"Film has the magic quality of being able to photograph thought" - Nicholas Ray, in "I Was Interrupted"
domingo, outubro 04, 2009
Geração perdida ou esquecida?
sábado, setembro 26, 2009
(Off-topic) Período de reflexão
quarta-feira, agosto 19, 2009
Há listas e listas, mas quando temos Tarantino envolvido...
domingo, junho 28, 2009
THE AUTEURS – Uma outra forma de lidar com a net

The Auteurs é um site norte-americano que fornece acesso a uma imensa selecção de filmes de qualidade para visionamento em streaming de óptima definição – nele podemos encontrar títulos tão distintos como “Dogville” de Lars Von Trier, “O Despertar da Mente” de Michel Gondry, “Mulholland Drive” de David Lynch, “A Aventura” de Michelangelo Antonioni e inclusive algumas obras portuguesas como “O Fatalista” de João Botelho.
Cinema de autor, cinema independente, alternativo/experimental, clássico e mainstream sem ser “desprovido de visão pessoal” constituem o núcleo duro do catálogo do site. Os filmes estão disponíveis online através de protocolos assinados com entidades tão reputadas como a editora norte-americana The Criterion Collection e a World Cinema Foundation de Martin Scorsese – estando os títulos restaurados por esta última, aliás, a ser disponibilizados gratuitamente (e para todo o mundo) no site num gesto de verdadeiro serviço público que só se pode aplaudir de pé.
O preço médio de cada visionamento (para Portugal) é de cinco euros, sendo que o utilizador tem direito a ver o filme escolhido por um número de vezes limitado. Para além do serviço de video-on-demand através da consulta do catálogo, a apresentação dos filmes também é feita através de ciclos temáticos organizados pela equipa do site, e estes são complementados com artigos e dossiers criados especificamente para as suas páginas. Também funciona como uma espécie de rede social baseada nos modelos do FaceBook, MySpace ou Hi-5, tendo como enfoque principal os gostos cinematográficos definidos no perfil de cada um dos utilizadores. Existe igualmente um fórum onde se discutem os mais diversos temas (até o cinema português!) e onde a conversa geralmente mantém um nível argumentativo sólido. No fundo, procura-se criar um espírito de comunidade cinéfila num espaço virtual onde se pode alugar filmes.
Apesar das várias virtudes deste projecto há, no entanto, alguns defeitos que não o tornam tão apetecível quanto poderia ser e que merecem ser mencionados:
1 – O preço dos downloads é, sobretudo para um mercado não propriamente rico como o português, manifestamente elevado. Cobrar cinco euros (aquele que era, até há pouco tempo, o preço normal de um bilhete de cinema por estas partes) pelo visionamento em streaming de um filme de catálogo que o utilizador não pode guardar é um exagero que irá afastar muitos espectadores que prefiram gastar um pouco mais (ou, em vários casos, o mesmo ou menos!) para comprar a obra em DVD numa loja física ou online. Se o objectivo do serviço é ser uma espécie de evolução dos alugueres clássicos feitos num vídeoclube, os preços praticados deveriam ser semelhantes, ou seja, nunca superiores a qualquer coisa como 2,5 euros. E quando ficamos a saber que os nossos congéneres norte-americanos pagam cinco dólares (cerca de 3.55 euros, à hora a que escrevo isto) pelo mesmo serviço...
2 – A tecnologia streaming é impecável, não tendo absolutamente nada a ver com a qualidade dos vídeos do YouTube, mas deveria haver a possibilidade de se guardar o filme visionado, nem que seja por um preço adicional. Percebe-se que o streaming tenha sido adoptado de modo a evitar uma subsequente pirataria dos filmes descarregados do site, mas seria preferível utilizar uma tecnologia que permita o armazenamento legal dos filmes. Um dos aspectos mais característicos da cinéfilia é, precisamente, o coleccionismo, uma vertente completamente impossibilitada pelo streaming.
3 – Apesar do notável esforço de se demarcar dos restantes sites de video-on-demand que só disponibilizam os seus filmes para download em territórios específicos, o catálogo à disposição dos internautas portugueses está ainda bastante limitado aos títulos da distribuidora Atalanta Filmes – existem algumas honrosas excepções como o “After Life” de Hirokazu Koreeda ou o “Akarui Mirai - Bright Future” de Kiyoshi Kurosawa, mas o grosso dos filmes são os mesmos que podemos encontrar numa FNAC na secção de Cinema de Autor a um preço um pouquinho mais caro do que aqueles praticados no site (com a diferença significativa do cliente poder guardar os DVDs e vê-los as vezes que desejar durante o tempo que quiser). Note-se que as razões para estas limitações apontadas pelos responsáveis pelo site são completamente válidas: como cada filme tem os seus direitos comprados para cada país por editoras distintas, é certo que é difícil negociar com todas estas e conseguir acordos razoáveis, sobretudo quando, nalguns casos, só se quer comprar os direitos de um filme específico; e sim, é óbvio que é mais fácil negociar um catálogo inteiro do que um título em particular. Mas falta ainda dar alguns passos para tornar a selecção verdadeiramente “completa”, e acredito plenamente que sejam dados com a evolução do serviço.
4 – Por último, quem não conseguir ler inglês fluentemente vai passar alguns maus bocados, já que nem todos filmes disponíveis são apresentados com legendas em português (muitas vezes, a única opção disponível é a de legendas em inglês para filmes cuja versão original não é falada na língua de Shakespeare). Seria igualmente salutar que o site pudesse oferecer o download das legendas de cada filme à parte consoante as preferências do cliente. Pode parecer uma piquinhice numa época em que o inglês assume o papel de “novo latim”, mas é mais um aspecto que pode ser melhorado e que ajudará a aliciar novos espectadores.
Não se pretende, com estas observações, denegrir os objectivos do site – pelo contrário, creio que “The Auteurs” é um passo em frente significativo e inteligente no combate à pirataria e à consolidação do video-on-demand como nova janela de exibição, simplesmente precisa de ser aperfeiçoado aqui e ali. Para um projecto que ainda está na fase BETA, só se pode elogiar aquilo que já se conseguiu.
Acima de tudo, nota-se que The Auteurs é feito e mantido por pessoas que nitidamente amam o cinema, que têm uma visão verdadeiramente cinéfila do relacionamento de um espectador com um filme – e este é um aspecto nada negligenciável nestes tempos que correm.
quarta-feira, junho 10, 2009
O espólio de um mestre
Bill got killed...

