segunda-feira, outubro 27, 2008

Elogio de "Mal Nascida"


Tenho estado para escrever aqui sobre "Mal Nascida", a mais recente longa-metragem de João Canijo estreada entre nós no início de Outubro num número bastante reduzido de salas e com menos "burburinho" crítico que a sua "prequela", "Noite Escura". Já passou uma semana desde que tive a oportunidade de o ver, mas tem sido difícil ordenar as ideias que o filme suscitou e colocá-las por escrito. Aqui vai uma tentativa...

Antes de começar, porém, devo avisar que este texto não é uma crítica nem uma análise da obra em questão. É, antes, um elogio ao que se fez neste filme: adaptando a história de Electra à nossa realidade contemporânea, Canijo transpôs a acção de uma tragédia grega para um cenário no interior de Portugal (esse país "de brandos costumes" onde "não se passa nada" e, por isso mesmo, todos são poetas...) arrebatando, no processo, uma história de um enorme folgo dramático com uma naturalidade que impressiona.

Ao contrário de outros cineastas portugueses, Canijo não filma as suas personagens "feias, porcas e más" como se estivesse do lado de fora de uma jaula do jardim zoológico a ver uma qualquer atracção exótica. Sabe que, no meio daquela rudeza, daquela má educação, estão seres humanos, pessoas colocadas numa situação extrema e cujas (re)acções têm tanto de revoltante como de triste e, não raras vezes, de comovente. Consequentemente, consegue mostrar que aquelas almas perdidas que habitam aquela aldeia aparentemente tão remota têm muito mais a ver connosco, espectadores sentados confortavelmente nas cadeiras da sala de cinema, do que poderíamos pensar. O fabuloso trabalho dos actores (do qual não apetece destacar ninguém, de tal forma Anabela Moreira, Fernando Luís, Márcia Breia e Gonçalo Waddington estão maravilhosamente à altura uns dos outros), o cuidado notório na caracterização do ambiente tanto a nível visual como sonoro e, claro, uma realização segura, tornam esta obra obrigatória no início deste Outono cinematográfico.

Não é um filme "bonito" - é um filme justo. Só por isso, merece toda a nossa atenção...

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