sábado, dezembro 08, 2007

Pela honra de quem se mata a escrever

Como já deve ser do conhecimento geral, os argumentistas norte-americanos inscritos no Writer's Guild of America (WGA) encontram-se actualmente em greve - o resultado disto é que séries de ficção como "Heroes" e talk-shows como o "The Tonight Show" ou "The Daily Show" estão, actualmente, a passar episódios antigos (e isto tanto nos EUA como em Portugal), num regime de repetições que só terminará quando as negociações com as produtoras e as cadeias de televisão se resolverem.

Mas se a greve tem sido amplamente divulgada nos media, já as razões que levaram à sua existência não têm sido suficientemente esclarecidas. Encontrei este vídeo no blog da Ardelua, e não resisto a colocá-lo aqui, pois explica, de uma forma concisa, completa e muito divertida, o busilis da questão:



Se ficarem sensibilizados, convido-vos a visitarem o blog oficial dos grevistas e a assinarem a petição online de apoio à causa dos argumentistas. O meu nome já lá está...

P.S. - E quando é que, em Portugal, os nossos profissionais do audiovisual se decidem a "bater o pé" com a mesma dignidade que os seus congéneres americanos?

domingo, novembro 18, 2007

O tamanho importa...



Ontem, pouco antes do jogo da Selecção Nacional, o noticiário da RTP apresentou um curioso alinhamento de notícias que, de certa forma, é um primoroso retrato do nosso país: a primeira reportagem falava-nos do encerramento do Cinema Quarteto por falta de condições de segurança; a isto, seguiu-se um mui pomposo bloco que nos mostrava como o país olhou deslumbrado para a inauguração da Maior Árvore de Natal da Europa no Porto.

Um dos cinemas mais emblemáticos de Lisboa, responsável pela exibição de centenas de títulos marcantes que qualquer cinéfilo que o tenha visitado não pode esquecer, ameaça fechar as portas apesar dos esforços dos seus responsáveis para corrigir a situação, mas não há problema: a nossa Árvore de Natal é maior do que as dos outros países do nosso continente! Enfim, prioridades...

domingo, outubro 21, 2007

Dario Argento Ritorna: La Terza Madre (The Third Mother: Mother of Tears)


Estreia dia 31 deste mês na Itália aquele que deve ser um (o?) dos filmes de terror mais aguardados dos últimos tempos - "La Terza Madre" de Dario Argento, o terceiro e último capítulo de uma mítica trilogia iniciada há precisamente 30 anos com o extraordinário "Suspiria" pelo realizador de obras como "Profondo Rosso" ou "Phenomena", trilogia essa interrompida (e só agora retomada) após o fracasso comercial do segundo opus, "Inferno" (1980).

A trailer, que pode ser vista aqui, está na net há já algum tempo e permite aguçar o apetite para o que aí vem. Não parece que estejamos perante os mesmos espectáculos visuais do primeiro filme (embora, diga-se de passagem, a fotografia esteja com óptimo aspecto), mas o argumento parece bastante interessante e é sempre bom saber que a música é composta por Claudio Simonetti (grande colaborador de Argento e antigo membro dos Goblin, banda responsável pela fabulosa música de "Suspiria") e que Asia Argento, a filha do realizador e uma actriz de excepção, é a protagonista.

Dario Argento declarou à revista francesa Mad Movies que este é o filme mais gore que alguma vez rodou e que foi criado no mesmo estilo das suas obras dos anos 70 (que muitos fãs consideram ser o seu período de ouro). As reacções às poucas exibições que o filme teve em festivais têm sido mistas, mas nada que tolde o entusiasmo em torno da obra.

Argento é um dos nomes de referência do cinema fantástico Italiano desde o início dos anos 70. Capaz de fazer algumas das maiores obras dos respectivos géneros ("Suspiria", "Profondo Rosso") como também títulos francamente fracos ("Trauma", "Ti Piace Hitchcock?"), os seus mais recentes trabalhos foram dois episódios para a série "Masters of Horror" - "Jenifer", na primeira temporada, e "Pelts", na segunda. O seu último filme estreado nas salas foi "Il Cartaio - O Jogador Misterioso", que foi editado em Portugal directamente em DVD numa edição unicamente dobrada em inglês. Por cá, a última obra que vimos nos ecrãs grandes portugueses foi "O Fantasma da Ópera" em... 1999.

Alguma esperança de virmos a ter este filme a estrear nas nossas salas? Façamos figas...

sábado, setembro 29, 2007

Um novo Jump Cut!

