou, pelo menos, uma catalogação mais interessante do que a de simples “Postal Ilustrado”.</span></p> <!--EndFragment-->Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-88564534961085644312009-02-24T04:13:00.004+00:002009-02-24T06:57:53.305+00:00Slumdog Millionaire<div style="text-align: justify;">Gostei de "Quem Quer Ser Bilionário?" (Slumdog Millionaire) de Danny Boyle. Não achei o filme extraordinário, e muito menos isento de defeitos, mas encontrei nele imensas qualidades que me fizeram perceber o porquê de tanto entusiasmo e de tantas nomeações (e vitórias...) no ciclo de cerimónias de prémios que agora chegou ao fim com a entrega dos Oscars - e com a obra em questão a arrecadar o Oscar para Melhor Filme no fim da noite.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A equipa responsável pelo projecto descreveu o filme como um "conto de fadas", definição à qual eu acrescentaria o adjectivo "contemporâneo". Existe, no argumento de Simon Beaufoy, um sentimento de urgência de contar uma história que nos mostre o combate do ser humano perante a adversidade, a sua capacidade de "aprender com a vida", ultrapassar o seu obstáculo e tirar lições do seu esforço - com a preocupação fundamental de enquadrar esta história não numa floresta de gnomos e bruxas, como nos contos dos irmãos Grimm, mas no contexto da realidade de uma cidade dos nossos tempos. Ou seja, a necessidade de criar uma narrativa de esperança num mundo duro e actual, de ter um pé no "realismo" e o outro no "sonho", sem nunca cair no ridículo ou disparatado. Esta é uma aposta muito arriscada, não sendo nada difícil cair numa xaropada moralista.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">E é aqui que o filme de Danny Boyle consegue um equilíbrio raro - Jamal, o herói, é uma personagem que luta por aquilo que quer, que tem que enfrentar as dificuldades da vida e do meio em que está inserido... mas que, mesmo assim, não desiste, por muito duro, cinzento e complexo que seja o mundo em que vive. Ao longo da história, acontecem-lhe coisas espantosas mas plausíveis, desde a chegada em helicóptero de uma star de Bollywood à sua surpreendente performance num concurso televisivo - onde a sorte e o acaso jogam um papel tão importante como a astúcia do herói - e, apesar de tudo, o que se sucede é credível e a causalidade não é posta em causa, o que não deixa de ser um feito considerável. Há cenas que não funcionam tão bem (os turistas americanos que dão a nota de cem dólares, por exemplo), mas, no conjunto, o argumento encontra-se solidamente construído.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O estilo formal muito próprio de Boyle no "contar" desta história pode não ser do agrado de todos, mas está longe de ser o disparate superficial e sem qualquer "reconhecimento de herança cinematográfica" que por aí foi apregoado. Sim, a montagem pode ser acelerada ao ritmo de mil-cortes-por-segundo, os planos enquadrados de forma "torta" e com uma câmara-à-mão nervosa, pode haver várias canções pop a aparecer de forma pouco habitual no decorrer de uma sequência, cada cena pode ser fotografada com centenas de filtros e efeitos de pós-produção - mas há toda uma concepção de narrativa e de construção dramática que, na realidade, vai beber muito mais aos ideais do cinema clássico do que a um mau videoclip. David Bordwell, aliás, explica isto de forma muito clara e desenvolvida no seu <a href="http://www.davidbordwell.net/blog/?p=3592">excelente texto de análise à obra de Boyle.</a></div><div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Falou-se, em vários sítios, da chamada "pornografia da pobreza" de que o filme seria um aparente e muito triste exemplo. Alicia Wells, no <a href="http://www.timesonline.co.uk/tol/comment/columnists/alice_miles/article5511650.ece">Times Online</a>, chega ao ponto de dizer que Boyle é um realizador brilhante mas que mostrar violência com crianças é "Vile" - ou seja, sujo, porco, indecente. Igualmente, alguns críticos têm apontado a "pobreza de olhar" como factor para denegrir o filme. A eterna questão sobre "o que é pornográfico ou não" é interessante, mas seria mais interessante se quem atribui esta etiqueta explicasse, claramente, como se filma a pobreza, a miséria, a violência para com crianças e semelhantes atrocidades sem se cair no voyeurismo ou numa qualquer gratificação do espectador. Parto do princípio que o cinema, como as outras artes, pode confrontar-se com os aspectos degradantes da existência humana e reflectir sobre eles. Em relação à "pobreza do olhar", tópico vago que daria para um texto inteiro, digamos só que gostava de acreditar que não é por se filmar a miséria com um estilo de montagem acelerado e estilizado e não num único plano-sequência fixo que se vai determinar se um filme é ou não um dejecto...