quinta-feira, agosto 30, 2007

"We'll be right back after these wise words from our sponsors..."


Por motivos de cariz profissional (isto é: porque vou estar a trabalhar!), o CineArte vai ficar de actividade suspensa até, pelo menos, 5 de Setembro. Entretanto, e para compensar a minha curta ausência, deixo aqui um vídeo hillariantemente genial que descobri há uns tempos no Blog da Premiere e que não resisto a partilhar! Espero que apreciem e que a entrada em Setembro seja proveitosa!

domingo, agosto 12, 2007

AMERICAN DONUTS - SIMPSONS: o Filme



Foram precisos 18 anos para que a família norte-americana mais famosa da televisão fizesse a tão aguardada transição para o grande ecrã. O resultado está aí – uma sátira completamente louca às vicissitudes da família e da sociedade, ancorada num guião deliciosamente construído (assinado por 11 argumentistas, hélas!) com um sentido de humor insano digno dos Monty Python que não se coíbe de criticar tudo e todos (e nem a Disney escapa a umas boas farpas!).

Como o próprio James L. Brooks (produtor da série desde o primeiro dia) já afirmou, não é necessário estar a contar o plot para justificar o acto de comprar o bilhete de admissão – espera-nos uma história de hora e meia com Homer, Bart, Marge, Lisa, Maggie e todo um vasto elenco de personagens secundárias que já conhecemos com a familiaridade de velhos amigos, apresentada com uma animação “à antiga”, desenhada à mão, mas mais trabalhada do que o habitual (atente-se aos detalhes das sombras das personagens e à riqueza da paleta de cores) e com uma sucessão de gags absolutamente alucinante que vão desde a sátira política ao pura e simplesmente absurdo.

Há quem venha criticar que esta incursão cinematográfica não acrescenta nada ao que já vimos nas várias temporadas emitidas na televisão – um dos primeiros gags, aliás, toca precisamente nessa questão criativa com um tom irónico fabuloso – mas quando a série original já é acima da média em tudo (realização, argumento, interpretações vocais, etc.) e constitui um olhar único sobre as parvoíces e qualidades redentoras da nossa sociedade, que razão temos para nos queixarmos? Tal como outras séries que fizeram com êxito a sua passagem para o cinema (penso em South Park, por exemplo) estamos perante uma aventura “bigger, better and uncut” – que mais poderíamos querer?


Para terminar, duas observações não relacionadas com o filme em si: primeiramente, e tendo em conta de que esta é uma obra de animação de humor inteligente dirigida (sobretudo) a um público adulto, há que questionar quem é que teve a ideia brilhante de nos apresentar uma versão dobrada, ainda para mais quando a série sempre foi emitida em Portugal com legendas? Confesso que, como não vi a dobragem portuguesa, posso estar a ser injusto com todos os envolvidos nesta, mas parece-me impossível manter o rigor e a magistralidade das prestações dos actores originais, bem como todos os subentendidos e todas as brincadeiras com a língua inglesa que os diálogos têm no script, numa versão “falada em português”. A legendagem pode nem sempre acertar na sua adaptação para a língua portuguesa, mas quem tiver bom ouvido e conhecimentos razoáveis de inglês, pelo menos, tem a hipótese de não perder nada. Felizmente, saúde-se o facto de termos a alternativa de visionar a versão legendada, se não em todas, pelo menos em várias das salas que, actualmente, exibem a película.

Em segundo: num filme cujo genérico de fim arranca com uma paródia às pessoas que saem da sala assim que este começa, é impressionante assistir-se à “fuga” de uma grande parte dos espectadores da sessão a que assisti – caramba, os criadores estão praticamente a berrar-nos que o genérico vai estar cheio de bons gags para quem ficar até ao (verdadeiro) fim, e mesmo assim cedemos ao impulso infantil de sair IMEDIATAMENTE após a história terminar? É caso para dizer: D’oh!

sábado, agosto 04, 2007

Uma Série de Séries

Fui desafiado pela Sara do Transeunte Inútil de Ti e de Mim (a quem retribuo o desafio com esta resposta e com um beijo...) a fazer uma lista das minhas cinco séries de TV favoritas. Ora, quem me conhece sabe que não gosto particularmente de fazer tops (apesar de um dos últimos artigos da antiga versão deste blog ser, precisamente, um top...) por diversas razões - a maior das quais é o facto de acabarmos sempre por nos esquecer de um ou dois títulos importantes. Depois, há sempre o factor do momento da escrita - qualquer top que faça agora teria outra forma amanhã, ou depois de amanhã, ou na próxima semana, etc, etc. Daí que, como já fiz anteriormente, faça a ressalva de que esta lista é inteiramente subjectiva, temporária e serve, mais do que para dizer "esta é a melhor série de todos os tempos" antes para chamar a atenção para várias obras de ficção que a TV nos deu a conhecer.