Vem tarde, mas não podia deixar de fazer a publicidade gratuita ao recentemente reactivado Jump Cut, um blog de cinema assinado por um velho amigo desta casa (o famigerado Excombatente!) que voltou à escrita sobre a 7ª arte neste mês de Setembro. Fica aqui o desejo de uma boa continuação nesta aventura, e também a recomendação de leitura do artigo sobre o fantástico "Nevoeiro" desse mestre que é John Carpenter. A consultar frequentemente, até porque o seu autor escreve com alguma maior regularidade do que eu...

Publicidade Divina


"My Blueberry Nights" de Wong Kar-Wai tarda a estrear em Portugal (estreará sequer?). Mas enquanto vamos aguardando pelo dia em que as nossas salas possam descobrir a primeira aventura em território americano do realizador de "In the Mood for Love", podemos deleitar-nos com esta pequena maravilha de anúncio que WKW dirigiu recentemente para a Dior. E quando a musa* do autor para esta very-short-story é a sublime Eva Green, temos a certeza que o que nos espera é algo de realmente especial! Vejam e admirem - afinal, a publicidade também é (ou pelo menos pode ser) cinema...

* - Por falar em musas, e para que a questão não fique sem resposta, a música de fundo do spot é nem mais nem menos do que "Space Dementia" dos Muse.

terça-feira, setembro 18, 2007

R.I.P. PREMIERE PORTUGUESA:1999 - 2007


Hoje, ao voltar a casa, descobri, com enorme choque, a notícia de que a Premiere, a única revista de cinema actualmente em publicação em Portugal, irá ter o seu derradeiro número já no próximo mês. Podem ler uma emocionada (e bem esclarecedora) nota do director da revista, José Vieira Mendes, no blog da revista. Creio que esse post explica melhor o que se passou para as coisas chegarem a este ponto do que qualquer tentativa de sumarizar o assunto numa ou duas linhas.

Sou leitor da versão portuguesa da Premiere desde o primeiro número. Quando surgiu no mercado, estávamos numa época onde a crítica cinematográfica e os textos sobre cinema estavam limitados a uma secção nos jornais generalistas e a uma ou duas "promo mags" oferecidas nas salas de cinema que pouco mais eram do que uma publicidade alargada disfarçada de "textos sérios". Se não me engano, a última tentativa de fazer uma revista dedicada à 7ª arte com uma grande circulação no país tinha sido a TV Filmes que, tal como as suas antecessoras, não se aguentou por muito tempo. A longevidade e a resistência da Premiere às atribulações do mercado português pareciam, por isso mesmo, sugerir que esta seria uma publicação para se aguentar durante muitos anos e bons. Prestes a concluir nove trezentos-e-sessenta-e-cinco dias de existência, vê agora as suas portas fecharem por "motivos de ordem económica". Ironia das ironias, as vendas até iam bastante bem...

Que fique claro, não creio que a Premiere fosse uma revista perfeita. Não alinho com os comentários disparatados que pintaram a revista como estando "ao serviço dos estúdios americanos", mas o certo é que as entrevistas às celebridades (importadas da Fotogramas espanhola, há que recordá-lo...) por vezes pareciam saídas da Caras, e muitos artigos interessantes pecavam por serem excessivamente curtos, sem desenvolver suficientemente o tema que propunham abordar. Porém, seria de uma tremenda injustiça e grosseria não reconhecer o enorme mérito de toda a equipa da revista em criar, todos os meses, textos e artigos que foram formando a cinefilia nacional - das crónicas de Criswell à cobertura dos festivais, passando pelas análises dos DVDs nacionais e importados, permitiu que críticos jovens como Marco Oliveira, Luís Salvado, Nuno Markl, Rui Pedro Tendinha ou Luís Canau pudessem ver os seus textos publicados. Sem nunca descurar os acontecimentos e as novidades da indústria a nível mundial, deu uma noção do que se fazia cá dentro na área da 7ª arte. Possibilitou, via o DVD que se tornou no "extra" da revista nos últimos anos, o contacto com alguns filmes de grande qualidade a um preço mais acessível. E, sobretudo, difundiu e partilhou a evidente paixão dos seus redactores pelo cinema. A crescente quantidade de respostas ao post de obituário da revista no seu blog oficial só prova que, nestes oito anos, conseguiu criar uma considerável comunidade de leitores fiéis que não pode ser ignorada.

