sábado, agosto 04, 2007

Uma Série de Séries

Fui desafiado pela Sara do Transeunte Inútil de Ti e de Mim (a quem retribuo o desafio com esta resposta e com um beijo...) a fazer uma lista das minhas cinco séries de TV favoritas. Ora, quem me conhece sabe que não gosto particularmente de fazer tops (apesar de um dos últimos artigos da antiga versão deste blog ser, precisamente, um top...) por diversas razões - a maior das quais é o facto de acabarmos sempre por nos esquecer de um ou dois títulos importantes. Depois, há sempre o factor do momento da escrita - qualquer top que faça agora teria outra forma amanhã, ou depois de amanhã, ou na próxima semana, etc, etc. Daí que, como já fiz anteriormente, faça a ressalva de que esta lista é inteiramente subjectiva, temporária e serve, mais do que para dizer "esta é a melhor série de todos os tempos" antes para chamar a atenção para várias obras de ficção que a TV nos deu a conhecer.

Numa altura em que só se fala dos malefícios da televisão, como se se tratasse da fonte de todo o mal do mundo, e como se se limitasse a transmitir telenovelas e reality shows rascas em rápida sucessão, é bom relembrar que a "caixa que mudou o mundo" tem sido, nas últimas décadas, o palco privilegiado para a mostra destas séries e, também, a rampa de lançamento de alguns grandes talentos no campo da ficção - sejam eles actores, realizadores, argumentistas ou quaisquer outros profissionais do audiovisual.

Dito isto, venha(m) o(s) top(s) - sim, porque um só top não faria justiça! Deixo também algumas "menções honrosas", ou seja, séries que podiam estar nas listas noutro dia, mas hoje não estão pura e simplesmente porque não calhou. E não, os tops não estão organizados por ordem de preferência!



SÉRIES "DRAMÁTICAS"

SETE PALMOS DE TERRA (Six Feet Under)




É uma das obras de ficção mais brilhantes dos últimos tempos (e não me estou a limitar à ficção para cinema ou TV!), um prodígio de escrita de argumento, um trabalho de actores brilhante, uma realização sempre impecável - e, acima de tudo, é das séries que mais e melhor nos tem falado das incertezas e dos problemas do nosso tempo. Daqui a 50 anos, presumo que vai ser possível perceber um pouco o que era a nossa sociedade ao ver-se uns quantos episódios de Six Feet Under. E essa, para mim, é a marca das grandes obras de ficção.

TWIN PEAKS

Não fosse TP e provavelmente não teria havido nenhuma das grandes séries norte-americanas dos anos 90 em diante - pela mão de um realizador de cinema (David Lynch), a América (e, depois, o resto do mundo) ficou agarrada ao ecrã pequeno só para saber quem, na cidade superficialmente pacata de Twin Peaks, tinha assassinado uma adolescente exemplar chamada Laura Palmer. Misturando com inegável mestria o bizarro, o macabro, o drama familiar, o plot-por-vezes-telenovelesco e uma dose bem sugestiva de humor negro, TP veio provar que era, afinal, continuava a ser possível fazer obras de qualidade cinematográfica na televisão com uma história que nos mostrava como a paz suburbana não passa de uma ilusão bem desenhada (coisa que "Veludo Azul", do mesmo realizador, também já fizera). Infelizmente, um final abrupto devido a uma queda cruel nas audiências não veio dar o ponto final que se desejava à história, e nem o filme "Fire Walk With Me", injustamente mal-amado na altura, deixou tudo concluído. Quem sabe, um dia...

A QUINTA DIMENSÃO (TWILIGHT ZONE)

A mítica série de Rod Serling tem todas as razões para estar aqui - por ser uma das mais influentes séries dentro do Fantástico (catalogação algo "vaga" que serve para abranger a ficção-científica, o terror, o suspense e o pura e simplesmente bizarro...), pela geração de cineastas que marcou, pela excelência das histórias que se tornaram de antologia, pelo tema musical que dá sempre vontade de assobiar... enfim, por estas e por outras razões, já se justificava uma nova reposição na SIC Radical!