</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-style: italic;">Sobre a questão da verosimilhança no filme, e a recepção crítica deste, vale a pena ler:</span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a href="http://orostodaspaginas.blogspot.com/2009/02/finais-felizes-algumas-notas-sobre-o.html">Finais felizes. Algumas notas sobre o filme "Slumdog Millionaire" </a>de Ana Sofia Couto.</div><div><br /></div><div><br /></div></div>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-37293690639874258592009-02-13T01:24:00.006+00:002009-02-13T03:57:33.481+00:00Nuno Bragança e uma sugestão...<div align="justify">A Dom Quixote vai <a href="http://ler.blogs.sapo.pt/249607.html">reeditar a obra completa de Nuno Bragança</a> neste mês de Fevereiro de modo a assinalar a passagem do octogésimo aniversário do nascimento do escritor, e o volume apresentado parece ser verdadeiramente fabuloso. Porém, reparei numa pequena ausência do espólio que talvez não incomode muita gente mas que, definitivamente, me chamou a atenção: a do guião de "<a href="http://www.imdb.com/title/tt0057642/">Os Verdes Anos</a>" de <a href="http://www.imdb.com/name/nm0733846/">Paulo Rocha</a>, para o qual Bragança assinou os diálogos. É certo que não é um romance, nem tão pouco uma obra de prosa, e é também verdade que Bragança foi um colaborador e não o autor da história. Mas, ainda assim, não seria esta uma boa ocasião para editar o argumento de uma obra para o qual o seu contributo foi decisivo? Ou, como alternativa limite, disponibilizá-lo como "extra" numa eventual (e há muito desejada) edição em DVD do referido filme?</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-57788647240147516992009-02-12T03:56:00.009+00:002009-02-12T06:18:33.564+00:00A Arte da Montagem - Uma Conversa entre Walter Murch e Michael Ondaatje<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZaeW48W8n4cV-4GSYi-SxOEiBw17TyKBUlCCkl-OmIcnpougjJHPTbbdFahRdPvYRJcx_2V6tHxuDebh7nMrgSo65CYVsbuXghNmWAV3qmvVtN072bxRxJn95YRBhLr36J0SZ/s1600-h/TheConversationsCover.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZaeW48W8n4cV-4GSYi-SxOEiBw17TyKBUlCCkl-OmIcnpougjJHPTbbdFahRdPvYRJcx_2V6tHxuDebh7nMrgSo65CYVsbuXghNmWAV3qmvVtN072bxRxJn95YRBhLr36J0SZ/s320/TheConversationsCover.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5301755198308827346" /></a><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Aquando da pós-produção do filme "O Paciente Inglês" de Anthony Minghella, <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Michael_Ondaatje">Michael Ondaatje</a>, o autor do romance original que serviu de base à longa-metragem, ficou fascinado com o trabalho minucioso levado a cabo pelo montador <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Walter_Murch">Walter Murch</a> na sala de edição. Este fascínio fez com que Ondaatje quisesse conhecer melhor aquele homem que tinha a particularidade de montar de pé "como um cirurgião realiza uma operação" e, depois, iniciasse um conjunto de entrevistas com ele que viria a formar o livro "The Conversations: Walter Murch and the Art of Editing Film".<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Uma pequena introdução impõe-se, sobretudo tendo em conta que os montadores nunca são tão conhecidos como os realizadores. Pertencente à mesma geração de <span class="Apple-style-span" style="font-style: italic;">movie-brats</span> onde se incluem realizadores como George Lucas, Francis Ford Coppola, Steven Spielberg ou Martin Scorsese, Walter Murch, ao contrário dos nomes citados, fez carreira longe das câmaras, trabalhando (quase) sempre na pós-produção como montador de imagem, designer de som e director de misturas, chegando algumas vezes a acumular todos estes cargos num mesmo filme. É largamente reconhecido como um dos mais importantes montadores vivos, e o seu livro, <a href="http://www.amazon.com/gp/reader/1879505622/ref=sib_dp_ptu#reader-link">"In the Blink of an Eye: A Perspective on Film Editing</a>", pode facilmente ser considerado um dos grandes textos da teoria contemporânea de montagem, ancorado numa larga experiência profissional na pós-produção de filmes tão marcantes como "Apocalypse Now" ou a trilogia "O Padrinho".