segunda-feira, agosto 08, 2022

"A Mulher do Espião" (スパイの妻 - Supai no Tsuma, 2020) de Kiyoshi Kurosawa

  

        Por uma coincidência assaz oportuna, calhou que 77 anos após o hediondo atentado contra a humanidade que foi o lançamento da bomba atómica na cidade de Hiroshima estivesse em exibição em algumas salas de cinema portuguesas a longa-metragem “A Mulher do Espião” de Kiyoshi Kurosawa, autor de obras marcantes do cinema japonês contemporâneo como “Kairo”, “Cure” ou “Tokyo Sonata”. Trata-se de um telefilme de 2020 posteriormente ‘convertido’ ao grande ecrã que arrecadou o Leão de Prata para Melhor Realização no 77º Festival de Veneza e que conta com um argumento original escrito pelo próprio realizador em colaboração com Tadashi Nohara e Ryusuke Hamaguchi - sendo este último ex-aluno de Kurosawa e um nome que os cinéfilos certamente reconhecerão pela sua mui aplaudida adaptação e realização do filme “Drive My Car”.

        Dizia que se trata de uma coincidência oportuna porque, não sendo um filme que aborde directamente o bombardeamento de Hiroshima (embora lhe faça uma referência nos momentos finais), mostra-nos uma faceta da história da Segunda Guerra Mundial que não é muito comum surgir retratada na ficção japonesa que de vez em quando chega aos nossos grandes e pequenos ecrãs: a da oposição interna ao governo nipónico durante os anos de ‘expansionismo’ do Império e da sua consequente aliança com o Eixo Italo-Alemão. Numa altura em que assistimos atónitos a uma guerra que nos convida a dividir o mundo em “bons” e “maus”, reduzindo populações inteiras de países ao estatuto único de “vítimas” ou “opressores” acríticos, a obra de Kiyoshi Kurosawa tem o grande mérito de nos mostrar que mesmo no seio de uma sociedade dirigida por uma ditadura nacionalista aparentemente consensual, há quem não consiga virar a cara à barbárie ou assistir passivamente à degradação do(s) outro(s); quem esteja disposto a arriscar a sua vida e a segurança daqueles que ama em nome de uma causa maior - e que, mesmo assim, não deixe de ser humano e, portanto, igualmente capaz de cometer actos tristemente deploráveis. As personagens desta história são tridimensionais: nem os seguidores do imperador Hirohito são todos monstros abomináveis, nem os cidadãos que resistem à deriva belicista um exemplo inatacável de bondade e altruísmo; todos têm os seus sonhos, desejos íntimos e frustrações pessoais, e é do choque desses elementos antagónicos que nasce o conflito que alimenta a história.
     
        Cada twist narrativo (e há vários) é exemplarmente executado com uma credibilidade à prova de bala e uma eficácia ímpar. E se falta algum impacto dramático ao final da narrativa, tudo o que lhe precede é tão esplendorosamente dirigido e escrito que facilmente perdoamos esse pequeno passo menos bem dado. Atente-se, por exemplo, à magnífica interpretação de Yu Aoi ao longo de todo o filme, um prodigioso trabalho de construção de personagem que comove e surpreende a cada nova cena. Ou admire-se a falsa simplicidade da realização de Kurosawa, sempre atenta ao sub-texto de cada cena e ao pulsar íntimo das pessoas que filma.
 
          Ver agora uma obra destas, ‘pintada’ em tons de cinza, poderá ser uma modesta mas sincera homenagem à memória das vítimas reais de um massacre causado por líderes de nações incapazes de ver além de uma doentia fantasia de domínio mundial. Até porque uma desgraça desta dimensão, ao contrário do que refere a célebre frase de Marx, ao repetir-se, nunca assumirá uma forma de farsa - mas apenas a de uma tragédia ainda maior.

domingo, maio 21, 2017

Laura Palmer (não) morreu por nós, pecadores - crónica de um regresso a Twin Peaks.

 

(aviso à navegação: o artigo que se segue contém alguns spoilers relativos às primeiras duas temporadas de “Twin Peaks”. Caso ainda não tenha assistido à série, há que proceder na leitura com algum cuidado…)

É já hoje, dia 21 de Maio, que chega ao fim aquele que deve ser o cliffhanger mais longo da história da televisão: vinte e seis anos depois, finalmente teremos uma ideia do que aconteceu ao agente Dale Cooper após, aparentemente, ter sido possuído pelo demónio Bob numa passagem trepidante pela misteriosa Black Lodge quando o canal Showtime emitir o primeiro episódio da muito esperada terceira temporada de “Twin Peaks”, uma das séries de ficção mais míticas dos anos 90. Escrita pela duo David Lynch/Mark Frost, demiurgos e mentores do projecto original desde o primeiro dia, este novíssimo capítulo marcará não só o regresso das personagens e histórias que intrigaram gerações de espectadores como também o retorno ao pequeno ecrã de um dos realizadores de cinema mais emblemáticos das últimas três décadas, pouco depois deste ter declarado que não tenciona voltar a filmar para a tela grande. Por isso mesmo, vale a pena revisitarmos esta cidade ficcional onde já fomos muito felizes enquanto provamos uma incrível fatia de tarte de cereja, acompanhada de uma chávena de café escuro como o breu, ao som de uma banda-sonora etérea e inesquecível.

