segunda-feira, julho 30, 2007

INGMAR BERGMAN: 1918 - 2007


Bastavam "O Sétimo Selo" e "Morangos Silvestres" para que Ingmar Bergman tivesse ficado na história do cinema como um dos seus grandes Mestres intemporais. Mas títulos como "Persona", "Em Busca da Verdade", "Mónica e o Desejo", "A Fonte da Virgem" e tantos, tantos outros constituem um legado artístico que muito dificilmente alguém conseguirá igualar. Isto sem mencionar as peças de teatro que escreveu e as que levou ao palco - estas últimas, infelizmente, destinadas a ficarem na memória unicamente das pessoas a que a elas puderam assistir.

Quanto às suas obras na 7ª arte, essas, felizmente, permanecerão imortais desde que haja suportes para as reproduzir e pessoas para as ver. Saliente-se, também, o seu considerável trabalho na televisão, quer com a marcante série "Cenas da Vida Conjugal" como com a sua derradeira obra "Saraband" - um telefilme rodado em vídeo de alta-definição que tivemos a hipótese de ver em Portugal em todo o seu esplendor. É um belíssimo e perturbador canto de cisne que urge rever para se perceber melhor por que razão cineastas como Woody Allen tanto o admiravam.

Notícia da morte de Ingmar Bergman no IMBD
Biografia na Wikipedia
Ficha no IMDB
Artigo no site "Senses of Cinema"



quinta-feira, julho 26, 2007

Scorsese e o Silêncio


Sabe-se que Martin Scorsese, ainda antes de ter recebido o há muito merecido Oscar para melhor realizador, estava a preparar a adaptação do romance "Silêncio", do escritor japonês Shusaku Endo, em colaboração com o argumentista Jay Cocks ("A Idade da Inocência", "Gangs de Nova-Iorque"). O livro conta-nos a história de um grupo de missionários portugueses que, no século XVII, rumam ao Japão em busca do seu mestre, o padre Cristóvão Ferreira, líder da Companhia de Jesus no Japão que terá renegado a sua fé num momento em que o cristianismo estava a ser erradicado das terras nipónicas.

Depois da cerimónia de entrega das célebres estatuetas, porém, tornou-se menos claro se esta adaptação seria o seu próximo projecto após o fabuloso "The Departed", já que o realizador, entretanto, rodou um documentário sobre os Rolling Stones ("Shining Light") e surgiram rumores sobre um eventual reencontro com Robert De Niro numa longa-metragem chamada "Frankie Machine" a ser filmada, supostamente, já este Verão...

Ora, "Silêncio" é um projecto a aguardar com alguma ansiedade, já que para além de abordar um dos temas preferidos do seu realizador (a fé e as dúvidas daí resultantes), para os espectadores portugueses, terá o interesse suplementar de falar-nos de um momento da nossa história muito pouco analisado por estes lados.

Não se sabe ainda muita informação relativa ao casting para além dos habituais rumores que povoam a net. Mas enquanto não sabemos mais novidades sobre a adaptação cinematográfica, fica aqui um artigo que escrevi sobre o livro de Endo para o blog "Bungaku! - Clube de Literatura Japonesa". Vale bem a pena ver os restantes artigos do site e, já agora, o blog pessoal da coordenadora Sara F. Costa - Transeuente Inútil de ti e de Mim.

segunda-feira, julho 23, 2007

À Prova de Morte - A Apologia do Chunga



Muita tinta tem corrido nos últimos tempos acerca do novo filme de Quentin Taratino. No programa original, “À Prova de Morte” é a segunda parte de um projecto do realizador de Pulp Fiction em colaboração com o seu amigo Robert Rodriguez (“El Mariachi”, “Sin City – A Cidade do Pecado”) que pretende reviver as velhas sessões de “Grindhouse” – ou seja, de uma dupla-sessão de filmes de série B/Z MUITO maus, feitos de encomenda para essas sessões, com valores de produção ridículos, uma inépcia técnica por vezes desconcertante, argumentos onde a coerência nunca foi um factor relevante, uma exploração de violência e sexo absolutamente gratuita, etc. Por outras palavras, de um cinema assumida e orgulhosamente chunga, de um cinema que dá prazer ver pelo mau que é e cujas projecções deixaram, na memória dos cinéfilos que a elas puderam assistir antes da sua extinção durante a década de 80, uma imensa nostalgia por momentos em que o público vibrava com o que via no grande ecrã ao ponto de gritar em voz alta com os personagens!