Numa altura em que só se fala dos malefícios da televisão, como se se tratasse da fonte de todo o mal do mundo, e como se se limitasse a transmitir telenovelas e reality shows rascas em rápida sucessão, é bom relembrar que a "caixa que mudou o mundo" tem sido, nas últimas décadas, o palco privilegiado para a mostra destas séries e, também, a rampa de lançamento de alguns grandes talentos no campo da ficção - sejam eles actores, realizadores, argumentistas ou quaisquer outros profissionais do audiovisual.

Dito isto, venha(m) o(s) top(s) - sim, porque um só top não faria justiça! Deixo também algumas "menções honrosas", ou seja, séries que podiam estar nas listas noutro dia, mas hoje não estão pura e simplesmente porque não calhou. E não, os tops não estão organizados por ordem de preferência!



SÉRIES "DRAMÁTICAS"

SETE PALMOS DE TERRA (Six Feet Under)




É uma das obras de ficção mais brilhantes dos últimos tempos (e não me estou a limitar à ficção para cinema ou TV!), um prodígio de escrita de argumento, um trabalho de actores brilhante, uma realização sempre impecável - e, acima de tudo, é das séries que mais e melhor nos tem falado das incertezas e dos problemas do nosso tempo. Daqui a 50 anos, presumo que vai ser possível perceber um pouco o que era a nossa sociedade ao ver-se uns quantos episódios de Six Feet Under. E essa, para mim, é a marca das grandes obras de ficção.

TWIN PEAKS

Não fosse TP e provavelmente não teria havido nenhuma das grandes séries norte-americanas dos anos 90 em diante - pela mão de um realizador de cinema (David Lynch), a América (e, depois, o resto do mundo) ficou agarrada ao ecrã pequeno só para saber quem, na cidade superficialmente pacata de Twin Peaks, tinha assassinado uma adolescente exemplar chamada Laura Palmer. Misturando com inegável mestria o bizarro, o macabro, o drama familiar, o plot-por-vezes-telenovelesco e uma dose bem sugestiva de humor negro, TP veio provar que era, afinal, continuava a ser possível fazer obras de qualidade cinematográfica na televisão com uma história que nos mostrava como a paz suburbana não passa de uma ilusão bem desenhada (coisa que "Veludo Azul", do mesmo realizador, também já fizera). Infelizmente, um final abrupto devido a uma queda cruel nas audiências não veio dar o ponto final que se desejava à história, e nem o filme "Fire Walk With Me", injustamente mal-amado na altura, deixou tudo concluído. Quem sabe, um dia...

A QUINTA DIMENSÃO (TWILIGHT ZONE)

A mítica série de Rod Serling tem todas as razões para estar aqui - por ser uma das mais influentes séries dentro do Fantástico (catalogação algo "vaga" que serve para abranger a ficção-científica, o terror, o suspense e o pura e simplesmente bizarro...), pela geração de cineastas que marcou, pela excelência das histórias que se tornaram de antologia, pelo tema musical que dá sempre vontade de assobiar... enfim, por estas e por outras razões, já se justificava uma nova reposição na SIC Radical!

O POLVO (La Piovra)

A Máfia vista pelos italianos numa excelente série que a RAI produziu (e, ocasionalmente, continua a produzir) - apesar do tema de "polícias que combatem a corrupção mafiosa" já parecer muito batido, esta obra foi das que melhor mostrou o dilema dos que não se deixam corromper e a dificuldade de tentar erradicar um Mal que parece enraizado na própria maneira de estar dos Italianos. Incluo aqui todas as séries até ao final da 4ª temporada - onde termina a saga do Comissário Cattani (um brilhante Michele Placido) e a série começa a não acrescentar muito de novo ao que já vimos.