Génese de uma cidade onde ninguém é inocente.

Um pequeno preâmbulo impõe-se. Na segunda metade dos anos 80, David Lynch, realizador reputado por explorar os confins mais obscuros da psique humana em filmes narrativos pouco convencionais como “Eraserhead - No Céu Tudo é Perfeito” ou “O Homem Elefante”, encontrava-se em estado de graça devido ao recente êxito de público e crítica que foi “Veludo Azul”, filme que o reabilitou após o gigantesco flop comercial da sua adaptação cinematográfica do romance “Duna” de Frank Herbert. É então convidado pelo seu agente, Tony Krantz, a conhecer um curioso argumentista que também era seu agenciado. Tratava-se de Mark Frost, um dos guionistas que estivera na equipa de escrita da série “Hill Street Blues - A Balada de Hill Street” de Steven Bochco, um dos maiores e mais revolucionários marcos da ficção televisiva da década de 80. A empatia entre os dois foi clara e não demoraram muito a encontrar-se a trabalhar juntos na escrita de um guião para cinema. Nascia, assim, a empresa “Lynch/Frost Productions”.
 
David Lynch e Mark Frost.

Contudo, as suas primeiras tentativas de colaboração saíram largamente frustradas: “Venus Descending”, uma adaptação do livro “Godess” de Anthony Summers que contava os últimos meses da vida de Marilyn Monroe, foi rejeitado pelo estúdio que a iria produzir; “The Lemurians”, uma série de televisão sobre um par de detectives à caça de extraterrestres, não passou da sessão de pitching em que foi proposta à NBC, enquanto que a longa-metragem de comédia “One Saliva Bubble” com Steve Martin ficou por filmar pelo simples facto da produtora de Dino de Laurentiis, que estava encarregue do filme, ter tido o triste infortúnio de entrar em falência.
O quadro não era propriamente animador mas Krantz insistiu que Frost e Lynch tentassem desenvolver um projecto para televisão. Nas conversas que iam tendo, os dois autores descobriram que tinham ambos passado a sua infância em cidades pequenas, e daí terá surgido a ideia de criar uma série desenrolada na small town America superficialmente pacata (mas interiormente repleta de tensões reprimidas) que ambos conheciam tão bem e que Lynch já começara a dissecar em “Blue Velvet”. O visionamento que os dois homens fizeram do filme “Peyton Place” de Mark Robson, outra obra sobre os segredos escondidos por debaixo de uma cidadezinha aparentemente pacata, revelou-se uma influência muito subtil, mas o momento Eureka deu-se durante uma conversa num café quando lhes apareceu a imagem do corpo de uma mulher embrulhado em plástico na margem de um rio. Estava lançada a semente que iria germinar na complexa teia de enredos e tramas passada na cidade fictícia de Twin Peaks.
    O plano, então, passou a ser o de escrever e produzir a meias um telefilme de 120 minutos que seria realizado com uma liberdade narrativa e formal muito maior do que a que era habitualmente concedida para uma produção de TV, criando um ambiente bem mais negro e bizarro do que era usual e filmando a história como se fosse uma obra para ser exibida no ecrã grande de uma sala de cinema. Tudo isto sem nunca responder à pergunta basilar de quem matou a rapariga. Assim, este telefilme serviria de episódio piloto de uma série de vários capítulos caso a sua continuidade fosse assegurada.
A equipa Lynch-Frost teve a feliz pontaria de apresentar o projecto no local certo à hora certa e às pessoas certas: nessa altura, o canal de televisão hertziana ABC encontrava-se em último lugar das audiências das chamadas “Big 3” (designação informal do conjunto das três maiores emissoras de televisão em sinal aberto nos EUA, sendo as outras duas a NBC e a CBS) e os seus gestores estavam desesperados por encontrar um programa que invertesse a sua sorte. Robert Iger, um desses executivos, mostrou-se muito receptivo à proposta de Lynch e Frost e decidiu apostar todas as suas fichas no projecto, concedendo à dupla de autores um controlo criativo inédito: não só tiveram carta-branca para a escrita do argumento como também garantiram o direito de supervisionar todo o processo de produção e pós-produção. Estavam criadas as condições para dar vida à cidade de Twin Peaks. Após nove dias de escrita e vinte e um dias de rodagem, o piloto foi montado e posteriormente mostrado aos executivos da ABC, que prontamente deram a luz verde à encomenda de 7 episódios adicionais. É então reunida uma equipa de argumentistas e de realizadores que, sob a supervisão dos criadores da série, irão dar forma a cada episódio.
 