É simultaneamente o universo estético deste cinema-chunga e o espírito das sessões descritas atrás que o filme “Grindhouse” pretende recriar. Mas se os espectadores europeus vão poder desfrutar do factor de homenagem, já o segundo dos objectivos está algo comprometido graças ao facto das duas partes terem sido divididas em “longas-metragens independentes” com datas de estreia distintas e “novas” cenas que o público americano não pôde ver devido a constrangimentos de tempo a que o sistema de exibição obriga. Se o fracasso nas bilheteiras norte-americanas da versão “dois-em-um” teve ou não a ver com a decisão de lançar as obras separadamente em solo europeu é uma incógnita pouco relevante – mais vale apreciar o filme tal-e-qual nos surge agora e esperar que a edição em DVD nos permita ver a dupla-sessão tal como ela foi projectada nos ecrãs americanos.

E, sejamos directos, há mesmo muito para apreciar naquilo que podemos ver neste “À Prova de Morte”. Quem espera ir ver uma reflexão profunda sobre a condição humana pode muito bem deixar-se ficar pelo átrio do cinema – a homenagem à leveza dos originais Grindhouse é plenamente conseguida neste Slasher que, nas palavras do realizador, substitui a faca do assassino por um carro “à prova de morte”, com a imagem da película intencionalmente degradada (a cópia está cheia de riscos, cortes abruptos dentro do mesmo plano, o som falha aqui e ali...), um raccord entre planos que é pura mentira e um fan-service abundante das várias personagens femininas (embora sem chegar aos níveis dos exploitation originais), indo beber, pelo caminho, inspiração ao universo cinéfilo do autor, com referências a gente do cinema tão diferente como Roger Corman, Russ Meyer, Alfred Hitchock, Brian de Palma, Ennio Morricone, Bernard Herrmann...



O arranque da história tem a simplicidade do Capuchinho Vermelho: um grupo de raparigas sexualmente activas vai de carro passar uns dias a uma casa de férias e, no caminho, deparam-se com um louco que só as quer matar. A estrutura básica de um Slasher, portanto. Contudo, e apesar de toda a aparente superficialidade do projecto, quem procurar com cuidado poderá encontrar uma reflexão algo amarga sobre o estado do cinema popular actual. Isto está patente, por um lado, na faceta desiludida e amarga do perverso Stuntman Mike (Kurt Russel, absolutamente brilhante e finalmente de volta aos papéis de badass que John Carpenter sempre foi exímio em lhe escrever), um duplo da velha guarda que os gráficos de computador (CGI) tornaram dispensável, um “homem do passado” e de um universo ficcional de que a grande parte da juventude nunca ouviu falar e pouco interesse tem em conhecer. O gosto pelo artesanal existe tanto no assassino como no próprio realizador, e a confirmá-lo existe o facto de todas as cenas violentas terem sido encenadas com duplos e sem o auxílio de CGI.

É, no fundo, a tentativa de recuperação de um cinema eminentemente popular que não se armava em “entretenimento de luxo para toda a família”, não deixando de ser, paradoxalmente, talvez o filme mais experimental do realizador, aquele em que o autor mais se deixa seduzir pela manipulação das formas, dos planos (é o próprio Tarantino, aliás, que assina a direcção de fotografia e a operação de câmara), dos sons, da direcção de actores e, também, da escrita do argumento. Se a habitual mestria nos diálogos já se tornou uma espécie de dado-adquirido nos filmes de Tarantino, o que impressiona aqui é o modo como o autor brinca com as convenções da estrutura clássica de três actos, enchendo a narrativa de “momentos mortos” que só nos deixam conhecer melhor as personagens mas em nada fazem avançar a narrativa – um dos crimes capitais da dramaturgia clássica. E o estranho é que funciona! A prová-lo, veja-se a intensidade da passagem da primeira parte do filme para a segunda, numa homenagem escancarada às lições de escrita de argumento de “Psico”, e a eficácia do efeito de catarse da perseguição final, das mais emocionantes dos últimos anos, fazendo-nos lembrar as orquestradas por William Friedkin nos seus filmes de acção.



Esse prazer, o da experimentação, passa para o espectador com um encantador rejúbilo que raramente se vê nos dias de hoje. Mais genuinamente divertido do que qualquer blockbuster actual, “À Prova de Morte” é o verdadeiro filme de Verão e, há que dizê-lo, num mar de monstros politicamente correctos que só vêm apresentar fórmulas gastas e repetitivas, é tão bom ver uma obra tão mal comportada.

domingo, julho 22, 2007

"Restart in 5, 4, 3, 2, 1..."


Demorou. Foi preciso acabar uma licenciatura, repensar algumas coisas, limpar o pó do estaminé e matar alguma preguiça (e muitas saudades) para regressar a este cantinho. Mas cá estou outra vez, o blog está com um novo design (prometido há já quase dois anos - data do último post!) e, espera-se, com toda uma nova dinâmica de escrita.

A emissão segue dentro de momentos... e creio que valerá a pena acompanhá-la.