<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Um exemplo primordial do modo como a montagem, e o contributo pessoal do editor, molda uma obra cinematográfica surge no relato que Murch faz do seu primeiro trabalho como montador de longa-metragem no filme "O Vigilante" ("The Conversation", 1974) de Francis Ford Coppola. Um projecto antigo e muito pessoal do seu realizador/argumentista, "O Vigilante" foi rodado entre o final de "O Padrinho" e o início de "O Padrinho II", sendo que Coppola, por obrigações contratuais com a Paramount, foi forçado a partir para a rodagem do segundo volume da sua lendária trilogia sem poder participar na montagem do filme com o envolvimento que desejaria. Sem poder fazer muito mais, optou por deixar o material nas mãos de Walter Murch, limitando-se a aparecer nalgumas reuniões semanais para ver o modo como a montagem evoluía.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzHHCNY8LtPT9DpHxZQkpQYw0qL0rYYpVppu4Rie8JVF_lcW6bkW50H2flispk6AaoICA_apT2vxQ6cTHztPE5RtGdVQBiX3nzPVwDij6NsZsy1jLLz8I7kWGOcbN2NvLpn6Eh/s1600-h/Walter_Murch.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 240px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzHHCNY8LtPT9DpHxZQkpQYw0qL0rYYpVppu4Rie8JVF_lcW6bkW50H2flispk6AaoICA_apT2vxQ6cTHztPE5RtGdVQBiX3nzPVwDij6NsZsy1jLLz8I7kWGOcbN2NvLpn6Eh/s320/Walter_Murch.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5301784346217025298" /></a><br /><div style="text-align: justify;">Com o realizador ausente e a dar carta-branca ao seu montador, Murch teve uma liberdade criativa pouco habitual na montagem do filme e, ao não limitar-se a "alinhar e cortar" o material disponível, reestruturou a narrativa, atribuiu novos significados a cenas problemáticas, criou a atmosfera de solidão e paranóia do filme através de um desenho de som minucioso e construiu um final marcante com o aproveitamento de uma má take de som (!). O resultado foi uma estrondosa obra-prima que arrecadou a Palma d'Ouro em Cannes no ano de 1974 e que permanece uma das obras favoritas do seu realizador.<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Dividida em cinco extensas entrevistas, a conversa entre Ondaatje e Murch vai focando diversos pontos sempre com grande interesse e um bom ritmo, com o escritor a colocar perguntas do ponto de vista de um "leigo-culto" que nitidamente admira o seu entrevistado sem abdicar de dar o seu contributo pessoal para a discussão. Os diálogos abrangem temas tão distintos como o relacionamento entre realizador e montador; a criação e construção narrativa; técnicas e teorias de montagem (é reexplorada a célebre teoria do "piscar de olho"); a remontagem de "A Sede do Mal" de Orson Welles de acordo com as <a href="http://wellesnet.com/touch_memo1.htm">notas deixadas pelo realizador</a> (naquela que é, actualmente, a única versão do filme disponível em DVD no mercado português); a adaptação literária em "A Insustentável Leveza do Ser" ou "O Paciente Inglês"; a sua tentativa de criar um sistema de partitura para o cinema semelhante ao que existe na música; <a href="http://www.archive.org/details/dicksonfilmtwo">o restauro digital de um curtíssimo filme-sonoro de Edison</a> e a sua única experiência no campo da realização nessa encantadora fábula que é "Return to Oz" (1985).<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Ao longo de cerca de 350 páginas, Murch revela-se uma fonte de sabedoria quase inesgotável, tão capaz de falar, num momento, de uma sinfonia de Haydn como, noutro, da poesia de Curzio Malaparte, sendo que a única área onde, a páginas tantas, confessa não ter grande conhecimento é precisamente... a história de cinema! Afirmação esta que, contudo, temos de aceitar como marca de modéstia mais do que verdadeira auto-análise - veja-se o modo detalhado como Murch teoriza sobre a importância que Edison, Beethoven e Flaubert tiveram na concepção do cinema como o entendemos e apreciamos hoje!