Imagem do genérico da série "Dallas".
Convém ter uma noção de o que era o panorama televisivo em que surgiu “Twin Peaks” para melhor se perceber as razões porque teve um enorme impacto na paisagem audiovisual dos Estados Unidos (e do mundo) digno do avistamento de um OVNI. No final dos anos 80/início dos anos 90, a série de ficção média estava muito longe da sofisticação estética que o formato adquiriu ao longo das décadas seguintes. Basta constatar que o maior fenómeno popular da época era uma soap opera disfarçada de série semanal de longa duração que dava pelo nome de “Dallas”, e nela podíamos assistir às tricas e intrigas entre duas famílias texanas ligadas à exploração de petróleo. Cheia de reviravoltas mirabolantes com amor, sexo (implícito) e traição à mistura, a série atingiu o seu apogeu de popularidade quando uma das suas personagens principais foi misteriosamente assassinada e milhões de espectadores ficaram durante semanas a questionar-se “quem alvejou o JR?”. É, portanto, no meio de grelhas de programação alimentadas à base de seriados melodramáticos, séries policiais competentes mas pouco imaginativas, uma ou outra antologia de histórias de terror ou ficção-científica, muitas sitcoms de riso enlatado gravadas em suporte multi-câmara live-on-tape e várias novelas do horário da manhã/tarde que acabavam ou se eternizavam ao gosto de executivos reféns dos níveis de audiência registados pelos audímetros da Nielsen, que surge o meteoro criado por Lynch e Frost.
Ainda antes de ter estreado, esta aventura de David Lynch no reino da caixa que mudou o mundo foi considerada uma pequena ousadia: por regra não escrita, nos Estados Unidos os mundos do cinema e da televisão nunca ou raramente se misturavam, sendo o segundo visto como uma espécie de segunda divisão do primeiro, apesar de cineastas como Alfred Hitchcock ou (a nível internacional) Roberto Rossellini e Krzysztof Kieślowski já terem explorado as possibilidades artísticas do pequeno ecrã com resultados francamente estimulantes. Lynch era um outsider que confessava só ter visto uns poucos episódios de “Perry Mason” e, além do mais, era conhecido pelo seu gosto experimentalista, algo considerado pouco passível de ser adaptado aos constrangimentos comerciais da televisão. Nesse sentido, Mark Frost terá sido decisivo para habituar o autor de “Eraserhead” às regras de formatação de uma série, criando um equilíbrio notável entre uma narração escorreita e o pendor para o (sur)realismo mágico.

Um sítio maravilhoso e estranho.
 
Laura Palmer (Sheryl Lee) aparece assassinada logo no primeiro episódio.

Como o título anuncia, esta história tem lugar em Twin Peaks, cidade situada no Noroeste dos Estados Unidos. Laura Palmer, uma adolescente bela, extremamente popular e muito reputada, é encontrada morta ‘embrulhada em plástico’ à beira-rio. O assassinato manda ondas de choque por toda a comunidade e ninguém parece conseguir entender o motivo do crime.
Dale Cooper, um agente do FBI deliciosamente excêntrico, é encarregado de investigar o crime juntamente com o xerife local, Harry S. Truman. No decorrer da investigação ficamos a perceber que a vítima não era o modelo de virtude que toda a gente julgava, levando uma vida dupla numa cidade onde se escondem muitos segredos que são uma espécie de altar ao lado mais negro da alma humana: há abuso doméstico e adultério, assassinos em série, passagens secretas, incesto, prostituição juvenil, tráfico de droga internacional, sociedades secretas, triângulos amorosos, amores frustrados, conspirações, misticismo, espionagem industrial, pessoas supostamente mortas que regressam para exercer vingança, complôs governamentais, vilões over-the-top, etc.
    Se isto tudo faz lembrar a típica narrativa de uma telenovela levada ao seu máximo exagero, não é por acaso: “Twin Peaks” usa desavergonhadamente a estrutura e as convenções da soap opera americana, subvertendo-as constantemente e usando cada clichê a seu favor. Isto porque, na aparente banalidade da história, irrompem elementos absolutamente absurdos que a tornam única: o agente Cooper inspira-se no conteúdo dos seus sonhos para desvendar o mistério e tem visões de um gigante que lhe fornece pistas fundamentais, há uma senhora que carrega um tronco de madeira que lhe conta segredos, um anão críptico que fala em reverse e dança num local para além do tempo e do espaço onde convivem misteriosas forças possivelmente sobrenaturais, etc. A justaposição improvável de momentos de melodrama de faca e alguidar com comédia nonsense e cenas de terror genuinamente assustadoras é executada com uma mestria orgânica e muito cativante. E, no meio da intriga policial, surge um comovente retrato do quotidiano da pequena cidade americana: Lynch e Frost têm um genuíno amor pelas suas personagens, cada uma com direito ao seu próprio arco narrativo, e o carismático elenco de actores reunidos para a ocasião confere-lhes uma existência singular. Há também uma bela ode aos pequenos prazeres do dia-a-dia - veja-se o quase fetichismo no aparecimento recorrente de donuts, tartes de cereja e café. É difícil ver um episódio sem ficar com vontade de provar alguma destas coisas… 
 