Parece uma maldição que todas as revistas de cinema lançadas em Portugal tenham um fim inglório. Não deixa de ser paradoxal (e muito triste) constatar que aquela que é uma das mais populares artes das civilizações contemporâneas tem mais dificuldade em se impor por terras lusas do que uma revista de jardinagem ou a enésima publicação cor-de-rosa...

quinta-feira, agosto 30, 2007

"We'll be right back after these wise words from our sponsors..."


Por motivos de cariz profissional (isto é: porque vou estar a trabalhar!), o CineArte vai ficar de actividade suspensa até, pelo menos, 5 de Setembro. Entretanto, e para compensar a minha curta ausência, deixo aqui um vídeo hillariantemente genial que descobri há uns tempos no Blog da Premiere e que não resisto a partilhar! Espero que apreciem e que a entrada em Setembro seja proveitosa!

domingo, agosto 12, 2007

AMERICAN DONUTS - SIMPSONS: o Filme



Foram precisos 18 anos para que a família norte-americana mais famosa da televisão fizesse a tão aguardada transição para o grande ecrã. O resultado está aí – uma sátira completamente louca às vicissitudes da família e da sociedade, ancorada num guião deliciosamente construído (assinado por 11 argumentistas, hélas!) com um sentido de humor insano digno dos Monty Python que não se coíbe de criticar tudo e todos (e nem a Disney escapa a umas boas farpas!).

Como o próprio James L. Brooks (produtor da série desde o primeiro dia) já afirmou, não é necessário estar a contar o plot para justificar o acto de comprar o bilhete de admissão – espera-nos uma história de hora e meia com Homer, Bart, Marge, Lisa, Maggie e todo um vasto elenco de personagens secundárias que já conhecemos com a familiaridade de velhos amigos, apresentada com uma animação “à antiga”, desenhada à mão, mas mais trabalhada do que o habitual (atente-se aos detalhes das sombras das personagens e à riqueza da paleta de cores) e com uma sucessão de gags absolutamente alucinante que vão desde a sátira política ao pura e simplesmente absurdo.

Há quem venha criticar que esta incursão cinematográfica não acrescenta nada ao que já vimos nas várias temporadas emitidas na televisão – um dos primeiros gags, aliás, toca precisamente nessa questão criativa com um tom irónico fabuloso – mas quando a série original já é acima da média em tudo (realização, argumento, interpretações vocais, etc.) e constitui um olhar único sobre as parvoíces e qualidades redentoras da nossa sociedade, que razão temos para nos queixarmos? Tal como outras séries que fizeram com êxito a sua passagem para o cinema (penso em South Park, por exemplo) estamos perante uma aventura “bigger, better and uncut” – que mais poderíamos querer?


Para terminar, duas observações não relacionadas com o filme em si: primeiramente, e tendo em conta de que esta é uma obra de animação de humor inteligente dirigida (sobretudo) a um público adulto, há que questionar quem é que teve a ideia brilhante de nos apresentar uma versão dobrada, ainda para mais quando a série sempre foi emitida em Portugal com legendas? Confesso que, como não vi a dobragem portuguesa, posso estar a ser injusto com todos os envolvidos nesta, mas parece-me impossível manter o rigor e a magistralidade das prestações dos actores originais, bem como todos os subentendidos e todas as brincadeiras com a língua inglesa que os diálogos têm no script, numa versão “falada em português”. A legendagem pode nem sempre acertar na sua adaptação para a língua portuguesa, mas quem tiver bom ouvido e conhecimentos razoáveis de inglês, pelo menos, tem a hipótese de não perder nada. Felizmente, saúde-se o facto de termos a alternativa de visionar a versão legendada, se não em todas, pelo menos em várias das salas que, actualmente, exibem a película.

Em segundo: num filme cujo genérico de fim arranca com uma paródia às pessoas que saem da sala assim que este começa, é impressionante assistir-se à “fuga” de uma grande parte dos espectadores da sessão a que assisti – caramba, os criadores estão praticamente a berrar-nos que o genérico vai estar cheio de bons gags para quem ficar até ao (verdadeiro) fim, e mesmo assim cedemos ao impulso infantil de sair IMEDIATAMENTE após a história terminar? É caso para dizer: D’oh!

sábado, agosto 04, 2007

Uma Série de Séries

Fui desafiado pela Sara do Transeunte Inútil de Ti e de Mim (a quem retribuo o desafio com esta resposta e com um beijo...) a fazer uma lista das minhas cinco séries de TV favoritas. Ora, quem me conhece sabe que não gosto particularmente de fazer tops (apesar de um dos últimos artigos da antiga versão deste blog ser, precisamente, um top...) por diversas razões - a maior das quais é o facto de acabarmos sempre por nos esquecer de um ou dois títulos importantes. Depois, há sempre o factor do momento da escrita - qualquer top que faça agora teria outra forma amanhã, ou depois de amanhã, ou na próxima semana, etc, etc. Daí que, como já fiz anteriormente, faça a ressalva de que esta lista é inteiramente subjectiva, temporária e serve, mais do que para dizer "esta é a melhor série de todos os tempos" antes para chamar a atenção para várias obras de ficção que a TV nos deu a conhecer.

