segunda-feira, julho 19, 2004

Só umas poucas palavras sobre "American Splendor"

 
Uma reposição oportuna no Ávila permitiu-me ver um daqueles filmes que, graças a esses inconvientes que consomem o nosso tempo, tinha deixado injustamente passar ao lado aquando da sua passagem pelos ecrãs portugueses - trata-se de "American Splendor" de Shari Springer Berman e Robert Pulcini, uma "adaptação" do comic-book underground homónimo de Harvey Pekar.

A BD em questão trata-se nem mais nem menos do que uma biografia do próprio Harvey Pekar, um average-middle-class-guy, arquivista num hospital suburbano e com um enorme sentido de auto crítica que, através do seu contacto com o cartoonista Robert Crumb (criador de "Fritz, the Cat", entre outros), decide passar as situações do seu quotidiano (incluindo as próprias pessoas com quem trabalha e se relaciona!) para as tiras de uma BD. O êxito é inesperado mas não tira Pekar da sua condição de slob mal-pago e depressivo. Quando Joyce, dona de uma loja de comics, lhe vem pedir o último número de "American Splendor", uma interessante (e pouco usual) relação nasce. Mas este é só o princípio de uma história mais ampla...

Não há que alongar muito. Mas tenho que dizer que "American Splendor" mistura, com invulgar sabedoria, o estilo do documentário (afinal, temos depoimentos das verdadeiras pessoas que surgem como personagens nos filmes, chegando mesmo a comentar as suas versão ficcionadas!) e uma ficção várias vezes hilariante e não poucas vezes tocante. É um "fresco" de uma América que não estamos habituados a ver, de um tipo de gente que raramente surge no grande ecrã de cinema tão bem retratada nos seus melhores e piores momentos. Tudo com uma banda-sonora de Jazz que mais parece uma fabulosa compilação do melhor que este estilo músical gerou desde o seu nascimento. É a música de que Harvey gosta, e nós agradecemos. Tal como agradecemos o soberbo trabalho dos actores (Paul Giamatti, não sendo 100% fisicamente semelhante a Harvey Pekar, captura a sua essência e maneira de ser com uma precisão que é preciso ver para se acreditar - sobretudo quando se pode, dentro do mesmo filme, comparar o actor com o próprio Pekar!) e a realização soberba do casal Berman-Pulcini.



"American Splendor" é bom, muito bom mesmo. Aqueles que têm saído desiludidos das recentes adaptações de vários comics da Marvel poderão aqui (e no excelente "Mundo Fantasma") reconciliar-se com a BD norte-americana e respectivas transposições para o cinema. Mas não posso deixar de achar curioso que são as adaptações de material mais "underground" que melhor têm funcionado ultimamente...
 
Site oficial: http://www.americansplendormovie.com/main.html

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