sábado, agosto 14, 2004

Dossier: A Questão Michael Moore - Operação Toucinho Canadiano (Parte IV de VI)


Depois da sua incursão no documentário cinematográfico com “Roger & Eu” e no mundo da TV com a primeira temporada de “TV Nation”, Michael Moore decidiu largar (temporariamente) a sua veia documentarista e experimentar a ficção com uma sátira política completamente nonsense – chamou-se por cá Operação Toucinho Canadiano. E não resultou tão bem quanto isso nem na bilheteira nem na página da crítica de cinema.


O plot é simples: o presidente dos Estados Unidos da América (Alan Alda) depara-se com uma situação de impopularidade tremenda. As eleições não estão muito distantes e se algo não for feito rapidamente, o partido arrisca-se a uma estrondosa derrota. O que fazer então para distrair a atenção do público Americano e garantir uma subida de popularidade? Declarar uma guerra fria ao Canadá (isto porque os Russos estão numa de investir nas infra-estruturas e na educação e não têm nem tempo nem dinheiro para mais uma guerra fria...)! O problema é que o que começa como sendo simplesmente uma “guerra de papel” acaba por descambar numa guerra a sério quando o xerife Bud Boomer (o falecido John Candy) e a sua amada Honey decidem fazer justiça pelas suas próprias mãos e realizarem a sua própria invasão ao Canadá!

Se em “Bowling for Columbine” Michael Moore viria a abordar os temas da cultura do medo, da influência das indústrias de armamento e o contraste entre as realidades sociais norte-americanas e canadianas, bem que se pode dizer que já neste filme se assistia a um “ensaio” de tais temáticas. O realizador brinca com os estereotipos que existem sobre americanos e canadianos, usando-os para efeito cómico - o povo norte-americano (mas, sobretudo, o poder político e militar norte-americano) é retratado como sendo completamente ignorante da realidade do seu país vizinho, enquanto que o Canadá é apresentado como um país de pessoas de uma boa vontade inacreditável, incapazes de ficarem violentos mesmo perante os maiores insultos... a não ser que estes sejam dirigidos à sua cerveja ou equipa de hóquei nacional!


O que falha no filme é o seu (assumido) exagero burlesco. Embora Moore queira criar uma farsa política na onda de “Dr. Estranhoamor” de Stanley Kubrick, muitas das suas qualidades acabam por se perder nalguns gags mais óbvios e básicos. A ideia da “criação de uma guerra a todo o custo” para reconquistar as eleições é original, mas seria melhor explorada em filmes como “Manobras na Casa Branca” de Barry Levinson; enquanto que a invasão do Canadá seria retomada em moldes ainda mais ácidos no delicioso "South Park - O Filme" de Trey Parker e Matt Stone (que, por acaso, até são amigos de Moore). No entanto, há que realçar alguns diálogos particularmente inteligentes que por vezes vão surgindo, como é o caso daquele semi-profético em que o presidente dos EUA despreza completamente a possibilidade de existirem ameaças terroristas!

Não é um filme excepcional, e é a confirmação de que Moore é muito mais um documentarista do que um ficcionista. Mas não deixa de ser um filme curioso, com alguns pontos fortes que tornam o seu visionamento bastante agradável.


Já agora, mantenham os olhos bem abertos e estejam atentos durante todo o filme: entre outros, há para descobrir cameos de James Belushi (como um reporter de TV para a “NBS”), Dan Aykroyd (num pequeno mas hilariante papel como polícia canadiano) e do próprio Michael Moore como um manifestante que idolatra Bud Boomer!

Operação Toucinho Canadiano (Canadian Bacon)
Comédia, 1995, EUA.

Argumento e realização: Michael Moore
Elenco: John Candy, Alan Alda, Rhea Pearlman, Kevin Pollack, Rip Torn, Kevin J. Connor,
Produção: David Brown, Ron Rotholz, Michael Moore
Dir. de fotografia: Haskell Wexler
Música: Elmer Bernstein & Peter Bernstein
Montagem: Wendy Stanzler, Michael Berenbaum

Disponibilidade:

O filme já passou no Canal Hollywood algumas vezes, e o IMDB atribui-lhe um certificado de “para maiores de 12 anos” para o território Português, mas desconheço qualquer edição nacional em DVD do mesmo.


Quem procurar edições estrangeiras também não terá muito por onde escolher: as edições americanas, inglesas e francesas são praticamente iguais (só a inglesa é que dispensa umas legendas em espanhol e francês) e, de conteúdos adicionais, só têm mesmo a trailer...

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