Audrey Horne (Sherilyn Fenn) observa o agente Dale Cooper (Kyle MacLachlan)

Apesar de ser escrito e realizado a várias mãos, há um cuidado de mise-en-scéne e fotografia que percorre toda a primeira temporada (e boa parte da segunda) e lhe assegura uma média de qualidade bastante elevada, embora não haja dúvida de que são os episódios realizados por David Lynch que mais chamam a atenção: algumas das melhores sequências, como o assassinato de Maddy, são uma autêntica masterclass de como realizar uma cena de terror. E, claro, não poderíamos esquecer a incrível música de Angelo Badalamenti, com aquele mítico tema de abertura tão ou até mais emblemático que a série em si a abrir cada episódio e a estabelecer o ambiente desde o primeiro fotograma.
    Dizer que o êxito do episódio piloto excedeu largamente as expectativas mais optimistas é pecar por defeito. Frente a frente com a sitcom “Cheers, Aquele Bar” na NBC, o primeiro capítulo de “Twin Peaks” registou níveis de audiência dignos da emissão do Super Bowl e no dia seguinte a pergunta “quem matou Laura Palmer?” foi o tópico de conversa em todas as pausas para café nos EUA. Isto sem referir a entusiasta aclamação da crítica especializada. Nascia assim um fenómeno cultural que não tardou a difundir-se pelo globo, alcançando níveis de popularidade espantosos na Europa e no Japão (onde, aliás, o agente Dale Cooper protagonizou uma divertida série de anúncios publicitários realizados pelo próprio David Lynch para a marca de café Georgia) e ganhando o direito a uma paródia no programa Saturday Night Live.
Em Portugal, “Twin Peaks” foi primeiramente exibido no início da década de 90 no Canal 1 da RTP em pleno horário nobre de quinta-feira, tal como no seu país de origem. Pouco tempo depois, a versão europeia do episódio piloto (com um final alternativo feito especialmente para que a narrativa do telefilme fosse auto-conclusiva) foi lançado em VHS no mercado de vídeo português pela Warner Home Video com o título “Calma Assassina”. A obra ganhou um segundo fôlego quando foi reposta enquanto série de culto na SIC Radical na segunda metade de 2003, permitindo que toda uma nova geração conhecesse a cidade onde as corujas não são o que parecem. Alguns anos mais tarde, a primeira temporada foi editada em DVD pela Lusomundo Audiovisuais, mas a segunda nunca chegou a solo luso.*
Graças ao êxito da primeira temporada, “Twin Peaks” acabou por ganhar as dimensões de um verdadeiro projecto transmedia, com a narrativa a expandir-se para outros suportes além da televisão. Exemplos disso são o audiobook “Diane… The Twin Peaks Tapes of Agent Cooper”, uma compilação narrada pelo actor Kyle MacLachlan das várias gravações de áudio feitas pelo agente Cooper ao longo das suas investigações e, também, o livro “O Diário Secreto de Laura Palmer”, publicado com vista a relatar vários episódios da vida da personagem que nos aparece assassinada logo no primeiro episódio. Escrito pela filha do realizador da série, Jennifer Lynch, então com 22 anos, o romance não se limita a ser um ‘spin-off’ descartável, dando-nos a conhecer muito melhor a personagem de Laura Palmer e diversos pormenores da história a que nunca tivemos acesso durante os 29 episódios que foram para o ar. Mais recentemente, Mark Frost publicou “A História Secreta de Twin Peaks”, um romance epistolar que explora de forma aprofundada o passado da cidade e as origens dos seus habitantes. Ou seja, estes objectos derivados não se limitam a complementar a narrativa do original: completam-na.

Do sonho ao pesadelo na Black Lodge.
    
A última imagem da série: Cooper vê a imagem de Bob (Frank Silva) no espelho e ri loucamente.

