quarta-feira, janeiro 14, 2009

O que é a Montagem (I)

Uma das pedras lapidares de toda a teoria da montagem (e do cinema tout court...) é o chamado "Efeito Kulechov". Trata-se de uma experiência formal levada a cabo pelo realizador/montador/professor russo Lev Kulechov* (com a participação de um aluno muito especial chamado Vsevolod Pudovkin) por volta de 1921 que consistia na projecção de uma sucessão de imagens perante um grupo de espectadores cujas reacções ao material com que foram confrontados fizeram história.

O enunciado teórico pode resumir-se à seguinte ideia: o posicionamento de um primeiro plano neutro em relação a um segundo plano neutro cria uma sequência cujo significado é inteiramente construído pelo espectador. Ou seja, a justaposição permite-nos estabelecer ligações entre dois planos que, por si só, nada dizem.

O seguinte vídeo ilustra o efeito na sua forma mais básica, procurando recriar a mesma sucessão de imagens montada por Kulechov a partir de planos do rosto do popular actor de teatro Mosjoukine posicionados com imagens tão diversas como a de um prato de sopa, a de um caixão de uma criança ou a de uma mulher deitada num divã:



Ainda hoje, o efeito Kulechov pode ser visto em toda a sua potência nas mais diversas obras audiovisuais contemporâneas (filmes, séries, clips, telenovelas, publicidade, etc). Veja-se a divertida explicação da aplicação prática do efeito dada por Alfred Hitchcock, que tão bem utilizou os princípios teóricos de Kulechov em toda a sua obra:



Uma versão mais alargada desta entrevista pode ser encontrada aqui. Há só que perdoar a má legendagem em castelhano...

* - É conveniente referir que a grafia do nome do realizador russo tem uma estranha variação conforme a língua dos textos que se consultar - em inglês, é habitual aparecer escrito como "Lev Kuleshov", com "s"; porém, os textos em francês costumam utilizar "Kulechov" - optei por utilizar a segunda hipótese, muito embora esteja consciente de que posso estar errado e de que não tenho quaisquer conhecimentos de russo que me permitam ter autoridade para determinar a transcrição correcta...

3 comentários:

Anónimo disse...

A partir deste post, ocorreu-me a seguinte ideia: a montagem, e os efeitos a ela associados, mostram (quase por sinédoque, poderíamos dizer) o modo como os seres humanos fazem sentido a partir do mundo - ou daquilo a que alguns chamam "realidade". É que o mundo, como as imagens, não vem com manual de instruções. Mas, por outro lado, o conceito de "montagem" parece estar alicerçado na ideia de que é possível produzir esse "manual" (i.e., na ideia de que certas montagens produzem certos efeitos nas pessoas).

Anónimo disse...

esta teoria só ganha verdadeira importancia com as experiências de Eisenstein, com a sua montagem paralela, intelectualizando a linguagem do Cinema dando a 2 planos o sentido de tese e antítese ou de metafora visual. Claro k a verdadeira evoluçao foi inventada pelo muito sobestimado Griffith que praticamente criou a gramática visual do Cinema. Griffith compreendeu o potencial da montagem para criar suspense, acção e os elementos k distanciaram o Cinema do teatro e literatura e k verdadeiramente deram viabilidade finaceira a esta nova engenhoca do Edison e k potenciaram o desenvolvimento dela numa Arte, talvez a unica verdadeiramente Universal. E engraçado como o Cinema foi inventado por dois polos tao opostos: america e russia XD um lado potenciou o lado comercial, vital para a sua sobrevivencia e outro, o lado intelectual, que deu a sua credebilidade artistica... Samuel

Anónimo disse...

arcs waypoint separately interop vicky dependent zurich petersburg resonates treaty temporary
semelokertes marchimundui