domingo, maio 24, 2009
João Salaviza ganha a Palma de Ouro para Melhor Curta-Metragem em Cannes!

quinta-feira, maio 21, 2009
terça-feira, maio 19, 2009
Globos de Ouro SIC (2009)
quarta-feira, maio 13, 2009
Os universos (televisivos) da crítica
segunda-feira, março 30, 2009
Pequenas Alegrias - Love Letter to Japan
domingo, março 29, 2009
"Espectadores de Elite" e "Espectadores Irrequietos"
“Na apresentação, em Lisboa, Serra, talvez com alguma ironia, apelidou-se o melhor realizador espanhol desde Buñuel, e queixou-se de uma incompreensão geral do público. Claro que os seus filmes estão reservados a uma elite. Uma elite esteticamente sofisticada, capaz de apreciar a beleza de uma boa fotografia, conhecedora da história do cinema e da sua cumplicidade com as outras artes, e sem sono. Os planos fixos, a montagem minimal, a reduzida acção, repudiam os espectadores mais irrequietos.”
Manuel Halpern, crítica a “O Canto dos Pássaros” de Albert Serra, in JL – Jornal de Letras e Ideias, nº 1004
Não sei o que é pior nesta citação. Não sei se é a típica vitimização do realizador (porque a culpa da má recepção de uma obra é sempre dos espectadores, esses malandros!, nunca do criador, que está sempre à frente do seu tempo...) misturada com uma auto-glorificação que não funciona nem como blague ou, antes, a curiosa descrição da “elite esteticamente sofisticada” que o crítico Manuel Halpern faz.
Acabei por me encontrar mais perturbado com esta assustadora ideia de uma espécie de “espectador de elite”, como se quem for “conhecedor da história de cinema, da sua cumplicidade com as outras artes” e não tiver sono não possa, de maneira alguma, não gostar deste filme. Como se quem aprecie fotografia e não tenha problemas com filmes mais “lentos” não posso achar esta obra oca e superficial porque, se o fizer, passa à categoria de “espectador irrequieto”, uma espécie de mentecapto que não pertence “à elite sofisticada” que sabe como se deve, verdadeiramente, apreciar o cinema. Esta é, simultaneamente, uma visão redutora das pessoas que participam nesse fabuloso ritual que é ver um filme e uma visão “clubista” da arte cinematográfica que só se pode lamentar.
segunda-feira, março 09, 2009
Vicky Cristina Barcelona - Cómica Angústia