Se a primeira temporada foi um sucesso inegável a todos os níveis, o mesmo não se pode dizer da segunda fornada de episódios. Após um arranque muito forte que culmina na revelação da identidade do assassino de Laura Palmer (num conjunto de episódios que é um tour-de-force de realização executado por Lynch), a equipa de guionistas deparou-se com o problema de ter de dar continuação a uma história cujo principal mistério fora efectivamente resolvido. Apesar de continuarem a supervisionar a direcção da série, Lynch e Frost partiram para outros projectos (um dos quais, o filme  “Wild at Heart - Coração Selvagem”, valeu a Lynch a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes de 1990) e pareceram desinteressar-se da sua criação. Entregues à sua sorte, os argumentistas de serviço optaram por concluir a trama do tráfico de droga na fronteira com o Canadá e introduzir uma nova storyline envolvendo o macabro William Erle, um antagonista extravagante saído do passado do agente Cooper. Contudo, à falta de um gancho narrativo empolgante ao nível do da primeira temporada, os guionistas depositaram demasiada confiança no charme das suas personagens enquanto pólo de atracção, criando situações rocambolescas cada vez mais forçadas e menos originais, novos subplots que foram aparecendo e desaparecendo sem deixar grande marca e introduzindo duas novas personagens unicamente para servir de love interest a dois membros do elenco regular por motivos de bastidores que nada tinham a ver com a lógica da série.
Sem um mistério forte que as segurasse, as audiências foram caindo a cada nova semana. Mas o verdadeiro golpe de morte terá sido dado quando a ABC, desiludida com os números decrescentes de Twin Peaks, decidiu trocar o dia e o horário de exibição da série de quinta-feira para sábado à noite, o que só fez com que os espectadores que ainda se mantinham fidelizados se perdessem definitivamente. Nem uma hilariante campanha publicitária auto-irónica conseguiu impôr o novo horário que, ainda por cima, resultou no ocasional adiamento da transmissão dos episódios graças aos boletins noticiosos de última hora resultantes dos acontecimentos imprevisíveis da Guerra do Golfo. Quando a série voltou ao seu lugar original na programação nocturna de quinta-feira, era já tarde demais para impedir o seu inevitável cancelamento.
    Percebendo a gravidade da situação, Lynch e Frost regressaram em força ao leme dos últimos capítulos da segunda temporada. O derradeiro episódio, em particular, é um caleidoscópio Lynchiano onde qualquer convenção narrativa é mandada às urtigas em nome de uma montanha russa emocional que fecha com o tal cliffhanger a que aludimos no início deste texto. Uma derradeira tentativa que se revelou infrutífera, pois a série foi primeiramente colocada em ‘pausa por tempo indeterminado’ pela ABC e, posteriormente, cancelada sem pompa nem circunstância.

Reviver o passado em Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer.

Imagem promocional do filme "Twin Peaks - Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer"

Terminada esta aventura televisiva, David Lynch e Mark Frost trabalharam (sem grande sucesso) noutros projectos para o pequeno ecrã, mas o fantasma de Laura Palmer continuava a pairar nas suas mentes. Lynch, especificamente, sentia que ainda havia muito para contar, e pouco depois do último episódio da série ir para o ar foi feito o anúncio de que a cidade seria revisitada numa prequela feita especialmente para o cinema.
Esta longa-metragem viria a chamar-se “Twin Peaks - Fire Walk With Me”, sendo o seu título em Portugal “Twin Peaks - Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer”. Escrito a quatro mãos por David Lynch e Robert Engels (um dos membros da equipa de argumentistas da série), o filme relata os acontecimentos da última semana da vida de Laura, dando-nos a conhecer uma jovem mulher submergida numa existência esmagada pela dependência de cocaína e pelo abuso sexual recorrente perpetrado pelo misterioso Bob, cuja verdadeira identidade é a mais trágica das revelações. O filme abre com a imagem de uma televisão repleta de estática a ser destruída por um machado, o que muitos interpretaram como sendo um grito de libertação das restrições televisivas pela parte do realizador. De facto, o filme vai bem mais longe do que a série no que toca não só à exibição de nudez e violência como na sua construção formal, muito mais elíptica, onírica e surreal. A imagética é frequentemente perturbadora, com a banda-sonora (desenhada pelo próprio David Lynch) a gerar um sentimento geral de desconforto que se mantém quase constante ao longo das duas horas de duração da película, clima de angústia que é ampliado pela cuidadosa composição musical do sempre brilhante Badalamenti. É neste palco bizarro que brilham dois grandes desempenhos - o de Sheryl Lee, finalmente livre para encarnar uma Laura Palmer que até aí primava pela sua ausência, e o de Ray Wise no complicadíssimo papel de Leland Palmer, pai da protagonista.
Apesar do esforço artístico demonstrado, a estreia do filme no Festival de Cannes de 1992 foi uma amarga desilusão, com a generalidade de crítica a mostrar-se bastante adversa quando apenas dois anos antes aplaudira entusiasticamente “Wild at Heart”. Aquando do seu lançamento comercial nas salas, o filme também não conquistou a simpatia do público, que lhe virou as costas. Esta reacção tépida à fita não impediu que, com o passar do tempo, ganhasse uma aura de filme de culto e viesse a ser reavaliada de forma muito positiva no contexto da obra de Lynch. Mas parecia ser o fim definitivo da história. Até que...