O POLVO (La Piovra)

A Máfia vista pelos italianos numa excelente série que a RAI produziu (e, ocasionalmente, continua a produzir) - apesar do tema de "polícias que combatem a corrupção mafiosa" já parecer muito batido, esta obra foi das que melhor mostrou o dilema dos que não se deixam corromper e a dificuldade de tentar erradicar um Mal que parece enraizado na própria maneira de estar dos Italianos. Incluo aqui todas as séries até ao final da 4ª temporada - onde termina a saga do Comissário Cattani (um brilhante Michele Placido) e a série começa a não acrescentar muito de novo ao que já vimos.

ALIAS - A VINGADORA (Alias)


Antes de "Lost", J.J. Abrams tinha chegado à ribalta com uma série sobre uma espia que sofre mais reviravoltas na sua vida por episódio do que todos o filmes de Shyamalan postos juntos! Apesar de, à primeira vista, parecer "só" mais uma série de acção com muitas explosões, tiros, gadgets incríveis e mulheres deslumbrantes, o modo como a narrativa é construída leva-nos numa busca pela identidade da protagonista que é tão aliciante que não podemos deixar de ver o próximo episódio! Acrescente-se a isto um conjunto de personagens muito bem delineadas (e com actores de estofo para as interpretar), uma direcção de fotografia e uma montagem bem acima da média, cameos de luxo (Quentin Tarantino, Isabella Rosselini, Sónia Braga, etc.) e temos um show que é um prazer de ver!

Menções honrosas: Dr. House, Sopranos, Ficheiros Secretos (até ao filme, que a partir daí é sempre a descer...), A Balada de Hill Street, Masters of Horror, etc, etc.

SITCOMS

SEINFELD


O show sobre nada que acabou por nos falar de quase tudo. Há grande coisa a acrescentar sobre as brilhantes situações cómicas, os diálogos inacreditavelmente bem escritos, um conjunto de actores que nunca esteve tão bem como aqui, etc? Creio que não. Além disso, qualquer série que tenha inventado uma personagem chamada "O Nazi das Sopas" merece destaque só por isso!

QUEM SAI AOS SEUS (Family Ties)

A sitcom é um dos géneros mais mal tratados de sempre - injustamente, porque, tal como as grandes comédias do passado, conseguem fazer-nos rir num momento e chorar no outro, de tão bem construídas que são as personagens. É o caso de Quem Sai aos Seus, a série de Gary David Goldberg que revelou Michael J. Fox e que nos fez acompanhar o crescimento de uma família americana ao longo de vários anos. Há quem cometa o disparate de dizer que é uma série "conservadora" só porque o seu protagonista, Alex, é um republicano convicto. Mas isso é não perceber rigorosamente nada do que é a série...

FRASIER

Dois irmãos psiquiatras com mais disfunções e inseguranças que os seus doentes, um pai que é polícia reformado, um cão com mais personalidade que muitos humanos e uma empregada inglesa sexy são os ingredientes que bastam para criar uma sitcom de um humor muito inteligente que é sempre um prazer de ver! É um caso raro de um spin-off que é muito melhor que a série que a originou (neste caso, "Cheers, aquele Bar").

SIMPSONS

Ao fim de dezoito anos, torna-se difícil seguir todos os episódios com a mesma devoção e atenção com que se seguia os das primeiras temporadas - muito por culpa da constante programação e desprogramação das últimas seasons pela parte da RTP. Mas é inegável que a série continua a ter um excelente nível de escrita, com gags absolutamente geniais a serem disparados à velocidade de uma AK-47. Por isso, e como já são um ícone incontestável da nossa cultura-pop, têm um lugar de ouro neste top.

SOUTH PARK

Sinónimo de "subversivo", South Park é a prova de que não é preciso uma animação super fluída para termos uma série genial - basta termos um argumento que crítica, com um ácido sulfúrico capaz de derreter aço, toda uma sociedade hipócrita sem qualquer vergonha ou pudor. Muito para além do conceito de "putos mal-criados que dizem palavrões" que a tornou célebre, South Park é um grito de insatisfação de dois criadores (Trey Parker e Matt Stone) que têm sido dos mais perspicazes cantores de escárnio da América do Norte.

Menções honrosas: Tudo em Família, The Office, Uma Família às Direitas, Coupling, Blackadder, Allo Allo, Fawlty Towers, etc, etc.

