domingo, maio 24, 2009

João Salaviza ganha a Palma de Ouro para Melhor Curta-Metragem em Cannes!


Foi com uma grande alegria que soube que o meu antigo colega João Salaviza recebeu, há pouco, a Palma de Ouro em Cannes para Melhor Curta-Metragem pelo seu filme "Arena". Já o tinha visto no Indie Lisboa, onde tive a hipótese de congratular o realizador pelo sucesso desta obra. Agora, só me resta bater as palmas: este é o maior prémio que um cineasta português recebeu em Cannes em toda a história do festival - não exactamente um feito pequeno! Saber que foi atribuído a alguém da minha geração cujo talento genuinamente admiro só torna as coisas ainda mais doces. Como depois da projecção no Indie, deixo aqui os meus mais sinceros parabéns ao João, de quem espero muitos e bons filmes nos próximos tempos!


terça-feira, maio 19, 2009

Globos de Ouro SIC (2009)


A cerimónia dos Globos de Ouro da SIC do passado domingo teve um único momento realmente memorável - aquele em que Nuno Lopes, ao receber o globo para melhor actor de cinema pela sua prestação em "Goodnight Irene" de Paolo Marinou-Blanco, convidou os restantes actores nomeados (Gonçalo Waddington, Ivo Canelas e o ausente Filipe Duarte) a subirem ao palco para serem igualmente aplaudidos e, de seguida, ofereceu o prémio a um dos seus mentores, António Feio, sublinhando que esta decisão não era motivada pela conhecida doença de Feio mas pelo facto de este ter sido sido seu professor e largamente responsável pela sua entrada no mundo da interpretação. Num discurso marcado pela simplicidade, aquele que é um (o?) dos maiores actores da sua geração teve um gesto de humildade e pura humanidade como há raros nestas cerimónias ao aproveitar os seus minutos no palco para reconhecer os seus pares e o seu mestre. Mereceu todos as palmas que recebeu - e a nossa admiração também.




Em complemento, veja-se o fantástico sketch alusivo à nomeação de Nuno Lopes d'os Contemporâneos que foi para o ar quase à mesma hora:

quarta-feira, maio 13, 2009

Os universos (televisivos) da crítica

Temos, semanalmente, nos nossos pequenos ecrãs (pelo menos) três programas distintos sobre cinema que são incrivelmente parecidos. O formato é essencialmente composto pela seguinte receita: trailers das estreias recentes, previews de filmes que aí vêm, apresentação do box-office português e norte-americano, entrevistas com as estrelas dos filmes (e, uma vez por outra, com o realizador), uma ou outra featurette dos bastidores de uma grande-produção... e pouco mais.

O que falta a estes programas? Numa palavra: crítica. Não parece haver espaço para uma análise dos filmes que estreiam nas nossas salas e nas prateleiras de DVDs das lojas. A excepção à regra é o espaço de João Lopes no Cartaz da SIC Notícias, que peca sobretudo pela brevidade que advém de ser um segmento num programa mais generalista.

Poderíamos tentar explicar a ausência da crítica dos pequenos ecrãs com uma justificação de que qualquer discussão ou análise de um filme afugentaria as audiências por ser "demasiado aborrecida". Mas um exemplo emblemático de como se pode fazer um programa de televisão sobre cinema que é ao mesmo tempo inteligente, popular e, acima de tudo, portador de uma perspectiva crítica, é o célebre "At the Movies", um talk-show semanal de 30 minutos apresentado durante anos pelo duo de críticos Roger Ebert-Gene Siskel, tendo este último sido substituído por Richard Roeper após a sua morte.

O conceito do programa é de uma simplicidade invejável: junta-se dois críticos num cenário básico (duas cadeiras e uma parede onde são "projectadas" imagens), um deles faz uma breve sinopse do filme em questão enquanto imagens deste vão passando e, feita a descrição sumária da narrativa, inicia-se um diálogo entre os dois onde se alterna a análise inteligente e o confronto de pontos de vista não raramente antagónicos, sem nunca cair numa conversa de surdos. O resultado é um belo momento de televisão, entertaining e didáctico no melhor sentido das duas palavras.

Veja-se, por exemplo, o modo como Siskel e Ebert fazem a crítica de "O Padrinho III" de Francis Ford Coppola e discutem o tópico polémico da interpretação de Sofia Coppola como Mary Corleone:



Ou o modo como divergem sobre "Veludo Azul" de David Lynch:



E como analisam uma cena de "Halloween" de John Carpenter:



Resta-nos só questionar qual a razão para não termos nada parecido com este programa na nossa televisão. Nuno Markl e Rui Pedro Tendinha, há uns anos, fizeram uma espécie de "adaptação" deste formato no Curto-Circuito com o segmento Cine-Bolso e o mínimo que se pode dizer é que deixou saudades.

É indispensável consultar o site oficial do programa, que dispõe de um precioso arquivo de vídeo onde estão guardadas todas as críticas gravadas desde a sua primeira emissão em 1986.