Numa altura em que só se fala dos malefícios da televisão, como se se tratasse da fonte de todo o mal do mundo, e como se se limitasse a transmitir telenovelas e reality shows rascas em rápida sucessão, é bom relembrar que a "caixa que mudou o mundo" tem sido, nas últimas décadas, o palco privilegiado para a mostra destas séries e, também, a rampa de lançamento de alguns grandes talentos no campo da ficção - sejam eles actores, realizadores, argumentistas ou quaisquer outros profissionais do audiovisual.

Dito isto, venha(m) o(s) top(s) - sim, porque um só top não faria justiça! Deixo também algumas "menções honrosas", ou seja, séries que podiam estar nas listas noutro dia, mas hoje não estão pura e simplesmente porque não calhou. E não, os tops não estão organizados por ordem de preferência!



SÉRIES "DRAMÁTICAS"

SETE PALMOS DE TERRA (Six Feet Under)




É uma das obras de ficção mais brilhantes dos últimos tempos (e não me estou a limitar à ficção para cinema ou TV!), um prodígio de escrita de argumento, um trabalho de actores brilhante, uma realização sempre impecável - e, acima de tudo, é das séries que mais e melhor nos tem falado das incertezas e dos problemas do nosso tempo. Daqui a 50 anos, presumo que vai ser possível perceber um pouco o que era a nossa sociedade ao ver-se uns quantos episódios de Six Feet Under. E essa, para mim, é a marca das grandes obras de ficção.

TWIN PEAKS

Não fosse TP e provavelmente não teria havido nenhuma das grandes séries norte-americanas dos anos 90 em diante - pela mão de um realizador de cinema (David Lynch), a América (e, depois, o resto do mundo) ficou agarrada ao ecrã pequeno só para saber quem, na cidade superficialmente pacata de Twin Peaks, tinha assassinado uma adolescente exemplar chamada Laura Palmer. Misturando com inegável mestria o bizarro, o macabro, o drama familiar, o plot-por-vezes-telenovelesco e uma dose bem sugestiva de humor negro, TP veio provar que era, afinal, continuava a ser possível fazer obras de qualidade cinematográfica na televisão com uma história que nos mostrava como a paz suburbana não passa de uma ilusão bem desenhada (coisa que "Veludo Azul", do mesmo realizador, também já fizera). Infelizmente, um final abrupto devido a uma queda cruel nas audiências não veio dar o ponto final que se desejava à história, e nem o filme "Fire Walk With Me", injustamente mal-amado na altura, deixou tudo concluído. Quem sabe, um dia...

A QUINTA DIMENSÃO (TWILIGHT ZONE)

A mítica série de Rod Serling tem todas as razões para estar aqui - por ser uma das mais influentes séries dentro do Fantástico (catalogação algo "vaga" que serve para abranger a ficção-científica, o terror, o suspense e o pura e simplesmente bizarro...), pela geração de cineastas que marcou, pela excelência das histórias que se tornaram de antologia, pelo tema musical que dá sempre vontade de assobiar... enfim, por estas e por outras razões, já se justificava uma nova reposição na SIC Radical!

O POLVO (La Piovra)

A Máfia vista pelos italianos numa excelente série que a RAI produziu (e, ocasionalmente, continua a produzir) - apesar do tema de "polícias que combatem a corrupção mafiosa" já parecer muito batido, esta obra foi das que melhor mostrou o dilema dos que não se deixam corromper e a dificuldade de tentar erradicar um Mal que parece enraizado na própria maneira de estar dos Italianos. Incluo aqui todas as séries até ao final da 4ª temporada - onde termina a saga do Comissário Cattani (um brilhante Michele Placido) e a série começa a não acrescentar muito de novo ao que já vimos.