<br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Tal como "In the Blink of an Eye", este "The Conversations" há muito que merecia uma tradução portuguesa - até porque transcende largamente a categoria de "livro técnico de nicho" que parece tornar a edição de textos ligados ao cinema tão difícil. Enquanto esperamos (ou não...), temos as <a href="http://www.amazon.co.uk/Conversations-Walter-Murch-Editing-Film/dp/0375709827/ref=sr_1_1?ie=UTF8&s=books&qid=1234417322&sr=8-1">edições de língua inglesa</a> e, inclusive, <a href="http://www.plot.es/titulo.php?recordID=111">uma espanhola</a> (muito bem traduzida, diga-se de passagem) que costuma abundar pelas FNACs, para nos satisfazer...<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-87604688687139481662009-01-14T04:29:00.006+00:002009-01-14T05:36:08.537+00:00O que é a Montagem (I)<div style="text-align: justify;">Uma das pedras lapidares de toda a teoria da montagem (e do cinema <span style="font-style:italic;">tout court</span>...) é o chamado "Efeito Kulechov". Trata-se de uma experiência formal levada a cabo pelo realizador/montador/professor russo <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Lev_Vladimirovich_Kuleshov">Lev Kulechov*</a> (com a participação de um aluno muito especial chamado<a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Pudovkin"> Vsevolod Pudovkin</a>) por volta de 1921 que consistia na projecção de uma sucessão de imagens perante um grupo de espectadores cujas reacções ao material com que foram confrontados fizeram história.<br /><br />O enunciado teórico pode resumir-se à seguinte ideia: o posicionamento de um primeiro plano neutro em relação a um segundo plano neutro cria uma sequência cujo significado é inteiramente construído pelo espectador. Ou seja, a justaposição permite-nos estabelecer ligações entre dois planos que, por si só, nada dizem.<br /><br />O seguinte vídeo ilustra o efeito na sua forma mais básica, procurando recriar a mesma sucessão de imagens montada por Kulechov a partir de planos do rosto do popular actor de teatro Mosjoukine posicionados com imagens tão diversas como a de um prato de sopa, a de um caixão de uma criança ou a de uma mulher deitada num divã:<br /><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/grCPqoFwp5k&hl=en&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/grCPqoFwp5k&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /><br />Ainda hoje, o efeito Kulechov pode ser visto em toda a sua potência nas mais diversas obras audiovisuais contemporâneas (filmes, séries, clips, telenovelas, publicidade, etc). Veja-se a divertida explicação da aplicação prática do efeito dada por Alfred Hitchcock, que tão bem utilizou os princípios teóricos de Kulechov em toda a sua obra:<br /><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/hCAE0t6KwJY&hl=en&fs=1"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/hCAE0t6KwJY&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /><br />Uma versão mais alargada desta entrevista pode ser encontrada <a href="http://www.youtube.com/watch?v=2FoYrmNICYc">aqui</a>. Há só que perdoar a má legendagem em castelhano...<br /><br /><span style="font-style:italic;">* - É conveniente referir que a grafia do nome do realizador russo tem uma estranha variação conforme a língua dos textos que se consultar - em inglês, é habitual aparecer escrito como "Lev Kuleshov", com "s"; porém, os textos em francês costumam utilizar "Kulechov" - optei por utilizar a segunda hipótese, muito embora esteja consciente de que posso estar errado e de que não tenho quaisquer conhecimentos de russo que me permitam ter autoridade para determinar a transcrição correcta...</span></div style="text-align: justify;">Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-7524331.post-71847504924697626232008-12-15T23:01:00.005+00:002008-12-16T00:26:57.015+00:00Em defesa da cultura e das ideias<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;">Ao estrear a edição espanhola do DVD da série <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Monster_(manga)">Monster</a>, fui presenteado, poucos segundos depois de colocar o disco no leitor, com uma publicidade anti-pirataria. Para meu espanto, não se trata do mesmo anúncio que conhecia de diversos DVDs adquiridos ou alugados nos últimos anos, mas sim de um clip original financiado pelo Ministério da Cultura de Espanha, realizado por uma equipa espanhola e dirigido especificamente ao mercado espanhol (onde, diga-se, os números de pirataria são bem grandes). E, para minha estupefacção, gostei muito do spot! </span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:18px;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style=" ;font-size:18px;">O que tem de tão especial a publicidade