Para além da nostalgia.


Poster da nova temporada de Twin Peaks.
    … em Outubro de 2014, o canal de televisão por subscrição Showtime anunciou que chegara a acordo com David Lynch e Mark Frost para a produção de uma terceira temporada de “Twin Peaks”, com os dois criadores da série de novo aos comandos dos destinos dos habitantes daquela cidade. Apesar de alguns percalços pelo caminho que quase resultaram na saída de Lynch do projecto devido a restrições orçamentais, a produção avançou e totalizou 18 episódios. Pouco se conhece do enredo da nova temporada, sabendo-se apenas que terá lugar 25 anos após os acontecimentos do último capítulo; que boa parte do elenco original regressará ao lado de um conjunto de novos actores, e que o insubstituível Angelo Badalamenti continuará a preencher-nos os sonhos (e pesadelos) com as suas composições musicais.
    E aqui começam as interrogações. Nunca é demais sublinhar a importância de “Twin Peaks” na evolução da ficção televisiva: é muito pouco provável que séries como “Ficheiros Secretos”, “Sete Palmos de Terra” ou “Breaking Bad” tivessem existido nos moldes em que foram transmitidas sem que Lynch e Frost tivessem aberto caminho primeiro. Porém, se ninguém questiona o seu lugar na história, a verdade é que a televisão mudou muito desde a noite em que o episódio 30 foi para o ar pela primeira vez. A imposição da TV por cabo/internet paga por subscrição veio conferir toda uma nova liberdade criativa que seria impossível na tradicional televisão de sinal aberto dos anos 90, não só no que toca à exibição de conteúdos mais violentos ou sexuais como, também, na própria construção narrativa, visto que, no universo da pay-tv, não existe o constrangimento de escrever as cenas do guião de modo a que haja um intervalo para publicidade a cada dez minutos. A proliferação de enredos cada vez mais complexos, personagens muito menos estereotipadas e a predominância de um um ponto de vista autoral ancorado não no realizador mas no argumentista-chefe que é o showrunner são apenas algumas das características de uma série típica produzida em 2017. Se as soap operas continuam por aí, são muito menos relevantes nestes dias em que o mundo anseia por saber o que irá acontecer no novo capítulo de “Game of Thrones”. E há razões legítimas para preocupação quando sabemos que algumas séries de culto do século passado que ressuscitaram nos últimos anos tiveram uma recepção bastante dividida - atente-se aos casos dos regressos de “Ficheiros Secretos” e “Dragon Ball Super” para ver que não é tarefa simples voltar a universos que em tempos nos deram muitas alegrias.
Ainda assim, é impossível conter o entusiasmo que esta nova temporada desperta, e fazemos figas para que seja um puro prazer revisitar personagens que nos são tão familiares como velhos amigos. Sublinhe-se um derradeiro elemento de esperança: ao contrário das temporadas anteriores, David Lynch irá realizar todos os 18 episódios desta nova fornada. E Lynch, como sabemos, tem um talento inato para nos surpreender…

O primeiro episódio de “Twin Peaks” vai para o ar em Portugal no dia 28 de Maio às 22h 00m no canal TVSéries, uma semana depois de estrear nos EUA.
 
* - Adenda acrescentada a 09/10/22: a segunda série chegou a ser efectivamente editada em DVD em Portugal pela Paramount como se pode comprovar neste link, porém, tal só sucedeu após a redacção deste artigo, provavelmente durante a exibição da terceira temporada. Em todo o caso, e infelizmente, esta box encontra-se actualmente fora de circulação. Porém, à data da escrita desta adenda, as três temporadas da série podem ser visionadas na íntegra em streaming na HBOMax.

sexta-feira, agosto 10, 2012

Descoberto nos saldos: "Uma Mulher Para Dois" de Ernst Lubitsch

Ernst Lubitsch é um daqueles cineastas geniais cuja obra merecia muito mais destaque - "Design for Living", uma magnífica pérola intitulada "Uma Mulher Para Dois" no mercado luso, está à venda na FNAC pela módica quantia de 5 euros. E se não acreditam que vale bem esses antigos mil escudos, vejam a abertura do filme: parece uma lição de como construir uma cena reduzindo o diálogo ao mínimo - neste caso, a um conjunto de escassos diálogos em francês manhoso que é dificilmente perceptível pelo espectador sem o auxílio de umas esclarecedoras legendas.


sexta-feira, março 09, 2012

O Último dos Projeccionistas

Numa altura em que a Tobis anuncia o fim do seu serviço de revelação de película, o Inferno foi entrevistar "O Último dos Projeccionistas". Uma reportagem de Helder Gomes com imagem de David Neto, montagem de Ricardo Gonçalves e pós-produção áudio de Pedro Torres.