ANIME

COWBOY BEBOP


É das obras mais marcantes que a animação nos deu. Para além do seu visual "cool", da sua animação impecável, da banda-sonora jazz fabulosa de Yoko Kanno, da realização extraordinária de Shinichiro Watanabe (que, só com esta série, ganhou o direito de ser considerado um dos maiores "autores" da sua geração) ou das interpretações brilhantes de todo o elenco, há qualquer coisa de eminentemente melancólica na história de Spike Spiegel e os seus companheiros. Uma das grandes séries dos anos 90 (e não falo só de animação!).

NEON GENESIS EVANGELION (Shin Seiki Evangelion)

A recente transmissão da série na SIC Radical só veio evidenciar que a série resistiu ao teste do tempo - como qualquer clássico, os visuais hoje podem não ser tão impressionantes como eram em 1995, mas a história, a realização e todas as questões que levanta continuam a ser tão perturbadores e brilhantes passados mais de dez anos. Se isso não é sinal da sua qualidade intemporal, então o que é?

RANMA 1/2 / MAISON IKKOKU

É difícil escolher um sem pôr o outro. Ranma é uma delícia de humor completamente insano, com personagens inesquecíveis e um charme inegável, mas Maison Ikkoku, da mesma autora, é uma obra muito mais contida, completamente centrada na realidade, e que nos vai directamente ao coração. Para além disso, e de um sentido de humor sempre fabuloso, é realizada com uma tal atenção ao pormenor que, ao vê-la, temos a plena sensação de estarmos a assistir a um documentário sobre o que é ser-se um jovem adulto no Japão dos anos 80.

TENCHI MUYOU!

Depois de uma série de OVAS (obra feita especialmente para vídeo) de grande êxito, os criadores do universo de Tenchi Muyou decidiram dar as rédeas de realização da versão televisiva a um jovem Hiroshi Negishi que, sem que ninguém esperasse, deu um toque muito pessoal à história e às personagens originais - e acabou por fazer uma série melhor que a original! Uma das obras pilares dos chamados "harem-anime", Tenchi Muyo é uma comédia deliciosa que, porém, é dirigida com enorme sensibilidade, chegando não raras vezes a fazer-nos vir uma lágrima ao olho. Se há série que prove a importância que um realizador tem na sua direcção criativa, é esta.

PARANOIA AGENT

Depois de duas brilhantes incursões na longa-metragem de animação, Satoshi Kon decidiu realizar um anime "para adultos", exibido num canal pago e a horas em que as crianças estivessem todas na cama, que abordasse as neuroses da sociedade japonesa com menos restrições (de orçamento, de censura) que a habitual produção televisiva tem. O resultado foi uma magnífica série de 13 episódios que nos mostra que uma série de TV pode ter a qualidade de argumento e realização de uma longa-metragem!


Menções honrosas: Dragon Ball, Escaflowne, Death Note, X, Lain, Boogiepop Phantom, Full Metal Alchemist, Naruto, Rurouni Kenshin, Wolf's Rain, etc.

Como é suposto "passar" a corrente a cinco pessoas, mas o blog ainda é "novo", deixo o desafio de continuarem o tópico:

À Ardelua
Ao Hugo
Ao Rui
Ao Noise Apático
À TV-Child



3 comentários:

Misato disse...

Respondendo ao teu desafio e como concordo contigo em relação aos top's, a minha lista é (salvo algumas excepções - assinaladas*) feita no momento:

SÉRIES TV:
- Espaço: 1999* (Space: 1999)
Inquestionávelmente a minha série preferida de sempre! Tem me acompanhado ao longo da minha vida quase toda e, apesar de ter envelhecido, ainda encontro nela uma imensidão de elementos que me fazem continuar a adorá-la: os ainda excelentes efeitos especiais, os actores, as histórias, a direcção artística, a música.

- Quinta Dimensão* (Twilight Zone)
Acho que já disseste quase tudo, só gostava de acrescentar que grande parte dos argumentos da séries foram escritos por alguns dos melhores escritores de ficção-científica dos anos 60, o primeiro que me vem à cabeça é Ray Bradbury.

- Palmeiras Bravias (Wild Palms)
Concordo com Twin Peaks ter sido groundbreaking, sem TP não existiria Wild Palms. Mesmo assim prefiro a série de Oliver Stone, mais sucinta e bem planeada, em que cada episódio foi realizado por excelentes e conhecidos realizadores de cinema, entre eles uma das minhas preferidas, Kathryn Bigelow.