espanhola? Diria, antes de mais, o tom: em vez de tratar o espectador como uma criança que deve ser assustada com as consequências de um download de um ficheiro Torrent ou de uma visita "frutífera" à Feira da Ladra, o clip visa realçar o valor da cultura e o valor das ideias na nossa existência humana, defendendo que estas têm que ser protegidas e não deixadas ao abandono. "Defende a tua cultura" é o slogan da campanha. Formalmente, o spot é construído com uma montagem lenta e suave, acompanhado de uma música calma que não me distrai da mensagem que a publicidade visa transmitir. Saio do visionamento deste spot a sentir-me respeitado por quem o fez. Consequentemente, o seu apelo toca-me.</span><br /><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/yZcVLYt0a0Q&hl=en&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/yZcVLYt0a0Q&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><span class="Apple-style-span" style="font-size:large;"><div style="text-align: justify;">É um contraste absolutamente notório com o outro spot a que já aludi. Quem tenha comprado DVDs (tanto nacionais como internacionais) nos últimos anos certamente já terá visto a campanha publicitária que, à falta de um título melhor, podemos designar por "Você não roubaria um filme". Este spot, que também já passou pelos ecrãs grandes, é marcado por um tom agressivo tanto a nível das mensagens de texto como das formas visuais e sonoras (a música e a montagem, em especial, parecem estar constantemente a tentar martelar na cabeça do espectador!). A moral da história é feita através da comparação entre diversas formas de pirataria (download, compra nas feiras, etc.) e o roubo de um carro ou de uma mala. E, claro, acaba com uma ameaça: esta actividade é um crime, e quem o cometer pode apanhar vários anos de prisão e uma multa dolorosa!!! Sinto que quem fez este spot pensa que o espectador é uma criança ingénua que tem de saber que se brincar com o fogo, queima-se. Mas eu não sou uma criança...</div><div style="text-align: justify;"><br /><br /><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/iPcHhOBd-hI&hl=en&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/iPcHhOBd-hI&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object><br /></div><div style="text-align: justify; "><br /></div><div style="text-align: justify;">Além de tudo isto, tem uma outra característica particularmente irritante: surge no início do carregamento de cada disco e não pode ser saltado - o comando do utilizador fica bloqueado e este tem mesmo de o aturar caso queira ver o filme que o spot acompanha. Se alguém quiser ver uma série de TV (como "<a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Alfred_Hitchcock_Presents">Alfred Hitchcock Apresenta</a>", cuja box conta com a presença do spot), e fizer questão de ver um episódio de cada vez em sessões diferentes, vai ser forçado a gramar o clip toda e cada vez que o fizer. Outro ponto curioso: só surge em DVDs completamente legais comprados numa loja normal, constituindo, a meu ver, um dos piores incentivos inadvertidos à pirataria...*</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">A questão da cópia ilegal de filmes é muito mais complexa do que se pode presumir. Mas nem é isso que está em causa na comparação destes dois spots: trata-se, antes de mais, de saber e questionar o modo como as entidades culturais/industriais escolhem lidar com este problema - tratando os espectadores/consumidores como pessoas inteligentes que sabem pensar por si? Ou como uma espécie de infantes crescidos que têm de ser assustados para chegarem à razão?</div><div style="text-align: justify;"><br /></div></span><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-size:18px;"><i>*Entretanto, o spot tem sido alvo de inúmeras paródias tanto a nível amador como profissional. Deixo aqui duas particularmente bem conseguidas:</i></span></div><br /><object width="480" height="295"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/jMbAO4KSNXo&hl=en&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/jMbAO4KSNXo&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="480" height="295"></embed></object><object width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/AIZo4x_p4ug&hl=en&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/AIZo4x_p4ug&hl=en&fs=1" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="425" height="344"></embed></object>Unknownnoreply@blogger.com3