ALIAS - A VINGADORA (Alias)


Antes de "Lost", J.J. Abrams tinha chegado à ribalta com uma série sobre uma espia que sofre mais reviravoltas na sua vida por episódio do que todos o filmes de Shyamalan postos juntos! Apesar de, à primeira vista, parecer "só" mais uma série de acção com muitas explosões, tiros, gadgets incríveis e mulheres deslumbrantes, o modo como a narrativa é construída leva-nos numa busca pela identidade da protagonista que é tão aliciante que não podemos deixar de ver o próximo episódio! Acrescente-se a isto um conjunto de personagens muito bem delineadas (e com actores de estofo para as interpretar), uma direcção de fotografia e uma montagem bem acima da média, cameos de luxo (Quentin Tarantino, Isabella Rosselini, Sónia Braga, etc.) e temos um show que é um prazer de ver!

Menções honrosas: Dr. House, Sopranos, Ficheiros Secretos (até ao filme, que a partir daí é sempre a descer...), A Balada de Hill Street, Masters of Horror, etc, etc.

SITCOMS

SEINFELD


O show sobre nada que acabou por nos falar de quase tudo. Há grande coisa a acrescentar sobre as brilhantes situações cómicas, os diálogos inacreditavelmente bem escritos, um conjunto de actores que nunca esteve tão bem como aqui, etc? Creio que não. Além disso, qualquer série que tenha inventado uma personagem chamada "O Nazi das Sopas" merece destaque só por isso!

QUEM SAI AOS SEUS (Family Ties)

A sitcom é um dos géneros mais mal tratados de sempre - injustamente, porque, tal como as grandes comédias do passado, conseguem fazer-nos rir num momento e chorar no outro, de tão bem construídas que são as personagens. É o caso de Quem Sai aos Seus, a série de Gary David Goldberg que revelou Michael J. Fox e que nos fez acompanhar o crescimento de uma família americana ao longo de vários anos. Há quem cometa o disparate de dizer que é uma série "conservadora" só porque o seu protagonista, Alex, é um republicano convicto. Mas isso é não perceber rigorosamente nada do que é a série...

FRASIER

Dois irmãos psiquiatras com mais disfunções e inseguranças que os seus doentes, um pai que é polícia reformado, um cão com mais personalidade que muitos humanos e uma empregada inglesa sexy são os ingredientes que bastam para criar uma sitcom de um humor muito inteligente que é sempre um prazer de ver! É um caso raro de um spin-off que é muito melhor que a série que a originou (neste caso, "Cheers, aquele Bar").

SIMPSONS

Ao fim de dezoito anos, torna-se difícil seguir todos os episódios com a mesma devoção e atenção com que se seguia os das primeiras temporadas - muito por culpa da constante programação e desprogramação das últimas seasons pela parte da RTP. Mas é inegável que a série continua a ter um excelente nível de escrita, com gags absolutamente geniais a serem disparados à velocidade de uma AK-47. Por isso, e como já são um ícone incontestável da nossa cultura-pop, têm um lugar de ouro neste top.

SOUTH PARK

Sinónimo de "subversivo", South Park é a prova de que não é preciso uma animação super fluída para termos uma série genial - basta termos um argumento que crítica, com um ácido sulfúrico capaz de derreter aço, toda uma sociedade hipócrita sem qualquer vergonha ou pudor. Muito para além do conceito de "putos mal-criados que dizem palavrões" que a tornou célebre, South Park é um grito de insatisfação de dois criadores (Trey Parker e Matt Stone) que têm sido dos mais perspicazes cantores de escárnio da América do Norte.

Menções honrosas: Tudo em Família, The Office, Uma Família às Direitas, Coupling, Blackadder, Allo Allo, Fawlty Towers, etc, etc.

ANIME

COWBOY BEBOP


É das obras mais marcantes que a animação nos deu. Para além do seu visual "cool", da sua animação impecável, da banda-sonora jazz fabulosa de Yoko Kanno, da realização extraordinária de Shinichiro Watanabe (que, só com esta série, ganhou o direito de ser considerado um dos maiores "autores" da sua geração) ou das interpretações brilhantes de todo o elenco, há qualquer coisa de eminentemente melancólica na história de Spike Spiegel e os seus companheiros. Uma das grandes séries dos anos 90 (e não falo só de animação!).

NEON GENESIS EVANGELION (Shin Seiki Evangelion)

A recente transmissão da série na SIC Radical só veio evidenciar que a série resistiu ao teste do tempo - como qualquer clássico, os visuais hoje podem não ser tão impressionantes como eram em 1995, mas a história, a realização e todas as questões que levanta continuam a ser tão perturbadores e brilhantes passados mais de dez anos. Se isso não é sinal da sua qualidade intemporal, então o que é?