segunda-feira, março 08, 2010

Tarde e a más horas - The 2010 Oscars in a nutshell:

Vitória completamente merecida de "The Hurt Locker" (estava à espera que ganhasse o Avatar por ter trazido muitos espectadores de volta às salas de cinema, mas a Academia conseguiu ver para além dos números), Kathryn Bigelow a receber um prémio justíssimo (há dúvidas de que é uma excelente realizadora? Vejam "Near Dark"...) e a fazer história no processo. "Up In the Air" merecia prémios e não os teve, Tarantino ficou mal de mãos a abanar mas viu "o seu" genial Christoph Waltz confirmar as expectativas. De resto, foi uma cerimónia algo aborrecida, com uns bons números de Steve Martin & Alec Baldwin mas sem a mais pequena centésima de "inovação" que tanto se prometeu - a não ser que o ritmo cada vez mais alucinante a que eram entregues estatuetas fosse o tal aspecto revolucionário que era prometido! Pela minha parte, e pela 1ª vez na minha história de espectador dos Oscars, acabei por adormecer a meio...

P.S. - Era indecente esquecer isto: a homenagem a John Hughes foi um dos pontos altos da cerimónia, e foi espantoso ver tanta gente "lançada" pelo autor do "Breakfast Club" junta no palco a prestar o seu tributo ao realizador. É a prova de que a Academia não precisa de grandes números de music-hall para oferecer-nos um momento simples e bonito.

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Para 2010...

... 500 dias de Verão. E, já agora, o filme "500 Dias com Summer" nas salas de cinema nacionais. Porque é mesmo tão bom quanto a hype o pinta...

(off-topic) Motivação é o que é preciso!

Ora eis a melhor razão para nunca, mas mesmo NUNCA!, fazer uma pausa na escrita do blog: 13 menagens de Spam na caixa de comentários de um único post!

Com esta bela experiência, fiquei a aprender que carregar no botão "apagar" tantas vezes cansa muito mais do que escrever um ensaio de 20 páginas sobre a montagem na obra de Elia Kazan ou as maravilhas da construção Multi-Plot nos filmes de Robert Altman. E, apesar de tudo, não é tão recompensador. Enfim, adiante...

domingo, outubro 04, 2009

Geração perdida ou esquecida?

Numa altura em que parece haver uma pequena euforia em torno de Pedro Costa graças à retrospectiva da sua obra no Tate Modern e ao lançamento em DVD de "O Sangue", vale a pena chamar a atenção para o excelente artigo de Jorge Mourinha no Ipsilon, "Geração Perdida", sobre os seus antigos colegas da Escola de Cinema que trabalharam no filme e cujos contributos para a obra em questão e para o cinema português, em muitos casos, foram injustamente esquecidos ou menosprezados. Faltou falar da montadora do filme, Manuela Viegas, mas não deixa de ser um dos textos mais elucidativos sobre toda uma geração de cineastas cuja história ainda está por contar.

sábado, setembro 26, 2009

(Off-topic) Período de reflexão

Sobre o dia de amanhã, deixo dois pensamentos que esses génios da comédia que são Trey Parker e Matt Stone tão bem conseguiram cristalizar:





Para bom entendedor...

domingo, junho 28, 2009

THE AUTEURS – Uma outra forma de lidar com a net


Com tanta agitação actualmente em torno do tema da pirataria (cujo ponto mais fascinante será, certamente, a recente eleição, na Suécia, de um deputado do Partido Pirata para o Parlamento Europeu), vale a pena chamar a atenção para um novo serviço baseado na Internet que procura alterar as regras do jogo e oferecer uma alternativa viável e legal às pessoas que descarregam filmes através dos programas peer-to-peer.

The Auteurs é um site norte-americano que fornece acesso a uma imensa selecção de filmes de qualidade para visionamento em streaming de óptima definição – nele podemos encontrar títulos tão distintos como “Dogville” de Lars Von Trier, “O Despertar da Mente” de Michel Gondry, “Mulholland Drive” de David Lynch, “A Aventura” de Michelangelo Antonioni e inclusive algumas obras portuguesas como “O Fatalista” de João Botelho.

Cinema de autor, cinema independente, alternativo/experimental, clássico e mainstream sem ser “desprovido de visão pessoal” constituem o núcleo duro do catálogo do site. Os filmes estão disponíveis online através de protocolos assinados com entidades tão reputadas como a editora norte-americana The Criterion Collection e a World Cinema Foundation de Martin Scorsese – estando os títulos restaurados por esta última, aliás, a ser disponibilizados gratuitamente (e para todo o mundo) no site num gesto de verdadeiro serviço público que só se pode aplaudir de pé.