Não consigo deixar de ficar impressionado com o modo desinteressado como algumas pessoas acolheram a mais recente obra de Woody Allen. Falou-se aqui e ali de uma obra menor, de um filme feito quase “de encomenda”, “a despachar”, com actores atraentes a fazerem bons números e o realizador a entreter-se filmando belas imagens de “bilhete postal” de Barcelona e de Espanha, faunas bem diferentes da sua mui familiar Nova Iorque, palco quase natural do seu universo cinematográfico. Em suma, uma comédia light agradável, estival, bem construída, mas esquecível e, sobretudo, irrelevante no contexto da obra de Allen.
Ora, não sendo “Vicky Cristina Barcelona” um “Annie Hall” (nem tendo obrigação de o ser), o que temos neste filme enganadoramente descontraído é um discurso incrivelmente angustiante sobre as relações amorosas, com um ponto de vista pessimista que faz lembrar algumas obras de Ingmar Bergman. Há comedia, sim, há vários momentos em que nos rimos alegremente do que se está a passar no ecrã – mas o modo como o realizador desconstrói dois pontos de vista absolutamente antagónicos sobre o amor (uma visão, mais “conservadora”, de Vicky e outra, mais “liberal” de Cristina) e nos mostra o imenso vazio das personagens após todos os acontecimentos atribulados por que passam no Verão que o filme relata relembra-nos de que estamos perante uma análise das relações humanas (e das nossas noções do amor) que não é nada superficial.
Como praticamente todos os filmes de Woody Allen, esta é uma obra que realça o trabalho dos actores, e é quase óbvio destacar a prestação premiada de Penélope Cruz como um exemplo de como é possível dar vida a uma cena só pelo modo como uma personagem se mexe. Mas gostaria de referir especialmente o trabalho de Rebecca Hall, cujo nome tem sido, por vezes, injustamente ofuscado pelos do restante elenco principal. Hall tem aqui uma personagem muito mais difícil do que parece - o de uma mulher intelectual, conservadora, repleta de conflitos internos e várias contradições. Seria muito fácil cair no cliché da mulher tradicionalista frustrada, mas Hall consegue conferir à personagem uma dimensão bem mais profunda com o seu desempenho. Nesse sentido, embora Scarlett Johansson não esteja mal, a sua performance não é tão rica em nuances e na exposição de um mundo interior mais perturbado do que parece como a de Hall – é um trabalho conseguido, mas bem longe dos resultados fabulosos obtidos em obras como “Lost in Translation” ou “Match Point”. Javier Bardem, por sua vez, desempenha o seu papel com charme e inteligência e consegue que o seu artista-macho-cool seja mais complexo e interessante do que se poderia pensar à primeira vista.
O argumento de que esta é uma visão turística de Barcelona também me parece algo bizarro – se a narrativa parte do ponto de vista de duas turistas norte-americanas que vêm ou desenvolver uma tese (Vicky) ou passar férias (Cristina) no coração da Catalunha, é natural que a imagem, adequadamente, siga um ponto de vista turístico, isto é, a de alguém exterior àquele mundo, que só o consegue conhecer parcialmente. O objectivo não é fazer um filme sobre a realidade de Barcelona, mas sim o de acompanhar aquelas duas mulheres na sua viagem exterior e interior. Está coerente com a história que se pretende contar e apetece dizer que estranho seria se fosse de outra forma.
Esperemos, pois, que o Óscar atribuído a Penélope Cruz permita alguma reavaliação do filme – ou, pelo menos, uma catalogação mais interessante do que a de simples “Postal Ilustrado”.
terça-feira, fevereiro 24, 2009
Slumdog Millionaire
sexta-feira, fevereiro 13, 2009
Nuno Bragança e uma sugestão...
quinta-feira, fevereiro 12, 2009
A Arte da Montagem - Uma Conversa entre Walter Murch e Michael Ondaatje


quarta-feira, janeiro 14, 2009
O que é a Montagem (I)
O enunciado teórico pode resumir-se à seguinte ideia: o posicionamento de um primeiro plano neutro em relação a um segundo plano neutro cria uma sequência cujo significado é inteiramente construído pelo espectador. Ou seja, a justaposição permite-nos estabelecer ligações entre dois planos que, por si só, nada dizem.
O seguinte vídeo ilustra o efeito na sua forma mais básica, procurando recriar a mesma sucessão de imagens montada por Kulechov a partir de planos do rosto do popular actor de teatro Mosjoukine posicionados com imagens tão diversas como a de um prato de sopa, a de um caixão de uma criança ou a de uma mulher deitada num divã:
Ainda hoje, o efeito Kulechov pode ser visto em toda a sua potência nas mais diversas obras audiovisuais contemporâneas (filmes, séries, clips, telenovelas, publicidade, etc). Veja-se a divertida explicação da aplicação prática do efeito dada por Alfred Hitchcock, que tão bem utilizou os princípios teóricos de Kulechov em toda a sua obra:
Uma versão mais alargada desta entrevista pode ser encontrada aqui. Há só que perdoar a má legendagem em castelhano...
* - É conveniente referir que a grafia do nome do realizador russo tem uma estranha variação conforme a língua dos textos que se consultar - em inglês, é habitual aparecer escrito como "Lev Kuleshov", com "s"; porém, os textos em francês costumam utilizar "Kulechov" - optei por utilizar a segunda hipótese, muito embora esteja consciente de que posso estar errado e de que não tenho quaisquer conhecimentos de russo que me permitam ter autoridade para determinar a transcrição correcta...