RANMA 1/2 / MAISON IKKOKU

É difícil escolher um sem pôr o outro. Ranma é uma delícia de humor completamente insano, com personagens inesquecíveis e um charme inegável, mas Maison Ikkoku, da mesma autora, é uma obra muito mais contida, completamente centrada na realidade, e que nos vai directamente ao coração. Para além disso, e de um sentido de humor sempre fabuloso, é realizada com uma tal atenção ao pormenor que, ao vê-la, temos a plena sensação de estarmos a assistir a um documentário sobre o que é ser-se um jovem adulto no Japão dos anos 80.

TENCHI MUYOU!

Depois de uma série de OVAS (obra feita especialmente para vídeo) de grande êxito, os criadores do universo de Tenchi Muyou decidiram dar as rédeas de realização da versão televisiva a um jovem Hiroshi Negishi que, sem que ninguém esperasse, deu um toque muito pessoal à história e às personagens originais - e acabou por fazer uma série melhor que a original! Uma das obras pilares dos chamados "harem-anime", Tenchi Muyo é uma comédia deliciosa que, porém, é dirigida com enorme sensibilidade, chegando não raras vezes a fazer-nos vir uma lágrima ao olho. Se há série que prove a importância que um realizador tem na sua direcção criativa, é esta.

PARANOIA AGENT

Depois de duas brilhantes incursões na longa-metragem de animação, Satoshi Kon decidiu realizar um anime "para adultos", exibido num canal pago e a horas em que as crianças estivessem todas na cama, que abordasse as neuroses da sociedade japonesa com menos restrições (de orçamento, de censura) que a habitual produção televisiva tem. O resultado foi uma magnífica série de 13 episódios que nos mostra que uma série de TV pode ter a qualidade de argumento e realização de uma longa-metragem!


Menções honrosas: Dragon Ball, Escaflowne, Death Note, X, Lain, Boogiepop Phantom, Full Metal Alchemist, Naruto, Rurouni Kenshin, Wolf's Rain, etc.

Como é suposto "passar" a corrente a cinco pessoas, mas o blog ainda é "novo", deixo o desafio de continuarem o tópico:

À Ardelua
Ao Hugo
Ao Rui
Ao Noise Apático
À TV-Child



quarta-feira, agosto 01, 2007

MICHELANGELO ANTONIONI: 1912 - 2007


Parece mentira que, num espaço de um dia, dois dos maiores cineastas tenham desaparecido. Depois de Ingmar Bergman, perde-se o Mestre italiano Michelangelo Antonioni. Que dizer do autor que nos fez viver "A Aventura" do cinema de uma maneira completamente diferente daquela a que estávamos habituados? Ou do homem que nos fez crer que não estávamos a ver bem as coisas (e a sociedade) nesse enigmático "Blow-Up - A História de um Fotógrafo"? Pouco posso acrescentar aos inúmeros elogios que já lhe foram feitos. A filmografia de Antonioni fala por si - e os filmes falam ainda melhor.

A sua última obra de ficção foi o segmento, "Il filo pericoloso delle cose - O Fio Perigoso das Coisas", escrito por si e pelo seu habitual argumentista, parceiro criativo e amigo Tonino Guerra, para o filme "Eros", ao lado de duas outras short-stories sobre o erotismo assinadas por Steven Soderbergh e Wong Kar-Wai. Esta derradeira curta-metragem, bem como, obviamente, a longa de que faz parte, está escandalosamente inédita em Portugal (mesmo no mercado de DVD), e se alguma vez houve uma ocasião para corrigir essa aberrante falha, agora é a altura...

Como a poesia pode sempre ajudar a exprimir melhor a complexidade da alma humana, deixo aqui a letra que Caetano Veloso escreveu para a canção "Michelangelo Antonioni", o tema musical de "Eros", em homenagem ao realizador:

Visione del silenzio

Angolo vuoto

Pagina senza parole

Una lettera scritta sopra un visio

Di pietra e vapore

Amore

Inutile finestra

Biografia na Wikipedia

Ficha no IMDB

Artigo no site "Senses of Cinema"

segunda-feira, julho 30, 2007

INGMAR BERGMAN: 1918 - 2007


Bastavam "O Sétimo Selo" e "Morangos Silvestres" para que Ingmar Bergman tivesse ficado na história do cinema como um dos seus grandes Mestres intemporais. Mas títulos como "Persona", "Em Busca da Verdade", "Mónica e o Desejo", "A Fonte da Virgem" e tantos, tantos outros constituem um legado artístico que muito dificilmente alguém conseguirá igualar. Isto sem mencionar as peças de teatro que escreveu e as que levou ao palco - estas últimas, infelizmente, destinadas a ficarem na memória unicamente das pessoas a que a elas puderam assistir.