ALIAS - A VINGADORA (Alias)


Antes de "Lost", J.J. Abrams tinha chegado à ribalta com uma série sobre uma espia que sofre mais reviravoltas na sua vida por episódio do que todos o filmes de Shyamalan postos juntos! Apesar de, à primeira vista, parecer "só" mais uma série de acção com muitas explosões, tiros, gadgets incríveis e mulheres deslumbrantes, o modo como a narrativa é construída leva-nos numa busca pela identidade da protagonista que é tão aliciante que não podemos deixar de ver o próximo episódio! Acrescente-se a isto um conjunto de personagens muito bem delineadas (e com actores de estofo para as interpretar), uma direcção de fotografia e uma montagem bem acima da média, cameos de luxo (Quentin Tarantino, Isabella Rosselini, Sónia Braga, etc.) e temos um show que é um prazer de ver!

Menções honrosas: Dr. House, Sopranos, Ficheiros Secretos (até ao filme, que a partir daí é sempre a descer...), A Balada de Hill Street, Masters of Horror, etc, etc.

SITCOMS

SEINFELD


O show sobre nada que acabou por nos falar de quase tudo. Há grande coisa a acrescentar sobre as brilhantes situações cómicas, os diálogos inacreditavelmente bem escritos, um conjunto de actores que nunca esteve tão bem como aqui, etc? Creio que não. Além disso, qualquer série que tenha inventado uma personagem chamada "O Nazi das Sopas" merece destaque só por isso!

QUEM SAI AOS SEUS (Family Ties)

A sitcom é um dos géneros mais mal tratados de sempre - injustamente, porque, tal como as grandes comédias do passado, conseguem fazer-nos rir num momento e chorar no outro, de tão bem construídas que são as personagens. É o caso de Quem Sai aos Seus, a série de Gary David Goldberg que revelou Michael J. Fox e que nos fez acompanhar o crescimento de uma família americana ao longo de vários anos. Há quem cometa o disparate de dizer que é uma série "conservadora" só porque o seu protagonista, Alex, é um republicano convicto. Mas isso é não perceber rigorosamente nada do que é a série...

FRASIER

Dois irmãos psiquiatras com mais disfunções e inseguranças que os seus doentes, um pai que é polícia reformado, um cão com mais personalidade que muitos humanos e uma empregada inglesa sexy são os ingredientes que bastam para criar uma sitcom de um humor muito inteligente que é sempre um prazer de ver! É um caso raro de um spin-off que é muito melhor que a série que a originou (neste caso, "Cheers, aquele Bar").

SIMPSONS

Ao fim de dezoito anos, torna-se difícil seguir todos os episódios com a mesma devoção e atenção com que se seguia os das primeiras temporadas - muito por culpa da constante programação e desprogramação das últimas seasons pela parte da RTP. Mas é inegável que a série continua a ter um excelente nível de escrita, com gags absolutamente geniais a serem disparados à velocidade de uma AK-47. Por isso, e como já são um ícone incontestável da nossa cultura-pop, têm um lugar de ouro neste top.

SOUTH PARK

Sinónimo de "subversivo", South Park é a prova de que não é preciso uma animação super fluída para termos uma série genial - basta termos um argumento que crítica, com um ácido sulfúrico capaz de derreter aço, toda uma sociedade hipócrita sem qualquer vergonha ou pudor. Muito para além do conceito de "putos mal-criados que dizem palavrões" que a tornou célebre, South Park é um grito de insatisfação de dois criadores (Trey Parker e Matt Stone) que têm sido dos mais perspicazes cantores de escárnio da América do Norte.

Menções honrosas: Tudo em Família, The Office, Uma Família às Direitas, Coupling, Blackadder, Allo Allo, Fawlty Towers, etc, etc.

ANIME

COWBOY BEBOP


É das obras mais marcantes que a animação nos deu. Para além do seu visual "cool", da sua animação impecável, da banda-sonora jazz fabulosa de Yoko Kanno, da realização extraordinária de Shinichiro Watanabe (que, só com esta série, ganhou o direito de ser considerado um dos maiores "autores" da sua geração) ou das interpretações brilhantes de todo o elenco, há qualquer coisa de eminentemente melancólica na história de Spike Spiegel e os seus companheiros. Uma das grandes séries dos anos 90 (e não falo só de animação!).