O preço médio de cada visionamento (para Portugal) é de cinco euros, sendo que o utilizador tem direito a ver o filme escolhido por um número de vezes limitado. Para além do serviço de video-on-demand através da consulta do catálogo, a apresentação dos filmes também é feita através de ciclos temáticos organizados pela equipa do site, e estes são complementados com artigos e dossiers criados especificamente para as suas páginas. Também funciona como uma espécie de rede social baseada nos modelos do FaceBook, MySpace ou Hi-5, tendo como enfoque principal os gostos cinematográficos definidos no perfil de cada um dos utilizadores. Existe igualmente um fórum onde se discutem os mais diversos temas (até o cinema português!) e onde a conversa geralmente mantém um nível argumentativo sólido. No fundo, procura-se criar um espírito de comunidade cinéfila num espaço virtual onde se pode alugar filmes.

Apesar das várias virtudes deste projecto há, no entanto, alguns defeitos que não o tornam tão apetecível quanto poderia ser e que merecem ser mencionados:

1 – O preço dos downloads é, sobretudo para um mercado não propriamente rico como o português, manifestamente elevado. Cobrar cinco euros (aquele que era, até há pouco tempo, o preço normal de um bilhete de cinema por estas partes) pelo visionamento em streaming de um filme de catálogo que o utilizador não pode guardar é um exagero que irá afastar muitos espectadores que prefiram gastar um pouco mais (ou, em vários casos, o mesmo ou menos!) para comprar a obra em DVD numa loja física ou online. Se o objectivo do serviço é ser uma espécie de evolução dos alugueres clássicos feitos num vídeoclube, os preços praticados deveriam ser semelhantes, ou seja, nunca superiores a qualquer coisa como 2,5 euros. E quando ficamos a saber que os nossos congéneres norte-americanos pagam cinco dólares (cerca de 3.55 euros, à hora a que escrevo isto) pelo mesmo serviço...

2 – A tecnologia streaming é impecável, não tendo absolutamente nada a ver com a qualidade dos vídeos do YouTube, mas deveria haver a possibilidade de se guardar o filme visionado, nem que seja por um preço adicional. Percebe-se que o streaming tenha sido adoptado de modo a evitar uma subsequente pirataria dos filmes descarregados do site, mas seria preferível utilizar uma tecnologia que permita o armazenamento legal dos filmes. Um dos aspectos mais característicos da cinéfilia é, precisamente, o coleccionismo, uma vertente completamente impossibilitada pelo streaming.

3 – Apesar do notável esforço de se demarcar dos restantes sites de video-on-demand que só disponibilizam os seus filmes para download em territórios específicos, o catálogo à disposição dos internautas portugueses está ainda bastante limitado aos títulos da distribuidora Atalanta Filmes – existem algumas honrosas excepções como o “After Life” de Hirokazu Koreeda ou o “Akarui Mirai - Bright Future” de Kiyoshi Kurosawa, mas o grosso dos filmes são os mesmos que podemos encontrar numa FNAC na secção de Cinema de Autor a um preço um pouquinho mais caro do que aqueles praticados no site (com a diferença significativa do cliente poder guardar os DVDs e vê-los as vezes que desejar durante o tempo que quiser). Note-se que as razões para estas limitações apontadas pelos responsáveis pelo site são completamente válidas: como cada filme tem os seus direitos comprados para cada país por editoras distintas, é certo que é difícil negociar com todas estas e conseguir acordos razoáveis, sobretudo quando, nalguns casos, só se quer comprar os direitos de um filme específico; e sim, é óbvio que é mais fácil negociar um catálogo inteiro do que um título em particular. Mas falta ainda dar alguns passos para tornar a selecção verdadeiramente “completa”, e acredito plenamente que sejam dados com a evolução do serviço.

4 – Por último, quem não conseguir ler inglês fluentemente vai passar alguns maus bocados, já que nem todos filmes disponíveis são apresentados com legendas em português (muitas vezes, a única opção disponível é a de legendas em inglês para filmes cuja versão original não é falada na língua de Shakespeare). Seria igualmente salutar que o site pudesse oferecer o download das legendas de cada filme à parte consoante as preferências do cliente. Pode parecer uma piquinhice numa época em que o inglês assume o papel de “novo latim”, mas é mais um aspecto que pode ser melhorado e que ajudará a aliciar novos espectadores.

Não se pretende, com estas observações, denegrir os objectivos do site – pelo contrário, creio que “The Auteurs” é um passo em frente significativo e inteligente no combate à pirataria e à consolidação do video-on-demand como nova janela de exibição, simplesmente precisa de ser aperfeiçoado aqui e ali. Para um projecto que ainda está na fase BETA, só se pode elogiar aquilo que já se conseguiu.

Acima de tudo, nota-se que The Auteurs é feito e mantido por pessoas que nitidamente amam o cinema, que têm uma visão verdadeiramente cinéfila do relacionamento de um espectador com um filme – e este é um aspecto nada negligenciável nestes tempos que correm.