Quanto às suas obras na 7ª arte, essas, felizmente, permanecerão imortais desde que haja suportes para as reproduzir e pessoas para as ver. Saliente-se, também, o seu considerável trabalho na televisão, quer com a marcante série "Cenas da Vida Conjugal" como com a sua derradeira obra "Saraband" - um telefilme rodado em vídeo de alta-definição que tivemos a hipótese de ver em Portugal em todo o seu esplendor. É um belíssimo e perturbador canto de cisne que urge rever para se perceber melhor por que razão cineastas como Woody Allen tanto o admiravam.

Notícia da morte de Ingmar Bergman no IMBD
Biografia na Wikipedia
Ficha no IMDB
Artigo no site "Senses of Cinema"



quinta-feira, julho 26, 2007

Scorsese e o Silêncio


Sabe-se que Martin Scorsese, ainda antes de ter recebido o há muito merecido Oscar para melhor realizador, estava a preparar a adaptação do romance "Silêncio", do escritor japonês Shusaku Endo, em colaboração com o argumentista Jay Cocks ("A Idade da Inocência", "Gangs de Nova-Iorque"). O livro conta-nos a história de um grupo de missionários portugueses que, no século XVII, rumam ao Japão em busca do seu mestre, o padre Cristóvão Ferreira, líder da Companhia de Jesus no Japão que terá renegado a sua fé num momento em que o cristianismo estava a ser erradicado das terras nipónicas.

Depois da cerimónia de entrega das célebres estatuetas, porém, tornou-se menos claro se esta adaptação seria o seu próximo projecto após o fabuloso "The Departed", já que o realizador, entretanto, rodou um documentário sobre os Rolling Stones ("Shining Light") e surgiram rumores sobre um eventual reencontro com Robert De Niro numa longa-metragem chamada "Frankie Machine" a ser filmada, supostamente, já este Verão...

Ora, "Silêncio" é um projecto a aguardar com alguma ansiedade, já que para além de abordar um dos temas preferidos do seu realizador (a fé e as dúvidas daí resultantes), para os espectadores portugueses, terá o interesse suplementar de falar-nos de um momento da nossa história muito pouco analisado por estes lados.

Não se sabe ainda muita informação relativa ao casting para além dos habituais rumores que povoam a net. Mas enquanto não sabemos mais novidades sobre a adaptação cinematográfica, fica aqui um artigo que escrevi sobre o livro de Endo para o blog "Bungaku! - Clube de Literatura Japonesa". Vale bem a pena ver os restantes artigos do site e, já agora, o blog pessoal da coordenadora Sara F. Costa - Transeuente Inútil de ti e de Mim.

segunda-feira, julho 23, 2007

À Prova de Morte - A Apologia do Chunga



Muita tinta tem corrido nos últimos tempos acerca do novo filme de Quentin Taratino. No programa original, “À Prova de Morte” é a segunda parte de um projecto do realizador de Pulp Fiction em colaboração com o seu amigo Robert Rodriguez (“El Mariachi”, “Sin City – A Cidade do Pecado”) que pretende reviver as velhas sessões de “Grindhouse” – ou seja, de uma dupla-sessão de filmes de série B/Z MUITO maus, feitos de encomenda para essas sessões, com valores de produção ridículos, uma inépcia técnica por vezes desconcertante, argumentos onde a coerência nunca foi um factor relevante, uma exploração de violência e sexo absolutamente gratuita, etc. Por outras palavras, de um cinema assumida e orgulhosamente chunga, de um cinema que dá prazer ver pelo mau que é e cujas projecções deixaram, na memória dos cinéfilos que a elas puderam assistir antes da sua extinção durante a década de 80, uma imensa nostalgia por momentos em que o público vibrava com o que via no grande ecrã ao ponto de gritar em voz alta com os personagens!

É simultaneamente o universo estético deste cinema-chunga e o espírito das sessões descritas atrás que o filme “Grindhouse” pretende recriar. Mas se os espectadores europeus vão poder desfrutar do factor de homenagem, já o segundo dos objectivos está algo comprometido graças ao facto das duas partes terem sido divididas em “longas-metragens independentes” com datas de estreia distintas e “novas” cenas que o público americano não pôde ver devido a constrangimentos de tempo a que o sistema de exibição obriga. Se o fracasso nas bilheteiras norte-americanas da versão “dois-em-um” teve ou não a ver com a decisão de lançar as obras separadamente em solo europeu é uma incógnita pouco relevante – mais vale apreciar o filme tal-e-qual nos surge agora e esperar que a edição em DVD nos permita ver a dupla-sessão tal como ela foi projectada nos ecrãs americanos.