NEON GENESIS EVANGELION (Shin Seiki Evangelion)

A recente transmissão da série na SIC Radical só veio evidenciar que a série resistiu ao teste do tempo - como qualquer clássico, os visuais hoje podem não ser tão impressionantes como eram em 1995, mas a história, a realização e todas as questões que levanta continuam a ser tão perturbadores e brilhantes passados mais de dez anos. Se isso não é sinal da sua qualidade intemporal, então o que é?

RANMA 1/2 / MAISON IKKOKU

É difícil escolher um sem pôr o outro. Ranma é uma delícia de humor completamente insano, com personagens inesquecíveis e um charme inegável, mas Maison Ikkoku, da mesma autora, é uma obra muito mais contida, completamente centrada na realidade, e que nos vai directamente ao coração. Para além disso, e de um sentido de humor sempre fabuloso, é realizada com uma tal atenção ao pormenor que, ao vê-la, temos a plena sensação de estarmos a assistir a um documentário sobre o que é ser-se um jovem adulto no Japão dos anos 80.

TENCHI MUYOU!

Depois de uma série de OVAS (obra feita especialmente para vídeo) de grande êxito, os criadores do universo de Tenchi Muyou decidiram dar as rédeas de realização da versão televisiva a um jovem Hiroshi Negishi que, sem que ninguém esperasse, deu um toque muito pessoal à história e às personagens originais - e acabou por fazer uma série melhor que a original! Uma das obras pilares dos chamados "harem-anime", Tenchi Muyo é uma comédia deliciosa que, porém, é dirigida com enorme sensibilidade, chegando não raras vezes a fazer-nos vir uma lágrima ao olho. Se há série que prove a importância que um realizador tem na sua direcção criativa, é esta.

PARANOIA AGENT

Depois de duas brilhantes incursões na longa-metragem de animação, Satoshi Kon decidiu realizar um anime "para adultos", exibido num canal pago e a horas em que as crianças estivessem todas na cama, que abordasse as neuroses da sociedade japonesa com menos restrições (de orçamento, de censura) que a habitual produção televisiva tem. O resultado foi uma magnífica série de 13 episódios que nos mostra que uma série de TV pode ter a qualidade de argumento e realização de uma longa-metragem!


Menções honrosas: Dragon Ball, Escaflowne, Death Note, X, Lain, Boogiepop Phantom, Full Metal Alchemist, Naruto, Rurouni Kenshin, Wolf's Rain, etc.

Como é suposto "passar" a corrente a cinco pessoas, mas o blog ainda é "novo", deixo o desafio de continuarem o tópico:

À Ardelua
Ao Hugo
Ao Rui
Ao Noise Apático
À TV-Child



quarta-feira, agosto 01, 2007

MICHELANGELO ANTONIONI: 1912 - 2007


Parece mentira que, num espaço de um dia, dois dos maiores cineastas tenham desaparecido. Depois de Ingmar Bergman, perde-se o Mestre italiano Michelangelo Antonioni. Que dizer do autor que nos fez viver "A Aventura" do cinema de uma maneira completamente diferente daquela a que estávamos habituados? Ou do homem que nos fez crer que não estávamos a ver bem as coisas (e a sociedade) nesse enigmático "Blow-Up - A História de um Fotógrafo"? Pouco posso acrescentar aos inúmeros elogios que já lhe foram feitos. A filmografia de Antonioni fala por si - e os filmes falam ainda melhor.

A sua última obra de ficção foi o segmento, "Il filo pericoloso delle cose - O Fio Perigoso das Coisas", escrito por si e pelo seu habitual argumentista, parceiro criativo e amigo Tonino Guerra, para o filme "Eros", ao lado de duas outras short-stories sobre o erotismo assinadas por Steven Soderbergh e Wong Kar-Wai. Esta derradeira curta-metragem, bem como, obviamente, a longa de que faz parte, está escandalosamente inédita em Portugal (mesmo no mercado de DVD), e se alguma vez houve uma ocasião para corrigir essa aberrante falha, agora é a altura...

Como a poesia pode sempre ajudar a exprimir melhor a complexidade da alma humana, deixo aqui a letra que Caetano Veloso escreveu para a canção "Michelangelo Antonioni", o tema musical de "Eros", em homenagem ao realizador:

Visione del silenzio

Angolo vuoto

Pagina senza parole

Una lettera scritta sopra un visio

Di pietra e vapore

Amore

Inutile finestra

Biografia na Wikipedia

Ficha no IMDB

Artigo no site "Senses of Cinema"