- Praia da China (China Beach)
Quase ninguém se lembra desta excelente série com um ponto de vista invulgar sobre a guerra do Vietname. Era o ponto de vista das enfermeiras, médicos e militares lesionados, acampados num hospital de campanha numa praia da china. Reflexions das Supremes no genérico foi das músicas mais marcantes numa série de televisão e não esquecer Marg Helgenberger no papel da prostituta local.

- Os Vingadores* (The Avengers)
Especialmente as duas séries de Emma Peel (Diana Rigg). Esta série de espionagem fantástica, cheia de intrigas misteriosas e cenários barrocos (para não falar do guarda-roupa de Emma Peel), e das deixas tipicamente british, sem as quais eu não veria as séries de TV do mesmo modo. Tenho imensas saudades, bem que poderia passar na SIC-Radical e ser editada em DVD!

As menções honrosas são tantas que não vou mencionar nenhuma. Bem... Duarte & Companhia.

SITCOMS:
- Os Malucos do Circo* (Monty Phython's Flying Circus)
Não há muito a dizer: "and now, for something completely different"
Por causa desta série, deixei o vício das novelas brasileiras durante mais de um ano! (e já tenho em DVD)

- Black Adder
Especialmente a primeira, e mais sádica série, mandam-me ao chão a rir! A participação de Miranda Richardson como "Queen Bess" é verdadeiramente antológica!

- Allo'Allo!
A quantidade de deixas que ficaram no imaginário das pessoas acho que diz tudo acerca de Allo'Allo! Os erros do Officer Crabtree são os melhores de todos: "I have a guin in my picket"

- Off Centre
Passou discretamente mas era hilariante. Uma sátira à vida boémia nova-iorquina, com grande parte do cast de American Pie. O descaramento de Chau, o amigo vietnamita, era simplesmente demais!

Menções honrosas: Absolutely Fabulous, Dharma & Greg, Popular, Freaks & Geeks, etc...

ANIME:
- Candy Candy*
É shoujo, é comprida, ainda não a vi até ao fim (não passou completa em Portugal) mas não há nada a fazer, foi A série de anime que colocou (juntamente com Conan, o rapaz do futuro) o anime no mapa para mim. Dizem que não há paixão como a primeira.

- Sailormoon*
Esta série foi um marco para mim, fez-me descobrir o anime de outra forma e iniciou-me num percurso sem fim nesta área. Gosto do realismo de adolescentes normais, com defeitos, inseridas numa vida dupla de super-heroínas que me fez imediatamente pensar nas séries sentai que davam antes dos Power Rangers.

- Bia a Pequena Feiticeira* (Majokko Meg-chan)
Esta é uma série invulgar, bem velhinha, que, apesar de ser um anime de magical girls, é muito à frente para a época. A protagonista é mimada, impertinete, mas também boa rapariga e partilha o protagonismo com uma rival egoísta e carente. Dentro dos cenários de inspiração mediterrânica, um dia-a-dia muito japonês e guarda-roupa ultra-fashion anos 70, não há dúvida que é um anime único.

- Lum (Urusei Yatsura)
Este foi dos primeiros anime/manga que procurei e conheci. Desde a primeira leitura/visionamento que me apaixonei pela personagem de Lum e me parto a rir com o completo disparate que é a série inteira a começar pelas canções dos genéricos.

- Cowboy Bebop
Deve ter sido um dos primeiros anime de qualidade em que não há um único episódio para encher, de fraca qualidade ou que não faça sentido no todo. Com uma das melhores bandas-sonoras em anime de sempre, personagens tão boas que, até hoje, não me consigo decidir numa favorita, não há dúvida que é um dos melhores anime de sempre!

Menções Honrosas: Evangelion, Gokinjo Monogatari, Victorian Romance Emma, Utena, Conan o Rapaz do Futuro, Lupin, Versailles no Bara, Card Captor Sakura, Antologia da Literatura Japonesa, Saint Seiya e muitas mais... tantas...

bem... não sei se era para responder aqui, mas já está!

Ricardo Gonçalves disse...

Não era, de facto, para responder aqui, mas recebo o teu texto de braços abertos e fico contente por ver que aderiste ao desafio! Boas escolhas, btw! ** ^_^

Misato disse...

Poix... apercebi-me do erro logo a seguir a ter carregado no botão de publicar... com entretanto fiz o post como deve ser no TV-child, se quiseres apaga o comentário :P