E, sejamos directos, há mesmo muito para apreciar naquilo que podemos ver neste “À Prova de Morte”. Quem espera ir ver uma reflexão profunda sobre a condição humana pode muito bem deixar-se ficar pelo átrio do cinema – a homenagem à leveza dos originais Grindhouse é plenamente conseguida neste Slasher que, nas palavras do realizador, substitui a faca do assassino por um carro “à prova de morte”, com a imagem da película intencionalmente degradada (a cópia está cheia de riscos, cortes abruptos dentro do mesmo plano, o som falha aqui e ali...), um raccord entre planos que é pura mentira e um fan-service abundante das várias personagens femininas (embora sem chegar aos níveis dos exploitation originais), indo beber, pelo caminho, inspiração ao universo cinéfilo do autor, com referências a gente do cinema tão diferente como Roger Corman, Russ Meyer, Alfred Hitchock, Brian de Palma, Ennio Morricone, Bernard Herrmann...



O arranque da história tem a simplicidade do Capuchinho Vermelho: um grupo de raparigas sexualmente activas vai de carro passar uns dias a uma casa de férias e, no caminho, deparam-se com um louco que só as quer matar. A estrutura básica de um Slasher, portanto. Contudo, e apesar de toda a aparente superficialidade do projecto, quem procurar com cuidado poderá encontrar uma reflexão algo amarga sobre o estado do cinema popular actual. Isto está patente, por um lado, na faceta desiludida e amarga do perverso Stuntman Mike (Kurt Russel, absolutamente brilhante e finalmente de volta aos papéis de badass que John Carpenter sempre foi exímio em lhe escrever), um duplo da velha guarda que os gráficos de computador (CGI) tornaram dispensável, um “homem do passado” e de um universo ficcional de que a grande parte da juventude nunca ouviu falar e pouco interesse tem em conhecer. O gosto pelo artesanal existe tanto no assassino como no próprio realizador, e a confirmá-lo existe o facto de todas as cenas violentas terem sido encenadas com duplos e sem o auxílio de CGI.

É, no fundo, a tentativa de recuperação de um cinema eminentemente popular que não se armava em “entretenimento de luxo para toda a família”, não deixando de ser, paradoxalmente, talvez o filme mais experimental do realizador, aquele em que o autor mais se deixa seduzir pela manipulação das formas, dos planos (é o próprio Tarantino, aliás, que assina a direcção de fotografia e a operação de câmara), dos sons, da direcção de actores e, também, da escrita do argumento. Se a habitual mestria nos diálogos já se tornou uma espécie de dado-adquirido nos filmes de Tarantino, o que impressiona aqui é o modo como o autor brinca com as convenções da estrutura clássica de três actos, enchendo a narrativa de “momentos mortos” que só nos deixam conhecer melhor as personagens mas em nada fazem avançar a narrativa – um dos crimes capitais da dramaturgia clássica. E o estranho é que funciona! A prová-lo, veja-se a intensidade da passagem da primeira parte do filme para a segunda, numa homenagem escancarada às lições de escrita de argumento de “Psico”, e a eficácia do efeito de catarse da perseguição final, das mais emocionantes dos últimos anos, fazendo-nos lembrar as orquestradas por William Friedkin nos seus filmes de acção.



Esse prazer, o da experimentação, passa para o espectador com um encantador rejúbilo que raramente se vê nos dias de hoje. Mais genuinamente divertido do que qualquer blockbuster actual, “À Prova de Morte” é o verdadeiro filme de Verão e, há que dizê-lo, num mar de monstros politicamente correctos que só vêm apresentar fórmulas gastas e repetitivas, é tão bom ver uma obra tão mal comportada.

domingo, julho 22, 2007

"Restart in 5, 4, 3, 2, 1..."


Demorou. Foi preciso acabar uma licenciatura, repensar algumas coisas, limpar o pó do estaminé e matar alguma preguiça (e muitas saudades) para regressar a este cantinho. Mas cá estou outra vez, o blog está com um novo design (prometido há já quase dois anos - data do último post!) e, espera-se, com toda uma nova dinâmica de escrita.

A emissão segue dentro de momentos... e creio que valerá a pena acompanhá-la.