terça-feira, setembro 18, 2007

R.I.P. PREMIERE PORTUGUESA:1999 - 2007


Hoje, ao voltar a casa, descobri, com enorme choque, a notícia de que a Premiere, a única revista de cinema actualmente em publicação em Portugal, irá ter o seu derradeiro número já no próximo mês. Podem ler uma emocionada (e bem esclarecedora) nota do director da revista, José Vieira Mendes, no blog da revista. Creio que esse post explica melhor o que se passou para as coisas chegarem a este ponto do que qualquer tentativa de sumarizar o assunto numa ou duas linhas.

Sou leitor da versão portuguesa da Premiere desde o primeiro número. Quando surgiu no mercado, estávamos numa época onde a crítica cinematográfica e os textos sobre cinema estavam limitados a uma secção nos jornais generalistas e a uma ou duas "promo mags" oferecidas nas salas de cinema que pouco mais eram do que uma publicidade alargada disfarçada de "textos sérios". Se não me engano, a última tentativa de fazer uma revista dedicada à 7ª arte com uma grande circulação no país tinha sido a TV Filmes que, tal como as suas antecessoras, não se aguentou por muito tempo. A longevidade e a resistência da Premiere às atribulações do mercado português pareciam, por isso mesmo, sugerir que esta seria uma publicação para se aguentar durante muitos anos e bons. Prestes a concluir nove trezentos-e-sessenta-e-cinco dias de existência, vê agora as suas portas fecharem por "motivos de ordem económica". Ironia das ironias, as vendas até iam bastante bem...

Que fique claro, não creio que a Premiere fosse uma revista perfeita. Não alinho com os comentários disparatados que pintaram a revista como estando "ao serviço dos estúdios americanos", mas o certo é que as entrevistas às celebridades (importadas da Fotogramas espanhola, há que recordá-lo...) por vezes pareciam saídas da Caras, e muitos artigos interessantes pecavam por serem excessivamente curtos, sem desenvolver suficientemente o tema que propunham abordar. Porém, seria de uma tremenda injustiça e grosseria não reconhecer o enorme mérito de toda a equipa da revista em criar, todos os meses, textos e artigos que foram formando a cinefilia nacional - das crónicas de Criswell à cobertura dos festivais, passando pelas análises dos DVDs nacionais e importados, permitiu que críticos jovens como Marco Oliveira, Luís Salvado, Nuno Markl, Rui Pedro Tendinha ou Luís Canau pudessem ver os seus textos publicados. Sem nunca descurar os acontecimentos e as novidades da indústria a nível mundial, deu uma noção do que se fazia cá dentro na área da 7ª arte. Possibilitou, via o DVD que se tornou no "extra" da revista nos últimos anos, o contacto com alguns filmes de grande qualidade a um preço mais acessível. E, sobretudo, difundiu e partilhou a evidente paixão dos seus redactores pelo cinema. A crescente quantidade de respostas ao post de obituário da revista no seu blog oficial só prova que, nestes oito anos, conseguiu criar uma considerável comunidade de leitores fiéis que não pode ser ignorada.

Parece uma maldição que todas as revistas de cinema lançadas em Portugal tenham um fim inglório. Não deixa de ser paradoxal (e muito triste) constatar que aquela que é uma das mais populares artes das civilizações contemporâneas tem mais dificuldade em se impor por terras lusas do que uma revista de jardinagem ou a enésima publicação cor-de-rosa...

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